Lulli (2021)

“Sabe sonho? Amanhã eu vou realizar o meu!”

Eu adoro os roteiros da Thalita Rebouças e os filmes da Larissa Manoela. “Lulli” pode não ser o melhor filme da atriz lançado na Netflix (em “Modo Avião” e “Diários de Intercâmbio”, ela parecia estar mais em sua zona de conforto), mas certamente é uma história divertida que nos rende um bom momento! Com uma vibe meio “Zoey’s Extraordinary Playlist” (mas, infelizmente, sem a parte musical) e com um casal secundário fofíssimo que me pegou desprevenido, “Lulli” conta a história de uma jovem que está prestes a se formar em medicina, mas que é incapaz de ouvir as pessoas ao seu redor… e como ela pode ser bem-sucedida na futura profissão se um dos papeis do médico, segundo sua supervisora de residência, é ouvir os pacientes? Lulli vai ter que aprender a ouvir as pessoas ao seu redor, e vai ter uma ajudinha do destino para isso…

Acho interessante como a ficção é fascinada pelas máquinas de ressonância magnética – poderíamos fazer uma lista de plots que começam aí. Lulli tem um primeiro dia de residência bastante movimentado… para começar, seu namorado terminou com ela no dia anterior, porque ela era incapaz de ouvi-lo; ele estava falando sobre suas inseguranças, sobre a vontade de largar a faculdade, e Lulli estava muito concentrada em si mesma, com coisas desimportantes, que até acabou deixando que ele comesse uma coxinha de camarão sabendo que ele era alérgico. Ele terminou porque estava cansado de não ser ouvido. Mas o namorado não é a única pessoa que Lulli não ouve… ela quase administra remédio a um paciente, mesmo sem ter autorização para isso, e ela entra na sala de exames durante uma pane quando dizem expressamente para que ela não faça isso.

Assim, Lulli (e Diego, o ex-namorado que entra atrás dela) acaba levando um choque da máquina de ressonância magnética e desmaia – os dois acordam mais tarde com sequelas. No caso, de Diego, ele parece ter desenvolvido um tipo estranho de amnésia que o fez esquecer os eventos mais recentes (como o fato de que ele tinha terminado com Lulli na ambulância para o hospital depois da reação alérgica). No caso de Lulli, ela começou a ouvir o pensamento das pessoas quando encosta nelas. O resultado, é claro, é uma sequência de eventos divertidos com Lulli ouvindo pensamentos interessantes e outros que não queria ouvir, usando os dons em sua maior parte para benefício próprio (para saber se Paola gosta de Diego, por exemplo), mas também começando a aprender a necessidade de ouvir as pessoas ao seu redor, como a mãe e os pacientes.

Gostei particularmente daquela fala de Lulli, dizendo que que está cansada de ouvir o pensamento das pessoas, sobre como “as pessoas têm o direito de escolher o que as outras pessoas sabem sobre elas” – até porque ela faz uma descoberta inesperada sobre o seu melhor amigo. Primeiro, ela descobre que Julio está mentindo sobre ter uma contusão na perna para não se tornar titular do time de vôlei para o qual treina durante as finais, mas a descoberta realmente interessante vem mais tarde, quando a mãe faz um comentário com Julio sobre como “agora eles podem voltar a namorar” (e eu realmente achei que era o que aconteceria), e Julio chega no quarto brincando sobre isso, e diz que isso não aconteceria, e quando Lulli pergunta se é porque ele acha que ela é louca ou algo assim, ela toca as mãos dele e escuta: “Porque eu sou gay, né?”

Eu adoraria um desenvolvimento maior para o personagem gay? Sim. Mas eu fiquei tão feliz com o fato de o Julio ser gay e por ele ter um par romântico que eu meio que me desliguei de todo o restante do filme, confesso… estava ali por Julio e Ricardo. Ricardo é um dos residentes do grupo de Lulli, um cara por quem Vanessa tem um crush há sabe-se lá quanto tempo, e ela quer que Lulli descubra se ela tem alguma chance, mas é só prestar atenção para ver que não. Os olhares entre Julio e Ricardo desde a primeira vez que se veem, no bar, é de arrepiar, e eu adorei o rápido desenvolvimento que eles ganham – a maneira como Ricardo fala de Julio quando o leva fazer um exame, como vibra durante toda a partida de vôlei que vai assistir ou aquele abraço demorado e romântico de Julio e Adriano no fim do jogo. Só faltou mesmo um beijo para eles.

Outro destaque para mim é a Thalita Rebouças – filmes de suas obras ou com roteiros seus se popularizaram nos últimos anos, e eu não me canso de dizer que Thalita Rebouças sabe escrever maravilhosamente para o público adolescente! E eu estou adorando o fato de ela sempre fazer uma participaçãozinha nos seus filmes de uns tempos para cá. Em “Lulli”, ela interpreta uma cartomante à qual Vanessa leva Lulli quando descobre que a amiga está lendo pensamentos, e, como de costume, Thalita entrega uma das cenas mais divertidas do filme, com destaque para o “Loca de piedra, perdidita, Macarena” – O TANTO QUE EU RI DESSA PARTE!!! A situação toda é bizarra, Romina começa falando em espanhol e termina falando em português, prometendo que nunca mais vai enganar ninguém e chamando a Lulli para vir trabalhar com ela… SENSACIONAL.

No fim, os dons de Lulli a ajudam muito: não apenas ela se destaca durante a residência como também encontra um novo propósito, porque, obrigada a ouvir as pessoas e vendo que isso pode ajudá-las, Lulli desiste de ser neurocirurgiã para se tornar médica de família. De quebra, ela melhora sua relação com a mãe e com o namorado – inicialmente porque ele tinha se esquecido de tudo e ela não contou a verdade, sim, mas depois porque, quando ele passa mal, ela se lembra de coisas de antes de ela poder ouvir pensamentos, provando que finalmente entendeu a necessidade de ouvir as pessoas, e isso salva a vida dele. E, é claro, eles se amam… só precisavam se comunicar melhor, e o universo ensinou isso a Lulli agora. O filme é simples, até raso, e não se passa em um dos meus cenários favoritos, mas é algo leve, divertido e carismático.

 

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