Percy Jackson e os Olimpianos, Livro Dois – O Mar de Monstros (Rick Riordan)
“O ano de Percy Jackson foi surpreendentemente calmo. Nenhum monstro que
colocasse os pés no campus de sua escola, nenhum acidente esquisito, nenhuma
briga em sala de aula. Mas quando um inocente jogo de queimado entre ele e seus
colegas torna-se uma disputa mortal contra uma tenebrosa gangue de gigantes
canibais, as coisas ficam, digamos, feias. E a inesperada chegada de sua amiga
Annabeth traz outras más notícias: as fronteiras mágicas que protegem o
Acampamento Meio-Sangue foram envenenadas por um inimigo misterioso, e, a menos
que um antídoto seja encontrado, o único porto seguro dos semideuses será
destruído”
A busca pelo Velocino de Ouro.
“O Mar de Monstros” é um livro importantíssimo
para a construção da história de “Percy
Jackson e os Olimpianos”: apresenta novos personagens importantes, como o
Tyson, fala um pouco mais abertamente sobre a profecia do próximo meio-sangue
que chegar aos 16 anos, e evidencia a maneira ardilosa como Cronos manipula as
pessoas e os acontecimentos a seu favor, mesmo quando todos menos esperam.
Mesmo assim, eu não acho que a sequência seja tão cativante quanto “O Ladrão de
Raios” e sempre foi, desde que li a série pela primeira vez lá por 2010, o
livro de que menos gostei, dos cinco. Ainda assim, a escrita de Rick Riordan é
envolvente, divertida e inteligente, mesclando a Mitologia Grega com a
modernidade, e brincando com possibilidades e referências, e eu adoro como o
autor sempre traz novas tramas para seus livros…
Dessa vez,
Percy Jackson teve um ano “tranquilo” – pelo menos mais tranquilo do que seus
anos escolares costumam ser… o que, depois que ele descobriu que é um
meio-sangue e passou a ser perseguido por monstros por todo lado, lhe parece
suspeitamente estranho. O que não quer dizer que ele consiga terminar o ano sem
ser expulso de mais uma escola, porque um ataque de gigantes canibais durante
um jogo de queimada acaba fazendo com que ele fuja da escola, com a ajuda de
Annabeth e de Tyson, o amigo grandalhão que fez naquele ano, e seja procurado
pela polícia… e ele sabe, na verdade, que as coisas não estão bem: ele está
tendo sonhos com o Grover usando um vestido de noiva e quase se casando com
Polifemo, um ciclope cruel, e Annabeth parece estar bastante preocupada com
outra coisa… a segurança do Acampamento
Meio-Sangue.
Toda a trama
de “O Mar de Monstros” gira em torno
de salvar Grover e o Acampamento Meio-Sangue – uma missão que acaba se
mostrando conectada. Isso, no entanto, avaliando a história apenas de maneira
superficial, porque Percy reencontra Luke, o filho de Hermes que traiu os
meio-sangues no livro anterior, e ele tem algum plano com Cronos que Percy
ainda não consegue entender… não, pelo menos, até os últimos parágrafos, eletrizantes,
de “O Mar de Monstros”, em que peças
importantes do quebra-cabeças vêm à tona e entendemos, finalmente, que a trama
de “O Mar de Monstros” é muito mais
importante do que se podia imaginar… não é apenas uma aventura pelo mar até a
Ilha de Polifemo, em uma missão que Percy, Annabeth e Tyson “sequestram” de
Clarisse. Inclusive, adoro o que Rick faz com a personagem de Clarisse nesse
livro!
O
Acampamento Meio-Sangue está em perigo porque o pinheiro que fica em sua
entrada (e que um dia fora Thalia, a meio-sangue filha de Zeus, que chegara ao
acampamento com Annabeth e Luke, há alguns anos) e o protege foi envenenado… e Grover,
“coincidentemente”, caiu em uma armadilha enquanto buscava por Pan e pode ter
“esbarrado” justamente naquilo que pode
salvar o pinheiro e, consequentemente, o Acampamento Meio-Sangue: O VELOCINO DE
OURO. Ainda que pareça suspeito, Percy não sabe o que mais podem fazer a
não ser tentar salvar o acampamento…
se uma oportunidade como essa se apresenta, eles precisam aproveitá-la, não? Então,
ele sugere uma missão para Tântalo, o novo diretor do acampamento, e para o Sr.
D, e Clarisse é enviada para a missão… mas, mesmo não sendo sua missão, Percy
não pensa em ficar parado.
