Red: Crescer é uma Fera (Turning Red, 2022)
Growing up
is a beast!
QUE DELÍCIA
DE FILME! Eu fico impressionado como a Pixar sempre tem ideias incríveis e
entrega filmes competentes em questão de visual e história, nos arrancando
risadas e lágrimas na medida certa! “Red:
Crescer é uma Fera” é a mais nova produção Pixar, apresentando toda a
qualidade característica do estúdio, dessa vez tratando sobre o tema do amadurecimento,
em que a mudança comum na fase da
adolescência (no corpo, nas relações com a família, com os amigos, nas
paixões…) é brilhantemente representada por uma protagonista que, quando está agitada, se transforma em um gigante
panda-vermelho. Ainda temos uma representação fiel da adolescência na amizade
de Mei Lee com suas melhores amigas (!), e a “obsessão” delas por uma boy band que está prestes a fazer um
show na cidade em que elas moram, ao qual elas precisam ir!
Mei Lee é
uma garota de 13 anos que gosta de se sentir adulta e responsável, mas
que acaba confinando uma parte de si para poder ser aprovada pela mãe – assim,
ela tenta sempre ser a garota estudiosa, comportada e perfeitinha que a mãe
quer que ela seja, o que é bastante sufocante
de se assistir. Ming Lee, a mãe de Mei, é bastante problemática, e talvez ela
não esteja fazendo por mal… talvez tenha sido a criação que ela recebeu, e ela
está agindo como ela acha que é o melhor
para a filha – o que não quer dizer que ela esteja correta. Superprotetora,
Ming Lee passa constantemente de limites e, em sua incessante tentativa de
“ajudar” e “proteger”, ela acaba causando constrangimentos constantes à filha,
como quando ela encontra desenhos que Mei Lee fizera de um garoto que ela acha
bonito, e Ming Lee vai com os desenhos tirar satisfações com ele.
É profundamente desnecessário… e causa
uma dor tão grande em Mei Lee que ela desperta, na manhã seguinte, depois de
uma noite agitada e cheia de pesadelos, como
um panda-vermelho. Aparentemente, isso é “comum” na família dela, mas é
claro que ela não sabe como lidar com isso. A metáfora do panda-vermelho é
inteligente, porque tem tudo a ver com a Mei Lee descobrindo uma nova parte de si mesma, enquanto ela
cresce, muda e não sabe lidar com isso, mas o que parece assustador ou
inconveniente, a princípio, pode se tornar parte dela a ponto de ela não querer
mais se desfazer dele… afinal de contas,
essa mudança se torna parte de quem ela é. É claro que Mei Lee tem
dificuldade para se adaptar ao fato de que, bem, ela está se transformando em
um “monstro” toda vez que tem emoções fortes, mas ela vai conseguindo com o
tempo.
A mãe, que
já passou por isso na adolescência, tenta dar algum suporte, e fala sobre um
ritual que terá que ser realizado no dia 25, para conter o panda-vermelho para
sempre, mas essa é a alternativa de Ming Lee para tudo: esconder e oprimir. Mei
Lee é instruída a não deixar que o panda venha à tona, porque “isso o torna
cada vez mais perigoso”, e a garota realmente tenta fazê-lo, inicialmente, percebendo
que, quando está com as amigas, ela tem muito mais controle sobre o panda, o
contendo e o liberando de acordo com a sua vontade… mas, eventualmente, ela
resolve soltá-lo. Tudo bem, é apenas para
“se aproveitar” dele. O show da boy band favorita delas, a 4 Town, está
chegando, e se os pais não as deixam ir ao show, elas planejam ir escondidas…
e, para isso, terão que conseguir dinheiro para os ingressos. E o panda-vermelho é uma boa fonte de renda.
Toda a
sequência das garotas fazendo tudo para conseguir dinheiro para ir ao show de
uma boy band inevitavelmente me fez
pensar em “Tudo por um Pop Star” que,
por sinal, é um filme que eu adoro. Quando Mei Lee percebe que as outras
crianças na escola adoram o panda,
ela começa a se transformar nele para tirar foto com as pessoas, depois as
meninas começam a comercializar camisetas, orelhas, rabos… logo o
panda-vermelho é a maior sensação da escola, e elas estão conseguindo dinheiro
para os ingressos! E, na verdade, nunca temos a sensação de que Mei Lee está
fazendo algo de errado, porque por mais que a mãe a advirta sobre como o panda
é “perigoso”, Mei Lee parece tê-lo bastante sob controle e, além disso, ela está se divertindo tanto quando se
transforma nele… por que ela deveria se privar de algo que é dela e que lhe
faz bem sem fazer mal a ninguém?
