Hamilton

“I’m just like my country, I’m young, scrappy and hungry, and I’m not throwing away my shot”

CARAMBA, QUE MUSICAL BOM! “Hamilton” é um verdadeiro marco do teatro musical, e quando você o assiste, é impossível não perceber o porquê de ele ser tão amado… “Hamilton” é inusitado. Inteiramente cantado, o musical reflete uma parte da história dos Estados Unidos, narrando a história de um de seus pais fundadores, Alexander Hamilton, no período que se estende de 1776 a 1804 – confesso que não é uma sinopse que chamaria a minha atenção. O brilho de “Hamilton” está nas músicas incríveis, coreografias perfeitas, staging maravilhoso, e nas escolhas de como contar essa história… embora visualmente reflita o século XVIII e XIX, quando a história se passa, o vocabulário e os estilos das canções são extremamente modernos, além das ocasionais quebras de quarta parede e o fato de atores negros e latinos terem sido escalados para figuras histórias de homens brancos. É toda uma sensação diacrônica que deixa a experiência muito mais interessante!

“Hamilton” é um musical de Lin-Manuel Miranda: é dele o texto, baseado em uma biografia de Alexander Hamilton escrita por Ron Chernow, e também é dele a música e letra de todo o musical, e gosto muito de como ele caracteriza “Hamilton” como “um musical sobre os Estados Unidos daquela época, contado pelos Estados Unidos de agora”. O musical foi encenado pela primeira vez em 2013, chegou no circuito Off-Broadway em 2015, e estreou na Broadway no mesmo ano… é um dos musicais de maior sucesso atualmente em cartaz (bem, estaria em cartaz se os teatros estivessem abertos… mas é um dos retornos mais aguardados para 2021), e sua versão da Broadway ganhou 11 dos 16 Tony Awards ao qual foi indicado, dentre eles “Melhor Musical”. Em 2020, uma versão filmada foi lançada no Disney+, aumentando a popularidade do musical!

É realmente apaixonante. Assisti e as músicas estão incessantemente tocando na minha cabeça, e isso que eu ainda nem baixei o álbum nem nada assim… particularmente, eu ADOREI as músicas. Musicais inteiramente cantados ou você quer ouvir para o resto da vida ou só funcionam no palco, mas não no Cast Recording. Exemplos são “Next to Normal”, que eu adoro ouvir o tempo todo, amo aquelas músicas, e “Les Misérables”, que eu acho lindo no palco, mas cujo álbum eu não escuto, porque poucas daquelas músicas eu realmente gosto de ouvir fora da experiência de assistir ao musical… mas é, naturalmente, uma preferência pessoal. Pensei em “Les Misérables” no início de “Hamilton”, em toda a questão revolucionária e tal, mas a concepção musical de “Hamilton” é completamente diferente, e me envolveu de uma maneira gostosa.

Assisti quase que o tempo todo com um sorriso no rosto, encantado com o que via. O musical é inteligente, e você tem que prestar muita atenção para acompanhar… como é inteiramente cantado, moderno e algumas partes bem rápidas, você tem que estar 100% atento para não perder nada… anos se passam em uma única música, e você precisa acompanhar. Me pergunto se é mais fácil para os estadunidenses que estudam a história do país na escola, ou se é o contrário, na verdade, e estudar a história do país vai ser mais fácil e interessante para alguns jovens por causa de “Hamilton”. A julgar pelo Simon em “Leah Fora de Sintonia”, da Becky Albertalli, é essa segunda opção. De todo modo, a história é compreensível, bem contada, e se inicia em 1776, o ano da Declaração da Independência dos Estados Unidos, e narra a trajetória de Alexander Hamilton, seus cargos e contribuições para a história dos Estados Unidos, sua ascensão, sua queda e, por fim, sua morte em 1804.

A versão lançada no Disney+ conta com quase todo o elenco original da Broadway, dentre eles o Lin-Manuel Miranda no papel de Hamilton, e ele está impecável… carismático, intenso e divertido, eu ainda não consigo imaginar outro ator no personagem; Christopher Jackson no papel de George Washington; Leslie Odom Jr. no papel de Aaron Burr, tão protagonista quanto o próprio Hamilton; Phillipa Soo no papel de Eliza e Renée Elise Goldsberry (MIMI!) no papel de Angelica Schuyler. Aqui nota-se claramente a escalação de não-brancos nos papéis históricos, o que eu achei uma das melhores escolhas de “Hamilton”. Também destaco, é claro, Jonathan Groff no divertido papel do Rei George III, um monarca maluco e hilário com poucos, mas excelentes, momentos durante o musical… e eu pensei muito no Lorde Farquaad na versão musical de “Shrek”.

São tantas músicas que eu adorei (por isso eu vou escrever um outro texto no qual falo mais sobre isso), mas preciso destacar algumas para finalizar esse primeiro texto: a primeira música que eu ouvi e amei foi “My Shot” (os versos “I am not throwing away my shot / I am not throwing away my shot / I’m just like my country / I’m young, scrappy and hungry / And I’m not throwing away my shot” estão tocando repetidamente na minha cabeça desde que eu assisti ao musical); eu também amei as músicas interpretadas por Angelica e Eliza, com destaque para aquela sequência de “Helpless” e “Satisfied” que é, possivelmente, uma das melhores sequências de todo o musical, tudo é perfeito, da música e vozes ao jogo de palco e tempo; e, é claro, a melancólica e bonita “Who Lives, Who Dies, Who Tells Your Story”, que encerra o musical… perfeita para aquela sensação de “eu não quero que acabe”.

Musical lindíssimo!

 

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