Lost 1x08 – Confidence Man

“You killed my parents, Mr. Sawyer”

Um dos episódios mais pesados e angustiantes de se assistir desse começo de “Lost”. Sawyer é um personagem enigmático, e é estranho falar agora sobre ele tão no começo da série já tendo assistido à série completa – a verdade é que eu gosto muito do Sawyer, mas talvez seja difícil entender o porquê nesse começo de “Lost”. Até agora, ele foi mesmo um grande babaca, e basicamente só isso… “Confidence Man”, exibido em 10 de novembro de 2004, é a primeira oportunidade de começarmos a entender que Sawyer pode ser mais do que ele deixa transparecer em um primeiro momento – e é a Kate quem percebe isso antes de qualquer outra pessoa. Ela fala sobre como “não compra a sua atuação”, sobre como dá para ver que ele está forçando para parecer ainda mais escroto, como ele “parece querer ser odiado”, mas em algum lugar existe um ser humano.

Assim como aconteceu com outros personagens, os flashbacks de Sawyer nos ajudam a entender um pouco de como ele se tornou a pessoa que conhecemos na ilha, e embora algumas coisas sejam injustificáveis, ainda assim ele tem um passado bem triste – e Jack e Sayid, por motivos pessoais, pegaram bem pesado com ele… quer dizer, o Sayid TORTUROU o Sawyer, e o Jack assistiu a tudo! Acho que é aqui que talvez comecemos a desconstrução do personagem de Jack, lentamente, porque ele foi colocado, pelos próprios sobreviventes, em um pedestal, em uma posição de liderança, ou, como o Sawyer gosta de chamar, “o herói”. E ele tem tantos defeitos quanto os demais, porque ficou claro que a maneira como ele se voltou contra Sawyer, os socos que deu nele e a forma como deixou que Sayid o torturasse (!) não tinham a ver apenas com as bombas para asma…

A história desse episódio começa com o Boone mexendo nas coisas de Sawyer atrás das bombinhas para asma de que Shannon precisa – todo mundo parece assumir que, se alguma coisa está faltando, foi Sawyer quem a roubou. Quando Shannon tem uma crise, Jack tenta acalmá-la temporariamente enquanto eles dão um jeito de “tirar as bombas de Sawyer”, mas quem realmente acaba sendo de muita ajuda é Sun, e eu fico muito feliz de vê-la se integrando ao grupo… quando ela vê que Shannon não está bem e ela sabe de algo que pode ajudar, ela manda Michael para a mata atrás de eucalipto, e acaba fazendo um preparo para esfregar no peito de Shannon que a ajuda a respirar, o que acaba sendo extremamente útil, até porque eles terminam o episódio sem descobrir quem roubou os remédios de Shannon… ou quem atacou o Sayid no episódio passado.

Acusar o Sawyer, no entanto, é fácil. Ele se colocou em uma posição de vilão, uma posição que é fácil detestar, e Sayid e Jack encontram nele alguém em quem podem depositar toda a sua frustração, e as cenas são pesadas de se assistir. Sawyer é espancado, é torturado, e naquele momento ninguém se salva, essa é a verdade… Sawyer não é nenhum santo, nunca foi, e agora parece quase se divertir enquanto as pessoas tentam arrancar dele a informação sobre onde estão as bombinhas de Shannon – é revoltante como ele usa isso para tentar conseguir um beijo de Kate, só para depois dizer que ele não está com as bombinhas… mas quer saber? Eu sabia desde o começo que as bombinhas não estavam com ele, dava para perceber – ele não presta, é verdade, mas eu não consigo acreditar que ele realmente deixaria a Shannon morrer se ele estivesse com o remédio.

Sayid usa táticas de tortura que aprendeu na guerra, e por momentos assustadores ele parece satisfeito com isso, enquanto Jack é conivente e Sawyer é torturado… tudo é tão forte que o próprio Sayid percebe o quão longe foi, especialmente quando percebem que Sawyer realmente não está com as bombinhas, então Sayid acaba decidindo se afastar do acampamento – o encontraremos sozinho no próximo episódio. O episódio ainda traz alguns outros momentos importantes de outros personagens, com destaque, é claro, para o Charlie e a Claire, e toda aquela história da “pasta de amendoim”. O Charlie é absolutamente fofo tentando conseguir uma pasta de amendoim para convencê-la a se mudar para a caverna, onde acredita que ela estará mais segura, e a Claire também é muito fofa quando entra na “brincadeira” dele com o pote vazio no fim de tudo…

Os flashbacks do episódio, naturalmente, são dedicados a Sawyer, mas a história dele é enriquecida por uma carta – aquela carta que o vemos ler desde o Piloto. Os primeiros flashbacks nos mostram Sawyer preparando um golpe contra uma mulher casada, e o episódio parece se adiantar quando, na ilha, Sawyer tenta provar a Kate o tipo de pessoa horrível que é e lhe entrega a carta para que ela leia, e é uma carta aparentemente escrita por uma criança para ele: um garoto dizendo que ele teve um caso com sua mãe e roubou todo o dinheiro do seu pai, e por isso o pai acabou matando a mãe e depois se matando… é uma história pesada, e Kate fica chocada/horrorizada ao lê-la. O garotinho termina a carta com: “You killed my parents, Mr. Sawyer”. E parece justamente isso que estamos vendo acontecer enquanto assistimos aos flashbacks

…mas não.

O roteiro é extremamente bem-escrito e consegue nos surpreender – “Lost” sempre entregando a melhor maneira de contar histórias! Eventualmente, quando chegamos à conclusão do golpe e Sawyer parece próximo a fazer o que ocasionaria o narrado na carta, ele vê o filho pequeno do casal que ele está enganando, fica transtornado e acaba “cancelando o acordo”, deixando o dinheiro para trás e indo embora… o que acaba provando que o Sawyer não é bonzinho, de modo algum, mas que ele também não é tão mau quanto ele quer que as pessoas acreditem. Kate estava certa, no fim das contas, e ele tem um lado humano. Mas e a carta que ele deu para Kate ler? No fim, descobrimos que a carta não foi escrita para ele, mas sim por ele: ele é o garotinho cujos pais morreram por causa de um golpista chamado “Sawyer”… um homem em quem ele, de certo modo, se transformou.

História pesada, história surpreendente… o roteiro de “Lost” não cansa de me surpreender.

Série e episódio incríveis!

 

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