Naturalmente,
as coisas acabam desandando e chegamos àquela parte do filme em que nosso
coração se aperta e ansiamos por algum tipo de solução. Isso acontece quando
Mei Lee decide “se transformar pela última vez” durante a festa de aniversário
de um garoto da escola, mas nem tudo sai como o previsto quando as garotas
descobrem que o show da 4 Town vai ser no mesmo dia do ritual de Mei Lee, e o
garoto ainda é um babaca com ela… então, ela se transforma no panda e o ataca,
mas não porque o panda seja perigoso ou porque o panda a consumiu, mas porque ela estava mesmo muito brava com tudo
naquele momento… e quando a mãe chega, acusando Miriam e as outras garotas
de terem se aproveitado do panda de Mei
Lee, Mei Lee não tem coragem de se defender, porque ela nunca aprendeu a
fazê-lo: ela está acostumada a ser apagada pela mãe.
A concordar
e fazer o que a mãe lhe fala, sem questionar.
Isso é tão
doloroso, mas sabemos que Mei Lee eventualmente vai fazer o que é certo durante
o seu ritual – e é uma daquelas cenas emocionantes que os clímaces do estúdio conseguem entregar! Além de ser visualmente
bastante impactante, a cena também leva Mei Lee a um “outro plano” no qual ela
pode se separar de seu panda para sempre e guardá-lo em algum objeto, mas ela
escolhe não fazê-lo… ela não quer e não consegue se separar do panda quando se
lembra de tudo o que viveu quando era ele, como se divertiu com as amigas, como
teve força para fazer o que queria, para ser ela mesma, como estava livre… e o
pai tem uma participação lindíssima nisso, mostrando a ela, antes do ritual, o
vídeo que encontrou de Mei Lee como o panda se divertindo com as amigas. Então,
ela cancela o ritual, abraça o seu panda-vermelho e vai embora com ele…
Direto para o show da 4 Town.
Tudo nesse
filme me fascinou! A verdade na representação dos sentimentos da adolescência,
a sensibilidade ao mostrar uma adolescente crescendo e precisando mostrar para
os pais quem ela é, e essa parte toda
da boy band me deixou absolutamente nostálgico
e me fez pensar muito em bandas como N’Sync ou Backstreet Boys – amo as duas,
por sinal. Tão gostoso ver Mei Lee reencontrando as amigas e se reconciliando
com elas, e enquanto eu as via vibrando com cada pequeno detalhe do show, eu
fiquei me imaginando em um show, sei lá, da One Direction… E É UMA SENSAÇÃO TÃO
BOA, TÃO PURA DA ADOLESCÊNCIA! A amizade de Mei Lee e Miriam, Priya e Abby é,
certamente, um dos pontos mais altos do filme, com cada uma das garotas tendo
sua personalidade e sendo encantadora à sua maneira… todos os detalhes de “Turning Red” funcionam muito bem.
No meio do
show, no entanto, Mei Lee precisa enfrentar a mãe em forma de panda, o maior
panda-vermelho da família, representando toda a fúria que não tem a ver,
apenas, com a maneira como Mei Lee a desafiou para ser quem realmente é e fazer
o que quer, mas com os próprios traumas e frustrações que vêm de sua infância,
quando ela foi igualmente apagada pela mãe, obrigada a cumprir uma expectativa,
e por mais que isso lhe machucasse, ela nunca teve a força de Mei Lee para
desafiá-la, para mostrar-lhe que ela não
é aquela pessoa… agora, Mei Lee precisa de toda sua força para dizer à mãe
quem é e como está crescendo, e ela o faz em uma cena que é emocionante e
divertida, com direito a uma sequência quase de tokusatsu, quando toda a família precisa liberar seus
pandas-vermelhos para ajudar Ming Lee a voltar ao normal.
Reunida, a
família consegue trazer Ming Lee para o círculo, para que ela possa se separar
de seu panda novamente, mas, dessa vez, ela o faz de uma maneira diferente da
que fez na adolescência, e é muito importante ela permitir que a filha a veja
daquela maneira, que ela externalize tudo o que sente desde que estivera
naquele lugar pela primeira vez, e isso a permite entender melhor o que Mei Lee
está fazendo e por quê… está tudo bem que Mei Lee não queira se desfazer de seu
panda-vermelho, se ele é uma parte dela que a faz feliz… ela aprendeu a
conviver com ele como Ming Lee nunca soube. Acho que, mais ou menos como Mei
Lee diz, todos nós temos um panda-vermelho dentro de nós, uma parte de nós que
às vezes queremos deixar escondida e fingimos que não existe, mas que também
pode ser bom colocar para fora… afinal de
contas, é parte de nós, não é?
Mais um
filme lindíssimo da Pixar! Divertido e emocionante como sempre!
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