Sandman, Volume 4 – Estação das Brumas: Capítulos 5 e 6

A decisão do Senhor dos Sonhos.

Finalmente é chegado o momento de tomar uma decisão… em “Estação das Brumas”, depois de resolver “reparar” um erro do passado e encontrar e libertar uma mulher que condenara ao sofrimento no Inferno, Devaneio dos Perpétuos recebe muito mais do que podia esperar – um fardo pesado de se carregar e que parece corromper tudo ao seu redor: a Chave do Inferno. Mudanças estão acontecendo no universo desde que Lúcifer decidira “se demitir” e fechar o seu reino, mas o lugar continua existindo, vazio e esperando que seu novo dono (ou novos donos) assuma a sua liderança – e, de alguma maneira, essa é uma decisão que passa pelo Sonhar e pelo Senhor dos Sonhos, já que era ele quem estava presente quando Lúcifer tomara sua decisão e aprontara tudo para o esvaziamento e fechamento do Inferno… agora, para quem ele entregará a chave?

 

“No qual um banquete é oferecido, e trata do que vem em seguida; diz respeito a diplomacia e quartos, chantagens e ameaças; bem como a receita incomum para o preparo de linguiças”

 

O Capítulo 5 (também conhecido como “Episódio 5”) de “Estação das Brumas” retoma o banquete oferecido pelo Senhor dos Sonhos no Sonhar a todos os dignitários que chegaram ao lugar lá no Capítulo 3, ainda antes de “fazermos uma pausa” para acompanhar o mortificante e assombroso conto de Charles Rowland, e ainda novos visitantes que não param de chegar… recebemos, agora, Cluracan, do Mundo das Fadas, que, diferente dos demais, não está ali para fazer uma oferta pelo Inferno ou para ameaçar o Senhor dos Sonhos e exigir que a chave lhe seja entregue, mas que está ali para pedir que Devaneio mantenha o Inferno vazio como está no momento, para que o Povo das Fadas não precise mais enviar sacrifícios, de tempos em tempos, para o antigo Reino de Lúcifer. Parece algo justo a ser considerado, mas Sonho também terá muito mais que considerar.

O Senhor dos Sonhos é diplomático, de uma maneira divertida e quase irônica de se acompanhar. Ele caminha pela “festa” que está oferecendo, sendo constantemente abordado por seres de diferentes lugares, e ele se dispõe a ouvir cada um deles quando eles dizem que “precisam conversar com ele em particular”. E ele os escuta… durante metade da noite, Sonho recebe cada um dos visitantes para ouvir suas bajulações, propostas e/ou ameaças, sempre agindo com uma praticidade admirável, e falando de uma forma tão decisiva que é praticamente impossível questioná-lo – “Azazel, você me disse o que está oferecendo. Eu entendi o que propôs. Você ouvirá minha decisão amanhã. Agora, parta”. Para cada um deles, o Senhor dos Sonhos responde que pensará a respeito de suas palavras e que anunciará a sua decisão no dia seguinte…

Todos precisam esperar.

 

“No qual a aflitiva questão da soberania do Inferno é finalmente resolvida, para satisfação de alguns; minúcias da hospitalidade são esclarecidas; e no qual fica demonstrado que, enquanto alguns podem cair, outros são empurrados”

 

O Capítulo 6 (também conhecido como “Episódio 6”) é a conclusão inesperada da história central de “Estação das Brumas”: tanto em relação ao destino da Chave do Inferno quanto ao reencontro de Sonho com Nada, finalmente conseguindo libertá-la de seu sofrimento quase eterno… ainda sem ter conseguido tomar uma decisão, depois de passar todo o restante da noite pensando nas bajulações, ofertas e ameaças (afinal de contas, todos têm algo que ele pode querer e/ou precisar, como Nada ou informações a respeito de um irmão desaparecido… mais um Perpétuo que ainda não conhecemos?!), o Senhor dos Sonhos reúne todos os emissários em seu palácio para fazer o seu anúncio, e então ele é abordado por uma questão que ainda não tinha sido levantada, e que vem dos anjos que vieram da Cidade Prateada para essa reunião no Sonhar…

Eles não tinham conversado com Sonho ainda, e são eles que decidem toda a questão. A resolução da grande pergunta “Quem vai ficar com a Chave do Inferno?” acaba sendo muito mais reflexiva do que conflitiva, diferente do que esperei, confesso, mas também, reconheço, por ingenuidade minha: isso é “Sandman”, e a resolução é muito digna da narrativa de Neil Gaiman. Duma é incumbido da função de assumir não apenas a Chave do Inferno, mas o Inferno propriamente dito, já que o Criador diz que o Inferno precisa existir, em uma questão de “equilíbrio”, porque é uma sombra do Paraíso, e precisa estar ali para manter a dualidade de recompensa e punição, por exemplo… a grande ironia brilhante da sequência é a revolta de Duma de ser “condenado” ao Inferno e lamentar não poder mais voltar à Cidade Prateada dizendo que isso é injusto porque “não fez nada”… não se rebelou, como Lúcifer.

E, na sua revolta com a injustiça, ele “se rebela”.

Toques brilhantes de Neil Gaiman.

O Senhor dos Sonhos anuncia, então, sem grandes delongas, que a Chave do Inferno não lhe pertence mais e que ficara a cargo dos anjos da Cidade Prateada que, agora, comandarão o Inferno, para onde os demônios poderão retornar… Sonho é justo e decidido, e sabe que nunca foi soberano daquele Reino, tampouco o criou, e se quem o fez o clamou de volta, ele não tinha outra escolha a não ser devolvê-lo – e a sua decisão é aceita pela maior parte dos dignitários. Não, é claro, por Azazel, contra quem Sonho precisa entrar em um conflito direto para resgatar e libertar Nada (com quem ele ainda não teve a chance de conversar de verdade), mas enquanto Azazel se vangloria e planeja contra Sonho, ele esquece-se que está no Sonhar, onde tudo obedece à vontade de Morfeus, e ele nunca teve a chance de vencer… aquele é seu Reino, ninguém pode vencê-lo ali.

 

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