Pinóquio (Pinocchio, 2022)
“When you
wish upon a star…”
A história
de Geppetto, um fabricante de relógios e brinquedos artesanais que perdera o
filho, e Pinóquio, um boneco de madeira que ganha vida e sonha em se tornar um menino de verdade… a
história de Pinóquio surgiu pela primeira vez em um livro italiano escrito por
Carlo Collodi e publicado em 1883, e ficou mundialmente conhecida especialmente
com a animação produzida pela Walt Disney em 1940, mesmo com todas as suas
diferenças em relação à obra original. Sem grande divulgação e não agradando à
maior parte do público ou da crítica, “Pinóquio”
ganhou uma adaptação em live-action
em 2022, continuando o projeto da Disney de refazer seus clássicos – e a
sensação que tenho ao assisti-lo é inusitada, porque realmente o filme nos
passa a impressão de que falta alguma
coisa… será que essa versão do personagem não tem o carisma necessário para
que funcione?
A primeira
sequência do filme traz a construção do Pinóquio em uma sequência melancólica, com
toques de diversão que encobrem o quão solitário e doentio é o trabalho do
artesão Geppetto: afinal de contas, ele perdera o filho e, agora, está
construindo um boneco de madeira que se pareça ao máximo com ele… fortemente
apegado aos seus relógios com referências a animações e filmes da Disney (!),
porque eles eram a paixão de sua esposa, Geppetto vive sozinho trancado dentro
de casa, pouco sai, recusa clientes e conversa continuamente com seu gato de
estimação, Fígaro, e sua peixinha, Cléo. Gosto de como o Grilo Falante é o
olhar mais preocupado do espectador,
que nota o quanto tudo aquilo é deprimente. Quando Pinóquio está pronto e
Geppetto vê uma estrela cadente antes de ir dormir, ele resolve fazer um
pedido, e sabemos o que ele pediu…
Que Pinóquio tivesse vida.
Então,
Pinóquio recebe a visita da Fada Azul, em uma das minhas sequências favoritas
do filme. Ela dá vida a Pinóquio, um boneco de madeira inocente e espevitado,
que a Fada Azul garante que talvez possa se tornar um garoto de verdade, como ele quer, se ele for corajoso, honesto e
altruísta e, para isso, ele precisa aprender a diferença entre o certo e o
errado – enquanto ele tiver dificuldade com isso, ele contará com a ajuda do
Grilo Falante, que é “promovido” à sua consciência. “Pinóquio” tem, como sempre teve, uma premissa muito bacana, e a
cena da Fada Azul é emocionante, em
parte porque “When You Wish Upon a Star”
é uma canção tão bonita e tão marcante… tendo vencido o Oscar de Melhor Canção
Original em 1940, a música se tornou o
principal tema da Disney desde então, e é a música que ouvimos instrumental
em toda abertura de filme.
Dali em
diante, algo me incomodou no filme, que foi a sensação de que a adaptação não foi muito além da animação
– e, quando digo isso, não estou nem me referindo a termos de história, que
segue os passos da animação de 1940, mas ao fato de que a maior parte do filme parece ser feita em CGI e, consequentemente,
é uma nova animação. Cynthia Erivo brilha como a Fada Azul (ela estava
belíssima!), mas ela só tem uma única cena no filme, e as demais sequências
realmente em live-action são,
basicamente, as cenas de Geppetto, interpretado por Tom Hanks, e é notável, em
vários momentos, como ele está
interagindo com coisas que seriam adicionadas depois, na pós-produção, assim
como todas as demais cenas que usam atores reais interagindo com Pinóquio ou
outros personagens, seja na escola, no show de marionetes ou na Ilha dos
Prazeres.
A história
de Pinóquio é a história de um garoto sonhador e de bom coração, mas que não
está preparado para sair sozinho pelo
mundo – e é o que acontece quando ele é encurralado duas vezes por
criaturas interesseiras e de caráter duvidoso, e sua consciência (o Grilo
Falante, brilhantemente dublado por Joseph Gordon-Levitt) nem pode ajudar,
porque ele é retirado do caminho…
inocentemente, Pinóquio cai em armadilhas porque é, como tanta criança, ingênuo
e impressionável, e é convencido, por exemplo, de que Geppetto ficaria muito
orgulhoso dele se ele ficasse famoso – então, ele acaba preso à companhia de
marionetes de Stromboli, e faz o maior sucesso como o boneco de madeira sem
fios, e só consegue escapar de lá graças à eventual ajuda do Grilo Falante e do
seu próprio nariz, que cresce toda vez que ele conta uma mentira.
O filme tem
boas sequências, visualmente falando, a partir do momento em que você aceita o
extensivo uso do CGI – e é o que acontece quando as cenas não misturam os
personagens animados com os atores do live-action…
em sequências como o show de Pinóquio, a sua dança com Sabina, ou sua interação
com João Honesto e seu comparsa, quase nos convencemos de que estamos
assistindo a uma animação 3D. Toda a sequência da Ilha dos Prazeres, por
exemplo, já me pareceu bem menos atraente.
Quando Pinóquio é capturado e convencido a ir para um lugar “onde não existem
adultos para lhe dizer o que não
fazer”, ele quase é transformado em burrinho, como as outras crianças, e
vendido a criaturas estranhas, mas ele acaba recebendo a ajuda do Grilo Falante
e escapar, e toda a sequência é importante porque mostra que, mesmo sem o
Grilo, ele está começando a perceber o
certo e o errado.
O último ato
do filme traz, então, o reencontro de Pinóquio e Geppetto no meio do mar,
depois de Geppetto ter se desfeito dos relógios artesanais que tanto amava para
comprar um barco e buscar Pinóquio, porque ele
era mais importante do que qualquer coisa… é tudo razoavelmente rápido na
maneira como os dois se encontram, como são devorados por um monstro do mar e
conseguem escapar lá de dentro, fazendo uma fogueira para obrigar o monstro a
espirrá-los para fora, mas, dessa vez, quem o resgata não é o Grilo Falante… é
o próprio Pinóquio quem tem uma ideia. Então, o boneco de madeira tem uma cena
emocionante com o pai, que quase morre afogado… naquele momento, enquanto canta
“When You Wish Upon a Star” e chora,
Pinóquio mostra que ele é, como a Fada Azul queria que ele fosse, um garoto
corajoso, honesto e altruísta e, portanto, tão
real quanto qualquer “garoto de verdade”.
Foi uma
finalização bonita, mas bem diferente da animação de 1940 ou mesmo do livro
original de 1883, na qual Pinóquio é realmente
transformado em “um garoto de verdade” pela Fada Azul, como recompensa por ter
sido corajoso e preocupado com o pai. Gostei da mensagem escolhida para o remake de 2022, no entanto, que deixa no
ar se ele vai ser transformado em um garoto de verdade ou não, mas que mostra
que, independente da sua aparência e do que ele é feito, ele é tão real quanto qualquer outro garoto em seu coração – e é
isso o que importa, e é isso o que faz com que Geppetto o ame, independente de
ele ser de madeira ou de carne e osso. É uma pena que o live-action não tenha dado tão certo quanto se esperava e que não
vá figurar entre remakes como “Cinderela” e “Aladdin”, porque “Pinóquio”
tem uma história muito interessante…
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