Sítio do Picapau Amarelo (1981) – A Chave do Tamanho: Parte Final

“Se o tempo pudesse voltar atrás, Visconde…”

A CONCLUSÃO DE “A CHAVE DO TAMANHO” e mais alguns momentos icônicos e divertidos da nossa querida bonequinha Emília. Desde que Emília virou, por engano, a Chave de Tamanho na tentativa de acabar com as guerras para que a Dona Benta pudesse ficar feliz mais uma vez, uma tremenda confusão se espalhou pelo mundo, muitas vidas foram perdidas, e simplesmente desvirar a Chave do Tamanho não parece ser a resposta mais adequada para todo o problema… por isso, Emília e Visconde precisam pensar em algo para salvar a vida de todo mundo – isso depois de o Visconde finalmente ter conseguido livrar a bonequinha de seu cativeiro, onde ela estava sendo mantida por um enfurecido grupo de sobreviventes de Tucanos. Visconde vai até o buraco na parede e diz que, se eles não entregarem a Emília agora mesmo, ele vai deixá-los sem água e comida.

Assim, Emília está bem e à salvo, de volta ao Sítio do Picapau Amarelo, graças ao Visconde de Sabugosa – falando no Visconde, eu adoro o destaque que “A Chave do Tamanho” dá a ele, e ele tem ótimos momentos nessa última parte da história, mas eu senti falta de vermos o pessoal morando em um pequeno sítio improvisado em sua cartola… teria sido tão bonitinho. Agora, no entanto, já estamos perto do momento de resolver todo esse problema, com as pessoas voltando ao seu tamanho original. Emília diz que “é só levar o Visconde à Casa das Chaves e virar novamente a chave e tudo estará resolvido”, mas Narizinho lembra a boneca que isso não é assim tão simples, porque muitas pessoas morreram ou desapareceram, e então diz uma coisa bem dura para a boneca, em um momento de raiva: “Você já passou dos limites. Você não é mais minha boneca”.

Emília fica sentidíssima, e Dona Benta tem uma conversa bem racional com a neta, em um diálogo muito bem-escrito, no qual ela diz à Narizinho que entende que ela esteja triste por causa do que aconteceu com o Tio Barnabé e com todos os outros, mas pergunta à menina se a melhor maneira de lidar com isso é fazendo a Emília ficar triste também. Depois, ela joga com a Narizinho, dizendo que se ela realmente não quer mais ser a dona da Narizinho, então a melhor solução é dá-la para alguém, e isso a deixa bem pensativa. Dona Benta diz que ela precisa “pensar bem direitinho” antes de tomar uma decisão séria como essa, mas também diz que a boneca é sua e a decisão, portanto, também, e é ela quem resolve o que é o melhor a se fazer. Enquanto isso, Emília anuncia que, como Narizinho não a quer mais, agora ela é a boneca da Candoquinha.

“Bom proveito, Candoca!”, Narizinho diz, inconformada.

Enquanto isso, Pedrinho acaba sendo comido pelo mesmo gato que comeu o Zé Carneiro e o Garnizé, e os três se encontram vivos no estômago do bichano, enquanto Dona Benta e os demais pedem que o Visconde encontre o gato e examine a possibilidade de o Pedrinho e os demais ainda estarem vivos. Então, o Visconde acaba encontrando o gato que os devorou e consegue conversar com eles (?), e depois que o Rabicó também ajuda a salvar a vida deles, afastando um cachorro que estava prestes a atacar o gato em cima da mesa, onde o Visconde o tinha deixado para ir buscar uns livros, Visconde acaba guiando Pedrinho, Zé Carneiro e Garnizé para a liberdade, indicando o caminho para que eles saiam de dentro do gato de volta pela boca… então, eles ficam muito felizes em estarem vivos, e podem se reunir com o restante da turma.

Depois da extração, Emília e Visconde vão para a Casa das Chaves, para descobrir qual foi a Chave que a Emília virou e desvirá-la, e então acabar com isso de uma vez, mas o Visconde acaba se interrompendo antes de virar a chave, em um diálogo maravilhoso com a Emília, a bonequinha mais divertida e dissimulada do mundo!

 

“Meu Deus! Puxa vida, Emília! Eu não posso, eu não posso fazer com que as pessoas voltem a ter seus tamanhos normais. Eu não posso, Emília, não posso”

“Mas por quê? Se é por falta de ordem, eu ordeno!”

“Emília, para com isso! Nós íamos cometer um crime!”

“Nós? Por que ‘nós’? Você que ia virar a chave… aliás, um crime terrível, Visconde! Francamente! Mas que falta de responsabilidade!”

