Além da Ilusão – Tempestade, destruição e doença

Soluções de Rafael.

A tempestade que assola a vila operária da Tecelagem Tropical traz uma série de problemas que os moradores vão levar semanas para recuperar e/ou consertar – isso se tiverem o apoio da fábrica. Quando Matías previu a tempestade (!), sabíamos que algo ruim estava por vir, e é uma sequência bem interessante que leva quase uma semana de novela, apresentando a realidade dos operários, os problemas causados por uma má gestão e as sabotagens criminosas de Joaquim, e ainda apresenta um importante personagem novo que aparece no meio da noite e é colocado para trabalhar por Olivia… com as casas começando a ser inundadas por causa do problema de escoamento sobre o qual “Rafael” comentara recentemente, vários operários deixam suas próprias casas, convocados para Olivia, para correrem para a tecelagem e salvar rolos de tecidos da chuva por causa de um buraco no teto…

Sinceramente, eu não sei se eu iria com Olivia naquele momento, e é uma situação complicadíssima: quer dizer, a fábrica é o ganha-pão deles e garantir que eles não vão ter muito prejuízo faz sentido, porque a primeira coisa que o empresário quer fazer, nessa situação, é descontar tudo nos funcionários, com cortes, demissões ou sei lá o quê, mas também é bastante complicado deixar as próprias casas quando elas precisam de atenção! De qualquer maneira, Olivia consegue reunir os funcionários da tecelagem para que eles arrastem rolos e rolos de tecido para fora da chuva, e, mandona embaixo da chuva, ela coloca até o Padre Tenório, que acabou de chegar à cidade, para trabalhar, sem saber, é claro, que ele é o novo padre, e não mais um funcionário que está chegando, como ela inicialmente acredita. É um “primeiro encontro” interessante.

O dia seguinte evidencia toda a destruição causada pela tempestade – e é muito triste de se assistir. As casas alagadas e sujas de barro, colchões, sofás e roupas perdidos, mantimentos destruídos, inclusive do armazém… eles não têm luz, eles não têm onde dormir, e tudo o que sobra é o sofrimento e a desesperança. Então, Rafael tenta tomar a frente dos operários no dia seguinte para encorajá-los e para pensarem juntos em soluções, enquanto Violeta e Isadora chegam e assistem àquilo com certa admiração. Gosto de como Rafael e Isadora parecem estar em sintonia, pensando nas mesmas coisas, e quando se fala sobre eles precisarem de um lugar grande e seco onde todos os operários possam passar aquela noite, eles falam juntos sobre a antiga senzala do engenho – afinal de contas, foi onde eles se protegeram da chuva na noite anterior.

Como se todo o sofrimento das perdas não bastasse, eles precisam passar o dia todo trabalhando para limpar as casas, enquanto Rafael garante que a fábrica vai se responsabilizar, mas eles ainda começam a ficar doentes todos meio que ao mesmo tempo: uma dor de barriga aqui, alguém vomitando ali, e Rafael é o primeiro a perceber que isso deve estar acontecendo por causa de contaminação na água, então pede que todos parem de tomar a água do poço e chama o médico para avaliar as pessoas que já estão passando mal, e ele confirma: a água está mesmo contaminada – e a água foi contaminada pela própria Tecelagem Tropical, que estava com um problema cujo conserto foi pago por Eugenio, mas Joaquim roubara o dinheiro e não fez o conserto, como o padrinho mandou, e agora tudo está prestes a explodir com essa tempestade.

Mas, é claro, ele consegue se safar.

De qualquer maneira, temos uma sequência bem interessante na qual o Rafael, responsável pela contabilidade da fábrica, faz algumas propostas de como eles podem se responsabilizar pelos problemas causados na vila operária e, ainda assim, manter-se dentro do orçamento da tecelagem, e isso envolve a direção abrir mão de 50% do seu salário durante um ano e os operários trabalharem nas reformas – um esforço conjunto. Rafael se sai muito bem, e eu adorei ver o Joaquim abrir mão de 100% do seu salário por um ano, apenas para “impressionar” a Violeta, porque ele tentando não reagir enquanto o Rafael se diverte e sugere que eles usem os outros 50% do salário de Joaquim para, então, dar aos operários o aumento que lhes foi prometido por Joaquim há muito tempo é sensacional! Afinal de contas, a promessa foi feita, e eles merecem… eles salvaram a fábrica durante a tempestade.

Rafael deu uma forcinha para todo mundo, então! Ele consegue o conserto das casas, ele consegue manter a Tecelagem Tropical nos trilhos, e ele ainda garante a Olivia uma maneira de fazer com que os operários continuem ao seu lado, frustrando os planos de Joaquim de promovê-la apenas para que os funcionários se voltem contra ela e ela comece a perder a força que estava ganhando… o discurso de Rafael é bem articulado e admirável, e recebe até um sorriso sincero de Dorinha, que não está apenas orgulhosa dele e das suas soluções, mas também está apaixonada, por mais que tente negar… mas tem um clima estranho entre eles, desde que ele “se declarou” para ela na noite da tempestade e eles se afastaram. Acho, no entanto, que o Rafael está certíssimo, porque é muito sofrimento ficar perto dela se ela não pode retribuir seu sentimento.

Na verdade, ela pode. Mas tem medo de querer.

 

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