A Favorita – A volta de Faísca e Espoleta

“Pois é, Flora. Dessa vez você caiu direitinho”

Donatela manipulou Flora direitinho… ela apelou para a carência de Flora e para o seu desejo de ser famosa com a dupla “Faísca e Espoleta” e conseguiu se aproximar da vilã para que ela não a entregasse para a polícia e, quem sabe, conseguisse uma confissão de todos os seus crimes. Donatela diz à Flora que “elas não vão mais se separar”, e Flora acredita em tudo porque, no fundo, tudo o que ela sempre quis foi a aprovação de Donatela, o amor de Donatela – ela a chama de “irmãzinha” enquanto as duas estão no camarim de um antigo teatro, se preparando para o “grande show” do retorno da dupla Faísca e Espoleta – ainda sem público. Para acentuar o desequilíbrio de Flora, mas apenas o suficiente para que sua língua ficasse mais solta, Donatela a incentiva a beber umas taças de vinho, e coloca alguma coisa dentro da sua bebida também, para que “ela fique mais fora de si”.

Entre brindes, celebrações e memórias, Flora também puxa para um lado amargo relembrando, por exemplo, a “apunhalada” que foi para ela quando Donatela resolveu acabar com a dupla para se casar com o Marcelo, e fala exaustivamente sobre a dor que sentiu naquela ocasião, e sobre como aquela “foi a única vez em que ela pensou em se matar”. Donatela rapidamente diz que não é para ela pensar nisso agora, porque “elas ficarão juntas para sempre”, mas Flora está insegura: “Será, Donatela? E se você me abandonar de novo? Não sei… não sei se eu ia aguentar”. Flora está desequilibrada exatamente como Donatela espera, e então ela joga suas últimas cartas quando as duas caminham e sobem ao palco. Primeiro, Donatela pede o lenço vermelho que Flora sempre usa em suas apresentações, que é uma superstição, e diz que “se a Flora gosta dela, vai entregar o lenço”.

Aqui, Donatela muda totalmente seu jogo… e se torna a personagem cruel e egoísta que sempre existiu na cabeça de Flora. “Sem o lenço vermelho, eu não canto”. Ela tem um ar de superioridade, uma expressão de deboche, e Flora começa a ficar visivelmente perturbada, implora para que Donatela “não estrague tudo de novo”, mas Donatela insiste: sem o lenço vermelho, ela não canta. “E você sabe que você não consegue cantar sozinha. Você é só a segunda voz”. Hesitante, Flora desamarra o lenço e entrega para ela, e Donatela parece uma criança birrenta ao soltar o lenço e dizer: “Agora não quero mais”. Chorando, Flora implora, mas Donatela diz que não vai cantar com ela, e que não quer cantar com ela nunca mais. “Você vai ficar sozinha, igual quando você era criança”. Donatela, então, parte para um lado cruel de tortura psicológica.

Gente, a Flora é a vilã dessa novela, cometeu atrocidades horríveis, e o jogo de Donatela é realmente muito bom, mas a Patrícia Pillar É UMA ATRIZ TÃO BOA que eu fiquei extremamente confuso com meus sentimentos durante a cena… racionalmente, eu não queria, mas eu não consegui não sentir pena da Flora. Parte de mim estava achando a Donatela cruel, estava achando pesado o que ela estava dizendo (“Sabe por quê? Porque ninguém gosta de você!”), e o sofrimento de Flora parecia tão palpável, como se, naquele momento, entendêssemos que o que ela precisava era de carinho, de atenção, de amor… talvez fosse tarde demais para ela, mas eu acredito que em parte ela estava dizendo a verdade sim: pelo que eu entendi de “A Favorita”, Donatela e Pedro não foram bons com ela durante a vida, nunca a trataram bem, a entenderam, ou a corrigiram… nunca a amaram… então, de certa maneira, a culpa de tudo é deles, no fim.

Ok, da Flora também… ela era uma criança difícil, rebelde, invejosa… mas ainda assim uma criança. Não consigo acreditar que, naquela época, ela não tivesse salvação. Mas Donatela e Pedro não se importaram o suficiente com ela para salvá-la.