 

O Visconde explica, então, que eles não podem simplesmente desvirar a chave, ou então muitas mais pessoas vão morrer, como morreram quando a chave foi virada pela primeira vez… afinal de contas, o pessoal do Sítio estaria em cima de um móvel frágil que não suportaria o peso deles, por exemplo, e podiam acabar se machucando. Os sobreviventes de Tucanos, que estão vivendo dentro de um buraco na parede, acabariam entalados, sendo muitos e grandes demais para o espaço… então, enquanto a Emília continua insistindo, dissimuladamente, que “o crime seria apenas do Visconde”, eles voltam para o Sítio e para Tucanos, para colocar as pessoas de volta em lugares nos quais seria seguro voltar ao seu tamanho normal… e, nesse retorno, o pessoal pede que Visconde examine a barriga do rato que comeu o Tio Barnabé, na esperança de que ele esteja vivo, mas ele anuncia:

“Lamento muito, Tia Nastácia, mas perdemos o Tio Barnabé”

Essa era a gota d’água, a última coisa que Emília precisava para entender que não pode simplesmente desvirar a chave e esperar que tudo fique bem. Quando o Visconde está prestes a desvirar a Chave do Tamanho, Emília o impede e diz que “em nome do Tio Barnabé, da família da Candoca e do Juquinha, dos moradores de Tucanos e de toas as pessoas que morreram pelo mundo, ele não pode virar a chave”. Afinal de contas, ela tem que encontrar uma maneira de salvar a vida de todas as pessoas e, com a voz chorosa, ela diz que “também tem um coração”. Se ali existem tantas chaves e chaves para tudo, será que ela não encontra uma chave para ressuscitar as pessoas? O Visconde acha essa uma boa ideia, mas, infelizmente, eles não encontram nenhuma chave de ressuscitação, e então eles se perguntam o que eles vão fazer agora.

Porque Emília se recusa a voltar embora até resolver o problema… afinal de contas, ela é a responsável pelo que aconteceu e quer consertar seu erro. Triste, ela tenta dizer que não teve culpa ou, pelo menos, que não fez por mal, porque só estava pensando em Dona Benta e no quanto ela estava triste com as notícias da guerra, e só quis ajudar – e é verdade, e é isso que faz com que não odiemos Emília e fiquemos com pena dela. “Se o tempo pudesse voltar atrás, Visconde, eu juro que não ia nunca mais me meter nesse negócio de chave, eu juro!”, e, então, sem querer, Emília tem a ideia que precisava: A CHAVE DO TEMPO. Eles podem fazer o tempo voltar e então tudo o que aconteceu será desfeito… o problema é que eles correm o risco de a Emília ficar inconformada com as guerras novamente e acabar, mais uma vez, na Casa das Chaves.

Afinal de contas, ela não se lembrará de nada disso se o tempo voltar…

E se tudo acontecer mais uma vez?

De todo modo, mesmo com os riscos, e é a única e a melhor ideia que eles têm, e então encontram, no fichário, o número da Chave do Tempo: 22. Para saber qual é a Chave 22, então, o Visconde procura, no fichário, o número da Chave do Tamanho, que Emília virou pensando ser a Chave da Guerra: 18. Assim, ele consegue identificar a Chave 22, e tem mais alguns questionamentos e angústias antes de virá-la… ele não sabe, por exemplo, para que lado virar. Se ele virar para a frente, eles iriam parar no futuro e isso seria catastrófico… se ele virar para trás, ele teme que a história se repita e eles acabem novamente na Casa das Chaves. De qualquer maneira, ELE VIRA A CHAVE, NA ESPERANÇA DEQUE DÊ TUDO CERTO, e então o tempo volta, volta para quando Emília estava inconformada com “esse negócio de guerra e bomba”, prometendo que “ia acabar com isso”.

Estamos lá no início da história novamente, quando, inconformada e procurando uma solução, Emília pergunta para um Visconde distraído o que ela poderia fazer, e o diálogo transcorre como da primeira vez, até que o Visconde diga “A lenda diz…” e se detenha, antes de mencionar a Casa das Chaves. O Visconde tem uma sensação estranha de déjà-vu e pergunta: “Emília, nós não já tivemos essa conversa?” Emília garante que não, mas o Visconde, que se mostrou um interessante adivinho na Casa das Chaves, acertando, no chute, o número da Chave do Tempo numa brincadeira promovida pela Emília, também “adivinhou” isso, de alguma maneira, e então ele pode impedir que toda a história e todas as mortes e tragédias aconteçam de novo. Rindo, Visconde não fala sobre a Casa das Chaves dessa vez, enquanto celebra sem parar, gritando pela casa…

“Poxa, que sorte minha! Eu me lembrei! Que sorte!”

E, assim, todos os problemas são resolvidos e não voltarão a se repetir!

 

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