Último Capítulo de “A Favorita” (16 de Janeiro de 2009)
“Você é minha favorita, sabia?”
“A Favorita” é uma das melhores novelas das nove da Globo. Eu
adoro o conceito inovador sem perder o estilo “novelão”, e as atuações de
Cláudia Raia e Patrícia Pillar estão impecáveis,
mas eu não acho que o último capítulo seja tão impactante como a novela como um todo – não tinha nada pelo que ainda aguardávamos
ansiosamente. João Emanuel Carneiro concebeu, em um primeiro momento, uma
novela na qual as figuras de “mocinha” e “vilã” não eram claras, uma ideia que
acabou tendo que ser revista, infelizmente, e que rendeu uma revelação
antecipada do plano original do autor – mesmo assim, agora de uma maneira mais
“clássica”, João Emanuel Carneiro consegue conduzir uma trama bem amarrada e
com carisma, que entrega com competência a história de uma promissora dupla
sertaneja separada pela inveja e outras desavenças…
E chegou a hora de Flora pagar pelo que fez.
A revelação
de quem era a assassina do Marcelo já tinha acontecido muitos meses antes no entanto, e várias outras coisas já vão
acontecendo no decorrer da trama, o que gera uma novela com um ritmo gostoso de
se acompanhar, mas é impossível não notar que não ficou nada de muito grandioso para o último capítulo. O público
já sabia que a Flora não prestava há muito tempo, os demais personagens já
tinham descoberto isso também há algum tempo, e nem mesmo o momento em que a
Donatela consegue provar sua inocência
fica para o último dia… a trama do “filho perdido” de Donatela também já foi
100% resolvida e Halley já tinha sido reconhecido oficialmente como “Matheus
Fontini”. O que, então, faz parte do
último capítulo? Nem mesmo o casamento de Donatela e Zé Bob! Por isso, acho
que “A Favorita” tem um último
capítulo bem menos expressivo do que
gostaríamos.
A única
parte mais com cara de “último capítulo” é a Flora ameaçando a vida de Donatela
e Zé Bob uma última vez. Ela invade a
lua-de-mel do casal, enlouquecida, preparando um café-da-manhã para os dois, de
forma doentia, enquanto Donatela pede que ela vá embora dali, que fuja, mas
Flora está decidida a não fugir – com
uma arma apontada para os dois, ela os faz tomarem o café, enquanto fala sem
parar, construindo uma cena extremamente tensa que, infelizmente, acaba cedo no
capítulo. Donatela tenta apelar chamando a Flora de “minha irmã” novamente, mas
Flora diz que não vai mais cair nessa sua
conversa, e então ela acaba atirando em Zé Bob para mostrar que está falando sério. Mas ela não quer
parar nesse primeiro tiro, que foi no braço: ela diz que foram três tiros em Marcelo, e serão três tiros no Zé Bob…
o último na cabeça.
Antes que
Flora possa voltar a atirar, Lara, Halley, Irene (“Que que você vai fazer, sua múmia?”) e Silveirinha aparecem ao
resgate, e agora eles só precisam conseguir deter Flora antes que ela dispare
outro tiro, e Donatela tenta convencê-la de que, antes de morrer, elas
“precisam dizer uma à outra tudo o que não disseram”, e Flora prova mais uma
vez que é mesmo uma vilã icônica
quando diz que não tem nada para dizer,
e como Donatela diz que ela tem,
Flora responde: “Não tem problema, depois
você psicografa”. Flora é SENSACIONAL, mas não é um pouco triste que os melhores momentos desse último
capítulo tenham sido justamente com e sobre a Flora, na primeira metade do
capítulo? Tomada pela raiva que sente de Flora (e de si mesma), Irene aponta
uma arma para ela, e sinceramente: eu não
consigo levar a Irene a sério, ou me importar com ela.
Que
personagem chata, sério!
Mas Irene
estava ali, no fim das contas, apenas para ser a pessoa que levou mais uma arma para toda essa sequência,
para essa “missão de resgate”, porque é a arma que Lara toma da avó e aponta
para Flora – “Atira, minha filha. Assim
você vai ser uma assassina igual a sua mãe”. A cena progride razoavelmente
rápido, porque Lara grita dizendo que sua
mãe é a Donatela, e então tem coragem de apertar o gatilho e atirar em
Flora, embora não seja para matar,
porque ela atira mais perto do braço. E é assim que a parte mais importante do capítulo chega ao fim, com a Flora e o
Zé, baleados, sendo levados para o hospital, e do hospital ela é mandada direto
para a cadeia – “Você já é de casa, né?
