Turma da Mônica Jovem (2ª Série, Edição Nº 47) – Parque das Maravilhas

Mônica através do espelho…

Quero começar elogiando o roteiro de Petra Leão e Marcelo Cassaro, porque eles entregam algo divertido, aventuresco e interessante como não se via há muito tempo na “Turma da Mônica Jovem” – é uma das minhas favoritas na 2ª Série da revista, sem dúvida! “Parque das Maravilhas”, como o nome e a capa sugerem, brinca o tempo todo com o clássico “Alice no País das Maravilhas”, e além de ter um visual incrível (desenho de Roberta Pares), a história traz referências, repensa os personagens através do espelho, e ainda faz com que a Mônica reflita um pouco sobre ela mesma – a história começa quando Mônica e os amigos vão a um parque de diversões, e então Mônica acaba se desentendendo tanto com o Cebola quanto com a Magali, e precisa repensar suas atitudes quando acaba sozinha na Casa dos Espelhos e conhece um novo mundo.

As referências a “Alice no País das Maravilhas” são uma delícia de acompanhar (não é a primeira vez que a Turma Jovem se aventura por esse universo, e sempre é algo que chama a atenção e que é gostoso de acompanhar). Quando Mônica “desperta” em um novo mundo, sua bolsa de coelhinho azul virou um Sansão falante, que “está sempre atrasado”, servindo ao papel de Coelho Branco, aquele que guia a personagem principal até um novo universo… depois de Sansão, Mingau aparece fazendo mais ou menos o papel de Gato de Cheshire, e ele tem excelentes momentos, enquanto Mônica vai percebendo que não está mais em casa, porque as coisas já não são mais como ela se lembra – ao invés de um homem fantasiado de Ursinho Bilu no parque, agora, ela encontra um urso fantasiado de homem. Ela não está em casa, e não sabe onde está.

Gosto de como outros elementos de “Alice” são introduzidos à trama de “Parque das Maravilhas” e o que isso proporciona à edição – um gole de suco, por exemplo, faz com que a Mônica “diminua”, mas ela não vira uma versão em miniatura de si mesma, mas ela volta a ser criança, sendo a Mônica que sempre acompanhamos nos gibizinhos – com direito à Magali chamando a Mônica de “baixinha, dentuça e gorducha”, e a Mônica reclamando que “não pode ter 7 anos de novo porque já teve essa idade por tempo demais”. Assim como em “Alice no País das Maravilhas”, Mônica vai encontrando pessoas em seu caminho, e a primeira delas é a Magali, que aqui trabalha como garçonete, servindo comidas gigantescas, gordurosas e nada saudáveis, e eventualmente descobrimos que ela não se parece em nada com a Magali que conhecemos, porque ela não gosta de comer…

Foi muito divertido conhecer as novas versões de todos esses personagens – as suas versões refletidas no espelho: iguais, mas ao contrário. Cascão, por exemplo, é o responsável pela limpeza do parque, e é um neurótico por limpeza, proporcionando até uma sequência irônica na qual a Mônica precisa fugir de um Cascão que está tentando obrigá-la a tomar banho. Alguns personagens secundários também fazem suas aparições, como versões distorcidas de si mesmos… Xaveco é o “Agente Xis”, por exemplo, um rapaz que ao invés de confiar nas pessoas duvida de tudo e é cheio de teorias da conspiração; Nimbus é grosseiro, mal-educado, e ele parece se interessar pelas exatas e desprezar a mágica; Marina, além de chata, não sabe e não gosta de desenhar… mas acho que os destaques ficam para a “Carmem esculachada” e a “Denise em versão erudita”.

Cebola é o último dos personagens principais a aparecer, e ele é uma espécie de “bobo da corte” que fala um monte de palavras com “R” e cujos planos, aparentemente, são mesmo infalíveis. Toda a jornada de Mônica a faz perceber o quanto ela ama os seus amigos de volta no seu próprio mundo e o quanto ela sente falta deles, mas existe mais uma coisa que ela precisa descobrir e, consequentemente, enfrentar, para que ela possa voltar para casa, e ela só descobre a respeito disso quando decide ir atrás da tal Rainha Vermelha sobre a qual todo mundo está falando, a mulher que comanda aquele parque, criado apenas para a sua própria diversão egoísta… a mulher cruel e maldosa que obriga as pessoas a fazerem coisas de que elas não gostam só para agradá-la – a mulher que Mônica detesta antes mesmo de conhecer… e que se assombra ao ver.

Porque a Rainha Vermelha é a Mônica Jovem – e por isso era tão importante estarmos na companhia de uma Mônica Criança em “Parque das Maravilhas”: para que ninguém a reconhecesse como a Rainha Vermelha, embora o Agente Xis, com suas teorias da conspiração, tenha falado algo sobre isso… Mônica, então, acaba vendo o seu pior lado, e percebe que talvez ela seja mesmo um pouco assim no mundo do outro lado do espelho: ela pode ser mandona, birrenta, mal-humorada. Então, Mônica precisa enfrentar a sua outra versão naquele mundo (ficando gigante, o que também é bem “Alice no País das Maravilhas”) e reconhecer seus erros e seu amor pelos amigos, antes de poder voltar para casa como se “só tivesse pegado no sono na Casa dos Espelhos”. No fundo, no entanto, ela sabe que não foi isso que aconteceu… não foi apenas um sonho.

É bom ver a Mônica voltando e sendo muito mais legal, bem-humorada, agradecida aos amigos.

Ela sentiu a falta deles.

Do outro lado do espelho, temos uma última sequência muito interessante na qual vemos aquelas outras versões dos personagens se tornando independentes da dominação da Rainha Vermelha, graças à visita da Outra Mônica, e é bem bacana – de certa maneira, eles passam a se parecer mais com as versões que já conhecemos dos personagens, do lado de cá, mas ainda assim eles têm algumas diferenças… e para todo mundo que ama a Mônica com o DC, temos uma espécie de fan service que funciona muito bem, porque quando a Rainha Vermelha fica sozinha, o Do Contra vai contra a corrente e fica ao seu lado, dizendo que não vai abandoná-la e que ele pode ser mais que seu servo agora, e ela diz que ela não é mais rainha, o que quer dizer que ele não é mais seu servo – e os dois trocam um beijo verdadeiramente apaixonado em uma arte bem bonita.

Uma edição incrível, e faz tempo que não digo isso! Que delícia de ler algo assim!!!

 

Para mais postagens da Turma da Mônica Jovem, clique aqui.

Ou visite nossa página: Cantinho de Luz

 

Comentários