O que você faria para conseguir o que quer?
Apesar de eu
ter ficado um pouco confuso em relação a umas duas informações lá no fim do
episódio,
“Ba’al” é facilmente o meu
episódio favorito em
“American Horror
Stories”. É melhor do que
“Rubber(wo)man”
pela temática, ambientação e condução da história, e certamente é melhor do que
“The Naughty List”, que deixou bem a
desejar. Como comentei várias vezes, eu gosto da proposta de séries antológicas
em que cada episódio conta uma história independente, e
“Ba’al”, que é o episódio mais longo até aqui, conseguiu se
aproveitar do recurso proposto pela série muito bem, apresentando sua trama com
calma, a desenvolvendo, gerando suspense, e chegando a uma conclusão
surpreendente, que é a impressão final que fica do episódio quando o terminamos
de assistir – é legal que o final não seja tão previsível e tenhamos surpresas.
Alguma coisa
me fez pensar muito em
“Black Mirror”.
Parece um ultraje comparar
“American
Horror Stories” a
“Black Mirror”,
já que a outra série tem um nível infinitamente superior, mas acho que foi todo
o cenário desse episódio – em
“Black
Mirror”, a motivação para as tramas geralmente é
tecnológica, enquanto em
“American
Horror Stories” ela costuma ser sobrenatural, mas aqueles cenários
figurinos e o ritmo de toda a primeira parte desse episódio parecia caber
perfeitamente em um episódio de
“Black
Mirror”. Liv Whitley (interpretada por Billie Lourd) e Matt Webb
(interpretado por Ronen Rubinstein) querem ter um filho, e dois anos e cinco
tentativas de fertilização artificial depois, eles continuam
sem sucesso – mas Liv não pensa em
desistir. É assim que ela recebe uma “ajuda” inesperada de uma mulher que lhe
entrega a estátua de um suposto “deus da fertilidade”.
E funciona.
Reencontramos
Liv e Matt algum tempo depois, com um filho, Aaron, mas Liv não está feliz como
ela acreditou que estaria… o episódio tem um ritmo cadenciado que nos envolve
na trama e que gera um suspense de maneira inteligente, porque ficamos
angustiados esperando pelo momento em
que
alguma coisa vai acontecer. Vemos
Liv desenvolver uma espécie de depressão pós-parto e algo que parece uma
paranoia crescente enquanto ela ouve barulhos, vê arranhões nas portas e
acredita que
seu filho a odeia. O
episódio é uma escalada de tensão constante que conta com Liv ouvindo mensagens
no que, para outras pessoas, só parece estática, e um jogo de ouija que a faz
perder de vez a razão. Confiante de que o tal Ba’al é um demônio e não “um deus
da fertilidade”, Liv faz de tudo para bani-lo, em um ritual que acaba com Liv
esfaqueando o marido.
Gostei
bastante da primeira virada de roteiro do episódio – a segunda é que ficou
menos bem explicada. Quando Matt vai visitar Liv depois de duas semanas
internada em um hospital psiquiátrico, descobrimos que
ele e os seus amigos é que estavam por trás de toda a armação que
“enlouqueceu” a Liv. E eu achei essa uma jogada muito boa do roteiro!
Enquanto Matt e os amigos celebram “o sucesso do plano para ficar com o
dinheiro de Liv”, descobrimos todos os detalhes de como cada um teve uma
participação plantando paranoias que, eventualmente, tomaram conta de Liv, e é
brutalmente perverso –
porque o ser
humano pode ser perverso. Mas o episódio, ainda assim, aposta no
sobrenatural logo em seguida, quando o verdadeiro Ba’al aparece caçando cada um
que usou a sua imagem, e é uma sequência brutal e
gore – algo que
“American
Horror Stories” adora.
Teria sido
uma boa finalização para o episódio, fiquei bem na dúvida em relação ao que
veio depois. Achei de uma ironia fantástica o Matt acabar preso por ter
assassinado os amigos enquanto alegava que tinha sido um demônio e implorava
para que Liv contratasse um advogado para ele, mas aquele não era o único
plot twist pensado para esse episódio –
descobrimos, então, que Ba’al só foi em busca de Matt e dos amigos porque ele
foi de fato invocado por Liv, enquanto ela estava presa no hospital
psiquiátrico achando que nunca mais sairia de lá. Se foi o demônio que contou
para ela sobre a armação de Matt, se foi ela que o mandou matá-los ou por que
ele está pedindo que “ela o liberte” são coisas que não ficam suficientemente
claras, mas isso não apaga a graça do episódio, que foi o melhor oferecido pela
série até aqui.
Será que
poderemos ver o nascimento de um novo anticristo?
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