Então boa estadia pra você”. É surpreendentemente abrupto, e Flora deixa a
sensação de que ainda queríamos ver mais
coisa dela, não apenas sua chegada à cadeia e o escárnio de Diva ao
recebê-la…
Enquanto
Donatela torce pela recuperação de Zé Bob no hospital (a operação é um
sucesso), outras tramas vão se fechando, como o filho de Halley e Maria do Céu
nascendo; a Diva/Rosana saindo da cadeia e sendo recebida por Shiva, seu filho,
e os dois pais dele; a Catarina decidindo ir embora com Estela; e o Cassiano
indo falar com a Lara para dizer que sabe
que ela gosta dele, mas também sabe que ela é apaixonada pelo Halley, então o melhor que eles têm a fazer é se
separar e parar de mentir um para o outro. Adoro a maturidade de Cassiano, que
consegue respeitar a si próprio e a Lara, e então ele se despede, mesmo que
isso lhe parta o coração… pouco depois, durante um casamento na cidade, ele
está cheio de trocar olhares com Alícia (“Alícia,
sabe que eu acredito bastante em destino?” “E eu acredito em príncipes
encantados”), e os dois formam um casal interessante no último capítulo de “A Favorita”, com direito a beijão e
tudo!
Lara, por
sua vez, vai atrás do amor de sua vida: Halley. É uma cena interessante dos
dois, principalmente porque todo o visual do rancho é muito bonito. Então eu gosto de vê-los lá no meio da natureza, de
todo aquele verde, ao som de “Fidelity”,
que é uma música que eu adoro e que foi tema do casal durante toda a novela.
Lara está ali para confrontar o Halley depois de ele tê-la feito acreditar que ele estava com outra pessoa, e ele
explica que só fez isso porque não queria pressioná-la, já que ela estava com
Cassiano e ele não queria “ficar entre eles”. Ela explica que já não existe nada entre ela e o Cassiano (mas
omite o fato de que não existe porque
ELE terminou com ela, enquanto ela dizia que “ele estava se precipitando”, mas
tudo bem), e então ela se joga nos braços de Halley… e, bem, faz muito tempo que sabíamos que eles ficariam juntos.
“Você veio pra mim?”
“Vim. Eu vim inteira pra você”
Então, “A Favorita” avança dois meses para
mostrar uma espécie de “epílogo” no qual vemos a história começar a se repetir, com o Silveirinha descobrindo duas
meninas “que cantam como rouxinóis” em uma festa de interior e indo conversar
com o pai delas… enquanto isso, Flora está na cadeia, mais perturbada que
nunca, se apresentando como “Donatela”. Donatela, por sua vez, está casada com
Zé Bob, feliz, mas ela não pode evitar distanciar-se da realidade em alguns
momentos, e pensar em Flora… lembrar-se de quando ela e Flora eram crianças e
cantavam e brincavam juntas, e ela diz que “a imagem veio direitinho na sua
mente, como um filme”, de como a Flora era uma menina linda, e voltamos ao
passado, à infância de Flora e Donatela, e talvez não houvesse maneira melhor para encerrar “A Favorita” como aquela cena em flashback das duas.
É um final
mais melancólico que o de várias novelas. Não é um final triste, mas também não
é uma típica cena de “final feliz”, mas era o que “A Favorita” exigia. Posso estar indo longe demais, mas, para mim,
a recordação de Donatela e a cena parecem provar que, no fim das contas, Donatela era tão obsessiva quanto a Flora
– talvez a vida de nenhuma das duas fazia sentido sem a outra. No flashback, vemos as meninas cantarem “Beijinho Doce” mais uma vez (“Puxa, Donatela, você canta tão bonito. Você
é minha favorita, sabia?”) e se abraçarem, como se fossem melhores amigas,
como se fossem duas irmãs que se amavam… quando
foi que tudo deu tão errado, hein? As duas continuam cantando, então,
enquanto a câmera se afasta, com um tom meio sépia, proporcionando à última
cena um tom dramático e um tanto quanto macabro
e doentio.
Uma boa
finalização para o último capítulo.
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