Mas enfim, o assunto pode ficar polêmico e não estou aqui para começar uma discussão nem nada. Opiniões e elogios à atuação brilhante de Patrícia Pillar e seguimos em frente. O próximo passo do plano de Donatela é resgatar a Maria Balinha, uma boneca que gerou muita confusão no passado, e então ela a destrói na frente de Flora, apenas para magoá-la e desestabilizá-la, enquanto a Flora chora pela boneca… Donatela dá as costas para Flora, diz que ela vai embora e que a Flora nunca mais vai vê-la – “Não faz isso comigo. Por favor. Não vai embora”. Então, Flora começa a surtar de vez… diz que Donatela não vai abandoná-la, e aponta uma arma para ela, e Donatela a provoca. Se coloca na frente da arma perguntando se ela vai ter coragem de atirar, e Flora realmente hesita. Ela tenta argumentar, tenta convencer a Donatela a não ir embora.

“Por favor, não me trata assim. Não precisa me amar, não precisa gostar de mim… mas não me deixa. Eu amo você. Eu amo você”

“Eu sei que você ama. Acontece que eu não te amo. Nunca te amei”

Wow.

Donatela diz que a única coisa que Flora pode fazer para impedi-la de ir embora é atirar, e então Flora realmente atira. Sabemos que Donatela tem um plano e que não está morrendo de fato, mas ela simula a sua morte, enquanto Flora agoniza (“Meu Deus! O que foi que eu fiz?”), mais angustiada do que nunca, e ainda briga com Donatela, dizendo que a culpa foi dela, que ela a obrigou a fazer isso. “Flora… foi melhor assim. Eu cansei desse jogo. Eu quero descansar”. Donatela é sensacional nesse jogo psicológico com Flora, sabendo que a sua “morte” a desestabilizaria por completo, enfim, e ainda a agradece, dizendo que “ela a ajudou a partir”, e esse é o momento de conseguir a confissão, afinal, porque Donatela diz que ela é só mais uma que ela matou, e Flora cai, de uma forma meio estranha, listando todas as pessoas que matou (ok, essa parte ficou forçada).

E era tudo o que Donatela queria e precisava.

Donatela “morre”, Flora sofre, e então as cortinas se abrem, Flora recebe um holofote no rosto, e quando as luzes se acendem, ela vê que o teatro está cheio com o elenco da novela, toda uma galera que estava ali para assistir… e quando ela aponta a arma para todos, Halley lhe conta: “Você pode atirar o quanto quiser, Flora. As balas da sua arma são de festim”. Quando a ficha do que acabou de acontecer cai, Donatela já está de pé atrás de Flora: “Pois é, Flora. Dessa vez você caiu direitinho”. A confissão está gravada, o teatro tinha 50 testemunhas contra Flora, e Lara liga para a polícia. Aqui, outra crítica, infelizmente: por que ninguém ligou para a polícia antes, para eles estarem esperando? Ou então, por que ninguém ficou do lado de fora vigiando as saídas para o teatro? Porque Flora se põe depressa em movimento, tentando escapar, e os mocinhos burros só tem a “sorte” de Flora cair do segundo andar e desmaiar…

Então, acompanhada por policiais, Flora acaba sendo colocada em uma ambulância, e por mais que seja meio cedo para celebrar, Donatela e os demais estão felizes com o que conquistaram. Pelo menos o nome de Donatela está limpo! Quando ela chega à delegacia, ela é abordada por muitos repórteres, os jornais na TV cobrem o acontecimento, e tudo estaria resolvido se não fosse o fato de a Flora ter conseguido escapar da ambulância. Ainda não é o último capítulo, o que quer dizer que a Flora ainda precisa fazer alguma coisa – esse “pesadelo” não vai acabar tão cedo. Ainda que ninguém saiba onde a Flora está, Donatela se permite celebrar a sua liberdade recém-adquirida, e o fato de estar rodeada de pessoas que ela ama… inclusive, ela recebe um pedido de casamento, e registra Halley novamente como “Matheus Fontini”, de volta ao seu nome original.

Mas é muito cedo para o “felizes para sempre”.

Flora vai reaparecer.

 

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