Os Últimos 5 Anos (The Last Five Years, 2014)
“Goodbye,
until tomorrow…”
Quando eu
escrevi sobre o musical “The Last Five
Years”, em 2013, eu o descrevi como “a
história de um casamento malsucedido entre um escritor em ascensão e uma atriz
sem sorte, mas contada de maneira inusitada”. O filme conta a história de
Cathy e Jamie, desde quando eles se conheceram até o fim do casamento
fracassado deles, mas o que de fato nos prende, nos fascina e torna o musical
memorável é a maneira como a história se divide e acompanhamos dois pontos de
vistas, em ordens cronológicas inversas. Do ponto de vista de Jamie, vemos a
história do casal do primeiro encontro deles até o momento em que ele vai
embora, depois de todos os problemas que viveram; do ponto de vista de Cathy,
no entanto, a história começa quando Jamie vai embora deixando apenas uma
carta, e a sua narrativa caminha em direção ao começo do relacionamento.
É uma forma
fascinante de se contar a história, e eu acho incrível como “The Last Five Years” consegue fazer
isso tão bem, e como isso permite que exploremos os personagens, e como parece
permear toda a trama de uma latente melancolia que fica cada vez mais forte conforme
nos aproximamos do fim do filme – não é apenas como se soubéssemos que, no fim, o relacionamento deles não daria certo; é
mais do que isso porque podemos assistir
enquanto tudo desmorona, e isso faz com que as cenas “mais felizes” que nos
levam de volta ao início do namoro e do casamento não pareçam completamente felizes, no fim das contas. E, aos
poucos, vamos montando um quebra-cabeças com uma virada deliciosa no meio da
trama, e esse quebra-cabeças só fica completo de fato quando chegamos ao final…
Cathy cantando “Goodbye Until Tomorrow”
e Jamie dizendo adeus.
Originalmente,
o musical conta com apenas dois atores em cena – e o filme acrescenta alguns
figurantes porque a linguagem cinematográfica não é a mesma do teatro, mas isso
não faz com que a identidade de “The Last
Five Years” se perca, de modo algum. O filme continua sendo de Cathy e
Jamie. Cathy, interpretada por Anna Kendrick, é uma atriz frustrada que
continua tentando uma oportunidade, sempre sem muito sucesso, e ela acha que
finalmente pelo menos conseguiu ter sorte no amor, mas talvez não; Jamie, por
sua vez, é interpretado pelo sempre incrível Jeremy Jordan (que estava lindo e
talentosíssimo no filme), e ele é um escritor que ganha uma chance, vê sua
carreira decolar e se deslumbra, com um ego inflado e um egoísmo assustador. Em
algum momento, Jamie e Cathy viveram algo bom, mas isso parece ter acabado
depressa.
Adoro como o
filme consegue mostrar esses “dois lados” do relacionamento, tanto visual
quanto musicalmente. Percebemos cores mais vivas nos figurinos e cenários e
muitas cenas externas e ensolaradas nas cenas em que o relacionamento de Jamie
e Cathy está no início e parece estar indo bem… em contrapartida, as cenas se
tornam escuras e frias no final desses cinco
anos, também com bastante cena em lugares fechados. Na parte musical, é
interessante acompanhar como Cathy começa cantando músicas mais lentas,
deprimentes e/ou reflexivas, enquanto Jamie canta músicas muito mais animadas,
felizes, dançantes, e como esses papeis vão lentamente se invertendo ao longo da segunda parte do filme. Também destacamos
a atuação de Anna Kendrick e Jeremy Jordan, é claro, que precisam intercalar
emoções contrastantes dos personagens.
[Embora
menos do que no palco]
O filme pode
ser “dividido” em dois atos. O primeiro que leva até o pedido de casamento no
parque, com “The Next Ten Minutes”, a
única parte do filme em que os personagens estão juntos no mesmo tempo, e compartilham uma mesma música. Aqui, vemos Jamie
como um escritor talentoso que está ganhando oportunidades e deslanchando na
carreira, enquanto Cathy parece estar trabalhando em produções aquém do
esperado, sem conseguir o apoio que esperava de Jamie, e se perguntando se
realmente faz parte da vida dele,
porque parece que não, parece que ela sempre está em segundo plano. O segundo
ato nos mostra Cathy caminhando rumo a um feliz início de relacionamento,
enquanto descobrimos ainda mais detalhes das ruínas do casamento de Cathy e
Jamie, e entendemos como as coisas não poderiam continuar dando certo para
eles.
Eu sou fã do
trabalho de Jeremy Jordan desde “Smash”
e, por isso, eu preciso elogiá-lo, porque eu acho que ele constrói um
personagem complexo que conseguimos amar
em uma parte do filme, e que conseguimos detestar
em outra. No início do filme, eu consigo sentir raiva dele enquanto ela canta “See
I’m Smiling” e ele a abandona no seu aniversário para mais uma festa da
editora, mas eu acho impossível não amá-lo durante “The Schmuel Song”, que é, provavelmente, o ponto alto do filme
para Jeremy Jordan: ele arrasa, sua interpretação é impecável e ele está
lindíssimo. Na segunda parte do filme, nem mesmo as cenas do início do namoro,
do ponto de vista dela, conseguem fazer com que sintamos alguma simpatia por
ele, porque as coisas foram longe demais… se
o detestamos no fim do relacionamento do ponto de vista dela, o detestamos mais
ainda do ponto de vista dele.
Jamie acaba
se apresentando uma pessoa detestável…
A grande
carta de “The Last Five Years” e o
porquê de ele ser uma história muito amada por amantes de musicais é justamente
a maneira como a história é contada,
além das excelentes músicas que o compõem… é uma forma diferente e inovadora de
contar história, e termina nos fascinando, com esses dois polos tão distantes
de uma mesma história, a alegria e a tristeza, o amor e o sofrimento, sempre se
intercalando, sempre se mostrando presente na hora do outro. Assim, o filme se
encerra com duas músicas cantadas juntas. Cathy canta “Goodbye Until Tomorrow”, feliz depois de um encontro com Jamie,
esperando o dia em que o verá novamente, clamando ter passado a vida toda esperando
por ele, enquanto Jamie canta “I Could
Never Rescue You”, escrevendo uma carta para Cathy antes de ir embora. Ela
canta “Goodbye Until Tomorrow”, feliz
e sonhadora, e ele responde “Goodbye”,
desanimado e sem vida.
Que musical
bom! E que adaptação boa!
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