Ele precisa
salvar Grover!
“O Mar de Monstros”, inusitadamente, não
segue, então, o trio principal apresentado em “O Ladrão de Raios”. Com Grover sequestrado e tecendo e desfazendo
um véu de noiva para tentar fugir de um casamento como Penélope, sua
participação na história é reduzida, e a Percy e Annabeth se junta Tyson – o
grandalhão sensível que Percy conhecera na escola e que, agora, descobre ser um
ciclope… e seu irmão. A relação de Percy e Tyson (e a maneira como Annabeth
trata Tyson mal, tendo dificuldades imensas para confiar nele) é um dos fios
condutores de “O Mar de Monstros”, e
um dos pontos altos do livro. Tyson é extremamente carismático, e entrega
alguns dos melhores momentos do livro, e até nos incomodamos com a maneira como
Percy parece sentir vergonha dele no
início – por isso, gostamos tanto de vê-lo amadurecer nesse sentido.
A missão do
trio leva os heróis rumo ao Mar de Monstros (que os mortais chamam de
“Triângulo das Bermudas”), com uma ajudinha de Hermes, que deixa alguns presentes muito úteis com Percy,
e de Poseidon, que pode não aparecer e não interferir diretamente, mas dá pequenas ajudas a Percy, seja enviando
hipocampos que possam ajudá-los dando carona pelo mar, ou dando a Percy
habilidades de navegação que são muito úteis em uma história que se passa, em
grande parte, na água… “O Mar de Monstros”
nos traz monstros marinhos, navios comandados por “zumbis”, como o Princesa
Andrômeda, e navios extremamente antigos que Percy sabe pilotar como ninguém,
como o Birmingham, e um bote salva-vidas que funciona graças a uma garrafa
térmica com vento servindo como “motor” e dando aos heróis uma velocidade
impressionante.
Clarisse,
que é quem recebe a missão dessa vez, tem uma participação interessante nessa
segunda história – e se torna uma personagem muito mais complexa do que imaginávamos. Ela continua sendo Clarisse, a filha
encrenqueira de Ares, mas, de certa maneira, existe uma parceria inesperada (e
talvez não bem-vinda) entre Clarisse e Percy… afinal de contas, os dois querem
salvar o Acampamento Meio-Sangue e, para isso, precisam roubar o Velocino de
Ouro do Polifemo, atravessando a tenebrosa entrada para o Mar de Monstros, uma
sequência eletrizante que culmina com a explosão do Princesa Andrômeda, a
separação do grupo que tinha acabado de se formar e o desaparecimento de Tyson
que pode significar a sua morte. Assim
como Percy acredita ter perdido a mãe em “O Ladrão de Raios”, em “O Mar de
Monstros” ele quase perde o irmão.
Enquanto no
Mar de Monstros, Percy e os demais precisam enfrentar uma série de desafios,
como o “Spa de C.C.”, que é uma armadilha de Circe que acaba com o Percy
transformado em porquinho-da-índia, ou uma das cenas mais incríveis do livro,
que é a tentação das sereias… é uma das sequências mais angustiantes e mais
aterradoras de “O Mar de Monstros”,
com a Annabeth achando que vai conseguir resistir à tentação e precisando ser
resgatada por Percy, que compartilha, com ela, um momento bastante íntimo,
quando consegue ver, também, o que as
sereias estão mostrando para ela para seduzi-la: um mundo reconstruído e
projetado por ela, no qual os seus pais estão juntos e Luke está de volta ao
lado deles… uma esperança que Annabeth não consegue e não quer colocar em
palavras, mas que está guardada dentro dela, de algum jeito.
O grande
clímax do livro acontece, é claro, na Ilha de Polifemo – Annabeth se passa por
um fantasma do passado do ciclope casamenteiro, Grover consegue escapar de se
casar, Clarisse se junta ao grupo novamente e Tyson reaparece, vivo e essencial
para o sucesso do plano nessa reta final… a fuga da Ilha de Polifemo é igualmente
eletrizante, com direito a um navio explodindo, a vida de Annabeth correndo
perigo, e o roubo do Velocino de Ouro, que é o que cura Annabeth no caminho até
Miami, aonde os heróis conseguem chegar com a ajuda dos hipocampos, novamente
enviados por Poseidon. E, agora, Percy envia Clarisse sozinha de volta para o
Acampamento Meio-Sangue, levando com ela o Velocino de Ouro, permitindo que ela
cumpra a sua missão e que ela receba todos os louros necessários… é ela quem deve fazer isso, não ele.
