“É a verdade mais terrível que já houve!”
Emília
realmente acreditava que estava fazendo uma coisa boa, indo até a Casa das
Chaves na esperança de “desligar” a Chave da Guerra, mas toda a confusão que
causou ao virar, por engano, a
Chave do
Tamanho, está custando muitas vidas: não apenas no Sítio do Picapau Amarelo
e em Tucanos, mas em todo o mundo! É uma abordagem bem diferente, afinal, do
livro de 1942, no qual Emília defende o
encolhimento
até o final, e tem até um plebiscito que acontece na Casa Branca para decidir
se a Chave do Tamanho é desvirada ou não – aqui, na adaptação de 1981 do
“Sítio do Picapau Amarelo”, Emília está
contente enquanto acredita que
acabou com
as guerras, mas enquanto mais e mais pessoas vão morrendo por motivos que
antes eram insignificantes, nos preparamos para o momento em que a bonequinha
terá que enfrentar as consequências de seus atos.
Ela fica arrasada quando percebe o que fez.
O pessoal do
Sítio do Picapau Amarelo continua vivendo em cima de uma cômoda na sala,
enquanto o Rabicó continua negligenciando a sua função, que seria ficar ali e
tomar conta para que nenhum bicho se aproxime deles… depois de mais uma sumida
do Rabicó, a Dona Benta precisa lhe dar uma bronca e lembrá-lo que, se ele
gosta
mesmo deles, ele precisa estar
ali, ou então o passarinho que a Narizinho salvou ou algum outro animal pode
entrar ali e os matar… enquanto isso, o Visconde continua procurando a Emília
para consertar toda essa confusão, sem sucesso, e então ele comunica à Dona
Benta a sua decisão:
ele vai criar o seu
próprio faz-de-conta e, assim, ir sozinho para a Casa das Chaves, e então ele
consegue “parar toda essa catástrofe”. É claro, no entanto, que criar um
faz-de-conta próprio
não é a coisa mais
fácil do mundo.
Alguma coisa
precisa acontecer depressa, ou então
ninguém
mais vai sobreviver… o Zé Carneiro e o Garnizé já desceram da cômoda pela
teia de aranha para buscar o Tio Barnabé e o João Perfeito, e a própria Dona
Benta não tem muitas esperanças para o futuro – ela fala sobre como eles já
estão habituados à vida moderna, com coisas como
água encanada, e diz que eles não poderiam sobreviver a essa nova
forma de viver, tendo que se acostumar a uma vida
primitiva, inclusive sem remédios, além do perigo constante de ser
devorado por um animal pequeno como um pássaro… Dona Benta, inclusive, fala a
respeito do Rabicó e do Visconde de Sabugosa, que são seus vigiar, nesse
momento, mas que não poderão passar
o
resto da vida tomando conta deles, e no momento em que um deles descuidar,
talvez algum animal (como um cachorro) os ataque…
E eles não terão chance alguma.
Enquanto
isso, Emília continua com as suas crianças, Juquinha e Candoca, se perguntando
o que fazer – devido à ausência das formigas no formigueiro, ela se pergunta se
eles devem ficar ali e se proteger dos perigos lá de fora, ou sair, antes que
elas retornem. Juquinha até fala alguma coisa de ter ouvido dizer que
quando as formigas abandonam um formigueiro,
elas não retornam, mas Emília refuta sua ideia, perguntando se ele já foi
formiga ou se tem algum
parente formiga
para saber disso, e então fala que elas podem ter tirado umas férias, já que
formigas são animais que trabalham muito, e até as imagina se bronzeando na
praia, de óculos escuros… portanto, ela decide que eles devem sair do
formigueiro antes que elas retornem, e embora ela planeja ir andando de volta
ao Sítio do Picapau Amarelo, eles acabam encontrando uma cobra no meio do
caminho.
E eles
precisam voltar.
“Como eu sempre disse, aqui estamos seguros”
Então,
Emília muda seu discurso (eu amo essa bonequinha e a sua dissimulação!), e diz
que ali eles estão seguros porque “quando as formigas abandonam um formigueiro,
elas não voltam”, e quando Candoca diz que foi o Juquinha quem disse isso, ela
revida:
“Foi você que disse, mas fui eu
que pensei”. Sem saber o que fazer de fato, e sem gostar de ficar parada,
Emília logo muda de ideia, porque não tem certeza de que as formigas não vão
voltar, e então eles tentam sair de novo, mas a cobra os seguiu até ali e está
esperando que eles saiam para poder capturá-los, o que deixa a Emília revoltada
e dizendo uma das melhores linhas da história:
“Mas que cobra enojada! Será que não tem o que fazer essa cobra, não?
Dar banho nas cobrinhas? Fazer comida para o cobrão? Ir para a manicure? Ah!
