Tenha coragem de ser feliz!
Com um alto
astral INCRÍVEL,
“Quem vai ficar com
Mário?” conta uma história divertida, cheia de representatividade e tocando
em assuntos bem sérios com muito bom-humor e cuidado. Eu me diverti horrores,
eu me apaixonei pelo Mário e eu, que não gosto de cerveja, fiquei querendo
provar a tal da
cerveja rosa. O
filme, dirigido por Hsu Chien e protagonizado pelo Daniel Rocha (que,
inclusive, estava
muito lindo nesse
filme), chegou à plataforma da Prime Video no finzinho de julho – e todo mundo
deveria assistir! No filme, conhecemos Mário, um rapaz que mora no Rio de Janeiro
há quatro anos e escreve peças de teatro que são dirigidas por Fernando, seu
namorado, mas que nunca teve coragem de dizer para a família que era gay… por
isso, ele está voltando para casa, no Rio Grande do Sul, decidido a aproveitar
um
jantar em família para se assumir.
Daniel Rocha
deu vida ao Mário com muita delicadeza, e é impossível não se encantar por ele
desde as primeiras cenas… ele é carismático, fofo, bonito, e mesmo seu jeitinho
meio inseguro e indeciso tem seu charme. A primeira pessoa da família para quem
ele tem coragem de contar que é gay é seu irmão mais velho, o Vicente, e ele
faz um comentário sobre como “sempre achou que eles não fossem tão diferentes
mesmo”. Então, depois de ter passado
horas
ensaiando como contaria à família que era gay (é divertido e, ao mesmo tempo,
um pouco triste, porque é algo pelo qual quase todo LGBTQIA+ precisa passar na
vida, e nem sempre é fácil), Mário acaba sendo surpreendido durante o jantar,
porque quem pede a palavra e começa a falar é o Vicente… e antes que Mário
consiga interrompê-lo dizendo que
o que
ele tem a falar é importante, VICENTE SE ASSUME GAY.
Adorei o
fato de o irmão também ser gay, mas entendi a revolta de Mário por Vicente ter
“roubado o seu momento”… especialmente porque o pai é um espetáculo horrendo de
homofobia e diz tantas atrocidades que parecem nos atingir em cheio. O pai,
Antônio Brüderlich, é a representação clara de um homem conservador e machista,
e ele tem tantos comentários deploráveis a fazer que, quando ele passa mal e
acaba no hospital, eu cheguei a pensar que a vida de Vicente e Mário seria mais
fácil se ele não voltasse… mas ele tem que atormentar um pouquinho ainda o
Mário, e tira o Vicente do comanda da Cervejaria Brüderlich, e diz que agora o
seu filho mais novo vai ter que tomar conta dos negócios da família, e Mário se
vê meio que de mãos atadas, com o pai passando mal e lhe fazendo esse pedido,
então ele diz que vai ficar e assumir a empresa.
Mário,
então, acaba conhecendo Ana, uma
coach
chamada para
dar novas ideias na
Cervejaria Brüderlich, e ela é uma mulher interessante que chama a atenção de
Mário, de uma maneira que, a princípio, ele não entende. Durante o filme, Mário
é confrontado com uma nova realidade e com a descoberta de que, no fim das
contas, ele não é gay – ele é bissexual, talvez pansexual, mas a verdade é que,
no fim das contas,
os rótulos não
importam… no ponto alto do filme, depois de uma série de confusões (!), ele
chega a dizer que “se apaixona por pessoas, não por gêneros”, e é isso o que
importa. Algo de fato
floresce entre
Mário e Ana, mas isso não quer dizer que Mário tenha deixado de amar o seu
namorado de quatro anos, Fernando, e ele vai precisar colocar seus sentimentos
em ordem depressa, especialmente quando Fernando aparece.
As situações
que surgem com a aparição de Fernando e, depois, dos demais amigos de Mário são
SENSACIONAIS. Tudo é bizarro, exagerado e cômico, e aqui o filme entrega uma
longa sequência de comédia muito bem-feita, seja em comentários de duplo
sentido ou nas confusões mais absurdas nas quais eles se envolvem quando Lana,
Kiko e Xande aparecem,
todos fingindo
serem héteros. Eu dei muitas risadas sinceras enquanto assistia a todas as
cenas que se originam desse grupo inesperado reunido na casa da família de
Mário, e tendo que passar
uma noite lá
quando uma chuva muito forte começa. Se os diálogos estavam muito bem-escritos,
o elenco também estava afiadíssimo na comédia física, transformando
“Quem vai ficar com Mário?” em uma
comédia leve e descontraída que podemos assistir para levantar o nosso astral
quando precisamos de um filme assim!
O que é a
cena do Kiko cantando Pabllo Vittar no banho?!
Confusões
amorosas também não faltam… Antônio, o pai preconceituoso de Mário, acaba se
apaixonando por Lana, por exemplo, sem saber que ela é uma mulher trans,
enquanto o cunhado de Mário parece
bastante
interessado em um dos meninos, o Kiko. O Mário, por sua vez, tem momentos
com Ana e outros momentos com Fernando, e quando as coisas parecem dar errado
com ambos porque Fernando, com razão, fica com ciúmes do que quer que esteja
acontecendo entre Mário e Ana, a complicação só aumenta quando Nando conhece um
cara no bar e transa com ele…
sem saber
que se trata de Vicente, o irmão mais velho de Mário. Em algum momento,
Fernando até pensa em ir embora de volta para o Rio de Janeiro, e ganha o Mário
o buscando no aeroporto, numa cena digna de comédia romântica, com um toque
HILÁRIO que
“Quem vai ficar com Mário?”
tem.
Eles
precisam deixar todos os “problemas do coração” de lado, no entanto, para seguirem
um plano imenso que tem a ver com a Cervejaria Brüderlich e que é apoiada por
Helena, a avó de Mário, Vicente e Bianca: eles vão lançar uma
cerveja rosa, voltada para o público
LGBTQIA+, e pretendem fazer esse lançamento
de
surpresa na festa anual da empresa – para isso, Helena precisa da ajuda de
todo mundo… Vicente entende muito bem de negócios, depois de anos à frente da
Cervejaria; Mário vai escrever um texto para as propagandas; Bianca vai ser a
bioquímica que vai fazer a fórmula da nova cerveja; Fernando vai dirigir a
coreografia que eles vão apresentar na festa…
tudo tem que estar perfeito para esse momento, e tudo tem que ser
mantido em segredo de Antônio pelo maior tempo possível – porque ele pode
estragar tudo se souber.
E ele quase
o faz… o filme tem um final muito bonito e uma cena de aquecer nossos corações
quando a família toda confronta o Antônio no meio da festa e ele mesmo tem que
confrontar seus preconceitos. É um momento bem emocionante no qual os irmãos se
impõem, com a ajuda de todas as pessoas que tornaram esse momento possível, e o
Mário é um fofo falando sobre Ana como uma pessoa que acreditou nele e o
desafiou e sobre Nando como a pessoa que confiou nele primeiro e sempre o
apoiou… e ele ama a ambos. Não sei se, no fim, a principal pergunta do filme é
mesmo “Quem vai ficar com Mário?” e, se for, me parece que Mário, Nando e Ana
ainda têm coisas a resolver e talvez descubram o
poliamor (os três dançando juntos na festa foi tudo!), mas não é
essa a mensagem do filme… a mensagem do filme é sobre o AMOR, sobre a ACEITAÇÃO
e sobre
TER CORAGEM de ser quem você é e
ser feliz.
Um filme
muito bonito, além de incrivelmente divertido. Adorei!
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