Quem vai ficar com Mário? (2021)

Tenha coragem de ser feliz!

Com um alto astral INCRÍVEL, “Quem vai ficar com Mário?” conta uma história divertida, cheia de representatividade e tocando em assuntos bem sérios com muito bom-humor e cuidado. Eu me diverti horrores, eu me apaixonei pelo Mário e eu, que não gosto de cerveja, fiquei querendo provar a tal da cerveja rosa. O filme, dirigido por Hsu Chien e protagonizado pelo Daniel Rocha (que, inclusive, estava muito lindo nesse filme), chegou à plataforma da Prime Video no finzinho de julho – e todo mundo deveria assistir! No filme, conhecemos Mário, um rapaz que mora no Rio de Janeiro há quatro anos e escreve peças de teatro que são dirigidas por Fernando, seu namorado, mas que nunca teve coragem de dizer para a família que era gay… por isso, ele está voltando para casa, no Rio Grande do Sul, decidido a aproveitar um jantar em família para se assumir.

Daniel Rocha deu vida ao Mário com muita delicadeza, e é impossível não se encantar por ele desde as primeiras cenas… ele é carismático, fofo, bonito, e mesmo seu jeitinho meio inseguro e indeciso tem seu charme. A primeira pessoa da família para quem ele tem coragem de contar que é gay é seu irmão mais velho, o Vicente, e ele faz um comentário sobre como “sempre achou que eles não fossem tão diferentes mesmo”. Então, depois de ter passado horas ensaiando como contaria à família que era gay (é divertido e, ao mesmo tempo, um pouco triste, porque é algo pelo qual quase todo LGBTQIA+ precisa passar na vida, e nem sempre é fácil), Mário acaba sendo surpreendido durante o jantar, porque quem pede a palavra e começa a falar é o Vicente… e antes que Mário consiga interrompê-lo dizendo que o que ele tem a falar é importante, VICENTE SE ASSUME GAY.

Adorei o fato de o irmão também ser gay, mas entendi a revolta de Mário por Vicente ter “roubado o seu momento”… especialmente porque o pai é um espetáculo horrendo de homofobia e diz tantas atrocidades que parecem nos atingir em cheio. O pai, Antônio Brüderlich, é a representação clara de um homem conservador e machista, e ele tem tantos comentários deploráveis a fazer que, quando ele passa mal e acaba no hospital, eu cheguei a pensar que a vida de Vicente e Mário seria mais fácil se ele não voltasse… mas ele tem que atormentar um pouquinho ainda o Mário, e tira o Vicente do comanda da Cervejaria Brüderlich, e diz que agora o seu filho mais novo vai ter que tomar conta dos negócios da família, e Mário se vê meio que de mãos atadas, com o pai passando mal e lhe fazendo esse pedido, então ele diz que vai ficar e assumir a empresa.

Mário, então, acaba conhecendo Ana, uma coach chamada para dar novas ideias na Cervejaria Brüderlich, e ela é uma mulher interessante que chama a atenção de Mário, de uma maneira que, a princípio, ele não entende. Durante o filme, Mário é confrontado com uma nova realidade e com a descoberta de que, no fim das contas, ele não é gay – ele é bissexual, talvez pansexual, mas a verdade é que, no fim das contas, os rótulos não importam… no ponto alto do filme, depois de uma série de confusões (!), ele chega a dizer que “se apaixona por pessoas, não por gêneros”, e é isso o que importa. Algo de fato floresce entre Mário e Ana, mas isso não quer dizer que Mário tenha deixado de amar o seu namorado de quatro anos, Fernando, e ele vai precisar colocar seus sentimentos em ordem depressa, especialmente quando Fernando aparece.

As situações que surgem com a aparição de Fernando e, depois, dos demais amigos de Mário são SENSACIONAIS. Tudo é bizarro, exagerado e cômico, e aqui o filme entrega uma longa sequência de comédia muito bem-feita, seja em comentários de duplo sentido ou nas confusões mais absurdas nas quais eles se envolvem quando Lana, Kiko e Xande aparecem, todos fingindo serem héteros. Eu dei muitas risadas sinceras enquanto assistia a todas as cenas que se originam desse grupo inesperado reunido na casa da família de Mário, e tendo que passar uma noite lá quando uma chuva muito forte começa. Se os diálogos estavam muito bem-escritos, o elenco também estava afiadíssimo na comédia física, transformando “Quem vai ficar com Mário?” em uma comédia leve e descontraída que podemos assistir para levantar o nosso astral quando precisamos de um filme assim!

O que é a cena do Kiko cantando Pabllo Vittar no banho?!

Confusões amorosas também não faltam… Antônio, o pai preconceituoso de Mário, acaba se apaixonando por Lana, por exemplo, sem saber que ela é uma mulher trans, enquanto o cunhado de Mário parece bastante interessado em um dos meninos, o Kiko. O Mário, por sua vez, tem momentos com Ana e outros momentos com Fernando, e quando as coisas parecem dar errado com ambos porque Fernando, com razão, fica com ciúmes do que quer que esteja acontecendo entre Mário e Ana, a complicação só aumenta quando Nando conhece um cara no bar e transa com ele… sem saber que se trata de Vicente, o irmão mais velho de Mário. Em algum momento, Fernando até pensa em ir embora de volta para o Rio de Janeiro, e ganha o Mário o buscando no aeroporto, numa cena digna de comédia romântica, com um toque HILÁRIO que “Quem vai ficar com Mário?” tem.

Eles precisam deixar todos os “problemas do coração” de lado, no entanto, para seguirem um plano imenso que tem a ver com a Cervejaria Brüderlich e que é apoiada por Helena, a avó de Mário, Vicente e Bianca: eles vão lançar uma cerveja rosa, voltada para o público LGBTQIA+, e pretendem fazer esse lançamento de surpresa na festa anual da empresa – para isso, Helena precisa da ajuda de todo mundo… Vicente entende muito bem de negócios, depois de anos à frente da Cervejaria; Mário vai escrever um texto para as propagandas; Bianca vai ser a bioquímica que vai fazer a fórmula da nova cerveja; Fernando vai dirigir a coreografia que eles vão apresentar na festa… tudo tem que estar perfeito para esse momento, e tudo tem que ser mantido em segredo de Antônio pelo maior tempo possível – porque ele pode estragar tudo se souber.

E ele quase o faz… o filme tem um final muito bonito e uma cena de aquecer nossos corações quando a família toda confronta o Antônio no meio da festa e ele mesmo tem que confrontar seus preconceitos. É um momento bem emocionante no qual os irmãos se impõem, com a ajuda de todas as pessoas que tornaram esse momento possível, e o Mário é um fofo falando sobre Ana como uma pessoa que acreditou nele e o desafiou e sobre Nando como a pessoa que confiou nele primeiro e sempre o apoiou… e ele ama a ambos. Não sei se, no fim, a principal pergunta do filme é mesmo “Quem vai ficar com Mário?” e, se for, me parece que Mário, Nando e Ana ainda têm coisas a resolver e talvez descubram o poliamor (os três dançando juntos na festa foi tudo!), mas não é essa a mensagem do filme… a mensagem do filme é sobre o AMOR, sobre a ACEITAÇÃO e sobre TER CORAGEM de ser quem você é e ser feliz.

Um filme muito bonito, além de incrivelmente divertido. Adorei!

 

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