Essas cobras desocupadas me irritam terrivelmente! Toda cobra devia ter um
emprego fixo!”
Agora,
Emília e as crianças estão em um impasse: não podem ficar no formigueiro,
porque as formigas podem voltar; não podem sair, porque a cobra está lá fora; o
que fazer? Emília planeja esperar e torcer por uma guerra entre cobra e
formigas, mas se pergunta o que acontecerá se
eles nem forem inimigos e tiverem um bom relacionamento social…
então, depois de um tempo de espera, eles finalmente conseguem sair do
formigueiro e são carregados por um vento muito forte, ao qual a Emília pede
uma carona para o Sítio do Picapau Amarelo
– ali, Emília acaba se separando de Juquinha e Candoca, que, por sua vez,
acabam chegando até o buraco na parede no qual o pessoal de Tucanos está
vivendo, e quando eles acabam confirmando o que os adultos daquele lugar já
desconfiavam (que a Emília é a causadora disso tudo),
todos se voltam contra a bonequinha, e querem vingança.
As crianças, assustados, fogem.
Emília
consegue a carona que pedira ao vento e chega ao Sítio do Picapau Amarelo, e eu
achei aquela uma cena de
partir o coração…
Emília chega toda feliz, acenando, mas então escuta o Visconde conversando com
a Dona Benta e, enquanto escuta o que eles dizem, seus bracinhos abaixam,
melancólicos – Visconde fala sobre os amigos que estão desaparecidos e que eles
nem sabem se sobreviveram; fala sobre a população de Tucanos e todos que
morreram por lá; fala sobre a humanidade correndo o risco de terminar; e,
então, Emília precisa enfrentar as consequências do que fez.
“E tudo
isso por quê? Porque a Emília resolveu acabar com as guerras indo até a Casa
das Chaves e, ao invés de virar as Chaves da Guerra, o que ela virou? Virou a
Chave do Tamanho. Olha, Dona Benta, quanta desgraça! É um pesadelo! O mais
terrível pesadelo que já houve. Não, não é. É verdade. É a verdade mais
terrível que já houve!”
Vemos a
verdade tomando conta da bonequinha na sua expressão culpada e horrorizada:
“Milhões… milhões de inocentes. E eu fui a
causadora disso! Mas eu vou dar um jeito nisso!” Então, sem falar com
ninguém no Sítio, Emília parte imediatamente para a Cassa das Chaves, para
devolver o tamanho às pessoas, mas a Chave agora é muito alta e muito pesada
para ela, e ela não consegue alcançá-la… por isso, Emília e Visconde acabam se
desencontrando. Emília retorna ao Sítio do Picapau Amarelo, para pedir a ajuda
do sabugo de milho, que é grande e vai poder virar a chave com facilidade… o
Visconde, por sua vez, conseguiu usar o faz-de-conta sozinho, e então ele chega
à Casa das Chaves, pouco depois de a bonequinha ter partido. Enquanto Emília
procura por Visconde no Sítio, o Visconde tenta refazer o pensamento de Emília,
para saber que chave ela virou.
Antes que
ele vire a Chave do Tamanho (que ele chama de “a chave que desgraçou a
humanidade e matou milhões), no entanto, ele é impedido por um homem, um tipo
estranho e temperamental, que quer impedir o Visconde de virar qualquer chave –
mas que o desafia, dizendo que
se ele
adivinhar quem ele é, ele pode resolver todo o problema do seu planeta. A
sequência é um desastre e o adivinho vaidoso e o sábio sabugo acabam entrando
em uma espécie de desafio que é finalmente vencido pelo Visconde de Sabugosa,
quando o velho vaidoso erra uma “adivinhação” e também não sabe a resposta para
uma charada que o Visconde lhe faz… então, com a vitória de Visconde, ele pode
pedir
qualquer coisa para o
misterioso e estranho senhor, e tudo o que ele pede é que ele vá embora da Casa
das Chaves e não retorne.
Emília,
enquanto isso, busca pelo amigo vegetal – caminha pelo Sítio, por Tucanos, e
chega até ao buraco na parede no qual eles estão morando, e é uma sequência
desesperadora, porque
eles estão morrendo
de raiva dela e loucos para
fazer
justiça com as próprias mãos – eles até a amarram, enquanto se reúnem para
decidir
que castigo vão dar à bonequinha,
e quando o Visconde aparece por ali, perguntando se eles viram a Emília, eles
mentem e a mantêm escondida, dizendo que
ela
não passou por ali… agora, Emília está presa nas mãos de uma turba irada
(oi, Klaus!), enquanto o Visconde a procura em todos os lugares, sem nunca
poder encontrá-la… os dois precisam estar juntos para consertar todo esse
problema e, quem sabe, até salvar a vida das pessoas que acabaram morrendo de
um jeito ou de outro…
como eles farão
isso?
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