O fantasma de Rebecca.
“Rebecca”, clássico escrito por Daphne
du Maurier e publicado em 1938, conta a história de uma mulher que se apaixona
por um homem rico e traumatizado com a recente morte da esposa que, ao se casar
com ele, é levada à Manderley, onde a memória da falecida Rebecca parece estar
em todo lugar para atormentá-la…
é
difícil se comparar com uma “mulher inesquecível”. A história foi adaptada
pela primeira vez como filme em 1940, um clássico do cinema que, inclusive,
recebeu o Oscar de Melhor Filme. Mais recentemente, em 2020, o filme ganha um
remake na Netflix, protagonizado por
Lily James e Armie Hammer, e dirigido por Ben Wheatley, e o resultado
não agradou ao público e à crítica, que
dizem que
o filme não está à altura do
clássico, em vários sentidos… infelizmente, nunca assisti ao filme de 1940,
mas, ainda assim, vejo falhas no
“Rebecca”
de 2020.
O que devo
elogiar em relação ao filme, em primeiro lugar, é o visual lindíssimo. Na época
do livro e do primeiro filme,
“Rebecca”
era uma história da atualidade. Em 2020, no entanto, a escolha foi não a de
transpor a história para os dias atuais, mais mantê-la lá no fim da década de
1930, resultando em cenários e figurinos lindíssimos – devo dizer que fiquei
particularmente encantado com os carros! Evidentemente, também achamos
Manderley (que Maxim de Winter diz que é mais do que uma casa, é sua vida)
incrivelmente bela, sendo ela datada da época dos Tudors e sendo um presente à
família de Maxim, vindo de Henrique VIII.
Uma
pena que a casa seja repleta de pessoas macabras, estranhas e/ou com intenções
obscuras e a personagem de Lily James terá que enfrentar uma série de
comparações, desafios e a memória constante da “mulher perfeita”.
O filme
começa apresentando a personagem de Lily James, que curiosamente não é nomeada,
até que ela se torne a nova Sra. de Winter – é uma escolha inteligente e
irônica para nos mostrar exatamente como ela era tratada enquanto trabalhava
como dama de companhia:
como se não fosse
um ser humano, como se não fosse digna o suficiente nem ao menos de ter um nome.
Mesmo assim, ela chama a atenção de Maxim de Winter, um rico, poderoso e
trágico viúvo com quem ela tem encontros constantes até se apaixonar, e então é
convidada para ir com ele até Manderley,
como
sua esposa… e ela aceita, sem hesitar, sem saber o que a espera, mas ela
percebe, já nos primeiros momentos que passa na misteriosa casa, que
“preencher” o lugar de Rebecca não vai ser fácil – e a nova Sra. de Winter é
constantemente lembrada disso, causando
angústia.
Acredito que
o filme acaba pecando em seu desenvolvimento e em entregar o que prometeu. Classificado
como um suspense ou um romance gótico, eu não sinto que o filme realmente tenha
entregado isso, embora tenha me deixado curioso com todos os mistérios – mas,
enquanto o mistério crescia, eu fiquei esperando respostas mais contundentes,
ou surpresas e reviravoltas que fossem fazer com que eu me encantasse pela
história, quando tudo me pareceu bastante
plano.
No fim, sinto que o filme não é de todo ruim, não consigo dizer que ele seja
“péssimo” nem nada, mas tampouco é extraordinário e marcante, embora Lily James
esteja fazendo um excelente trabalho e o seu carisma ajude a sustentar grande parte
do filme, enquanto sua personagem investiga a casa, tenta descobrir mais sobre
Rebecca e sua morte, e busca conhecer o verdadeiro Maxim de Winter.
A conclusão
do filme, portanto, deixa a desejar – a curiosidade crescente não é
perfeitamente atendida com uma conclusão apressada e anticlimática sem grandes
reviravoltas… fiz um milhão de teorias, a respeito de como Rebecca estaria viva
e retornaria para roubar Manderley, ou como Maxim estava mentindo para que a
Sra. de Winter depusesse a seu favor, mas, no fim, tudo é exatamente como foi
prometido com muita antecedência, sem deixar o filme com aquele gostinho
gostoso de surpresa. Ao fim, descobrimos a verdadeira faceta de Rebecca, nem
tão perfeita quanto se supunha, descobrimos uma doença que a levou ao suicídio,
e descobrimos que Maxim
estava mesmo
dizendo a verdade, e então ele e a Sra. de Winter, depois de ter Manderley
destruída pela Sra. Danvers, têm a chance de
recomeçar a vida em um lugar totalmente novo.
Sei lá,
faltou algo. Prometeu muito e entregou pouco.
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