E, além do
mais, ele não pode voltar de avião… são os domínios de Zeus.
“Navegarás com guerreiros de osso em navio de ferro,
O que procuras, hás de encontrar, e teu o tornarás,
Mas sem esperança dirás, minha vida em pedra enterro,
Sem amigos falharás e, voando só, retornarás.”
Com Clarisse
completando a missão e, se tudo der certo, salvando o Acampamento Meio-Sangue,
Percy ainda tem algumas coisas com que lidar, como um reencontro com Luke e o
caixão de ouro no qual ele está reunindo os restos de Cronos para trazê-lo de
volta à vida (!)… um reencontro que lhe permite mostrar para todo mundo no
acampamento, através de uma mensagem de íris, que Quíron foi acusado
injustamente quando disseram que ele tinha sido o responsável pelo
envenenamento do pinheiro de Thalia, e então ele poderá retornar às suas
atividades, e Tântalo poderá ir embora. Percy só entende mais tarde o porquê de
Quíron ter sido acusado de estar ajudando Cronos, quando o próprio Quíron o faz
lembrar-se de suas aulas de mitologia: Cronos
é o pai de Quíron. Mesmo assim, Percy sabe que Quíron jamais faria nada
para prejudicar o acampamento!
Eu sempre
gosto muito de momentos genuinamente emocionantes em livros – e a reta final de
“O Mar de Monstros” traz alguns
momentos sinceros que se tornam impactantes pela forma como tudo foi construído
ao longo do livro… a relação de Percy, Annabeth e Tyson foi muito bonita
enquanto eles lutavam juntos para sobreviver, e Percy percebeu o quanto se
importava com o grandão quando achou que ele tivesse morrido. Por isso, quando
Percy e Annabeth vencem uma corrida de bigas que fora ideia de Tântalo, antes
de ser destituído do seu cargo, ambos agradecem a Tyson, e é a coisa mais fofa…
Annabeth, que não confiava em Tyson por causa do ciclope que causara a morte de
Thalia quando estavam chegando ao acampamento, consegue agradecer a Tyson e
reconhecer a sua importância, já que sem ele nada teria sido possível, e Percy
completa o chamando de “irmão”.
Também amo o
relógio que se transforma em escudo que o Tyson faz para o Percy!
Um dos
pontos mais importantes de “O Mar de
Monstros” é o fato de ele ser uma construção para a história maior que “Percy Jackson e os Olimpianos” está
contando: O RETORNO DE CRONOS. Se “O
Ladrão de Raios” foi uma excelente introdução e apresentou o universo de
Rick Riordan muito bem, esse segundo livro da série enfatiza as intenções e a
maneira de agir de Cronos, ao mesmo tempo em que brinca com uma profecia sobre
a qual apenas ouvimos falar em “O Ladrão
de Raios” – e que será a profecia principal, por fim, de “O Último Olimpiano”. Ainda que não
possamos vê-la na íntegra nesse momento, “O
Mar de Monstros” fala abertamente sobre como existe uma profecia a respeito
de um meio-sangue “filho de um dos Três Grandes” que tem o destino do Olimpo em
suas mãos… e todos parecem acreditar que a profecia seja sobre Percy.
Afinal, ele é o único meio-sangue filho de
um dos Três Grandes… que eles saibam.
Essa é, para
mim, a magia de “O Mar de Monstros”:
é a reta final que o torna, de fato, um livro memorável… muito mais do que o
mar de monstros em si, a Ilha de Polifemo ou as aventuras, é a trama “secreta”
por baixo da história principal que engrandece o livro, e que só entendemos
quando o Velocino de Ouro é pendurado no pinheiro no topo da colina do
Acampamento Meio-Sangue e algo surpreendente acontece: além de expelir o veneno do pinheiro, o Velocino também expele algo a
mais… Thalia, filha de Zeus – uma meio-sangue filha de um dos Três Grandes.
As últimas páginas do livro nos arrepiam, mostrando toda a tensão do
ressurgimento de Thalia, porque entendemos que, no fim das contas, tudo foi planejado por Cronos – e saiu
exatamente conforme ele planejara: ele envenenara o pinheiro esperando que
ele fosse salvo com o Velocino de Ouro e que isso trouxesse Thalia de volta…
Ele queria
isso para adicionar peças ao jogo, “mais uma chance de controlar a profecia”.
É UM FINAL
INCRÍVEL!
Para a review de “O Ladrão de Raios”, clique
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