A Caminho da Lua (Over the Moon, 2020)

“Love someone new”

Um belo conto sobre o amor, a perda e o momento em que você tem que abrir o seu coração e aprender a amar novas pessoas“A Caminho da Lua” é uma animação musical lançada pela Netflix, com algumas músicas bonitas e envolventes, um hall de personagens carismáticos (com destaque, pelo menos para mim, a Chin e Gobi) e uma animação bem viva e colorida, construindo todo um cenário muito bom para contar a história de uma garota, Fei Fei, que alguns anos depois de perder a mãe, vê o pai começando a se interessar por uma outra mulher… e, inicialmente, ela não entende e não aceita, acha que é uma traição ao amor que ele e a Ma Ma tinham, e é por isso que ela precisa entrar em uma jornada mitológica até a lua, em busca de Chang’E, na esperança de que possa ensinar algo para o pai – no fim, quem acaba aprendendo algo é ela mesma.

A introdução do filme é uma graça, e me faz pensar um pouco em “Up” – não por semelhanças na história, propriamente dita, mas pelo conceito todo de algo bonito, feliz, que acaba com a morte de um ente querido. A família nos é apresentada olhando para a lua no quintal de casa, em uma conversa muito bonita na qual a Ma Ma conta a Fei Fei a história Chang’E, e eu adoro como esses filmes conseguem trazer um pouco da cultura de seus países, porque eu não conhecia Chang’E, a deusa chinesa da Lua… e a história é muito bonita! Chang’E é uma mulher que vive na lua, depois de tomar uma poção da imortalidade e perder o amor de sua vida, Houyi, que morreu aqui na Terra há muito tempo – acredita-se que ela está lá em cima nesse exato momento, esperando pela volta do seu grande amor… uma história trágica e romântica que Fei Fei compara à de seus pais.

Porque, com o passar dos anos ao som de “Mooncakes”, a mãe de Fei Fei adoece, morre e, quatro anos depois, Fei Fei já voltou a ser uma garota alegre, cheia de ideias, até que ela é confrontada com uma nova realidade: uma namorada para seu pai; com direito a um irmãozinho arteiro, Chin, que faz coisas como soltar um sapo na cozinha e correr de cabeça contra uma parede, achando que pode transpô-la. Fei Fei não quer nem saber do pai namorando outra pessoa, por isso planeja ir até a lua (!), onde poderá encontrar Chang’E e provar para todo mundo que ela é real, e talvez, então, o pai se lembre de sua mãe e do amor que eles sentiam um pelo outro, e desista dessa ideia. Eu gosto muito da determinação e do início da jornada de Fei Fei, que só consegue, de fato, chegar até a lua (levando consigo o irmãozinho entrão) com a ajuda da própria Chang’E.

Dali em diante, parece que o filme muda drasticamente, o que me deixou até confuso em relação às minhas opiniões, a princípio. Chang’E é representada de uma forma bastante moderna, ao som de “Ultraluminary”, e o filme se enche de cores, de criaturas mitológicas, de bolinhas da lua que falam, e uma caça ao tesouro que é uma condição d Chang’E: ele quer um presente, mas um presente em específico, e só assim ela entregará a Fei Fei uma foto que elas tiraram, para que ela possa provar ao pai que Chang’E existe – durante a jornada em busca do misterioso e desconhecido presente, Fei Fei conhece Gobi, uma criaturinha fofa e carismática, no melhor estilo sidekick de animação (sabe, o Burro Falante do “Shrek” ou o Olaf em “Frozen”), que a ajuda, a acompanha, canta uma música linda para ela (“Wonderful”) e a ajuda a entender um pouco mais de Chang’E.

Toda essa parte aventuresca e colorida chama a atenção visualmente e certamente terá um apelo gigantesco para crianças – como a partida de pingue-pongue de Chin e Chang’E ou o voo em sapos gigantes de Fei Fei e Gobi. Para a história do filme e a beleza de sua mensagem, no entanto, importa o entendimento de Fei Fei, que vem, afinal, com o entendimento da própria Chang’E de que ela não poderia mais estar com Houyi. O presente que Chang’E buscava era a metade de seu amuleto, que Fei Fei encontra no bolinho da lua que a nova namorada do pai lhe dera, e isso permite que Chang’E reencontre o seu amado. Depois de uma música emocionante (“Yours Forever”), no entanto, Chang’E percebe que Houyi não é material e ele não poderá ficar, mas ele lhe diz algo importante: que ela precisa seguir em frente… algo que ela não entende, no momento.

Depois de um momento de profunda tristeza, tanto de Chang’E quanto de Fei Fei, que é bem representado com as duas isoladas, abraçando os joelhos e chorando, em silêncio, elas entendem o que Chin e Gobi representam, afinal… ao som de “Love Someone New”, que é de longe A MELHOR MÚSICA DO FILME, as duas ajudam a outra a entender o que é o amor e onde ele está. Chang’E ajuda Fei Fei a entender que é hora de ela deixar a vida seguir, e que se ela encontrar uma maneira de dar amor, ela encontrará a família, e mesmo que não seja da mesma forma que era antes, será sua família. Gosto, particularmente, da parte da música que diz “If you give love, you’ll never lose love, it only grows more and more”, porque aceitar o namoro do pai e o seu novo “irmãozinho” não significa desrespeitar a mãe ou esquecê-la: ela sempre vai amá-la e, por mais que doa a sua ausência, seu espírito sempre estará lá.

Isso não significa, no entanto, que ela não possa amar alguém novo…

O amor sempre pode crescer… amor não se substitui, se adiciona.

A sequência é LINDÍSSIMA, certamente o momento mais emocionante do filme, e fiquei muito feliz em ver o Chin fazendo de tudo para invadir aquele lugar, “sem barreiras”, para salvar a sua irmã – e o abraço dos dois, quando ela finalmente entende e aceita esse amor. Da mesma maneira, antes de ir embora, Fei Fei ajuda Chang’E a entender que ela passou esse tempo todo fechada em si mesmo, esperando por Houyi, e ignorando o amor que estava ali, bem na sua frente… o amor de Gobi e todas aquelas outras criaturinhas que vivem na lua e que a amam profundamente. A mensagem é linda, e eu me emocionei com esse final, com o amadurecimento que essa jornada trouxe tanto a Fei Fei quanto a Chang’E, e fiquei feliz de ver Fei Fei no próximo Festival da Lua, com sua nova família – e, ainda assim, o espírito da mãe continua lá, sempre com eles, e tem uma cena linda de Fei Fei com o Ba Ba sobre isso!

Muito fofo o filme! <3

 

Para reviews de outros FILMES, clique aqui.

 

Comentários