Os Ricos Também Choram – O bebê de Mariana

Dor, sofrimento e culpa.

Eu estava muito curioso para ver como a versão de 2022 de “Os Ricos Também Choram” traria essa trama à tona, e eu estou MUITO SATISFEITO com como tudo aconteceu – novamente, a novela fazendo pequenas adaptações que atualizam a trama para os dias atuais de maneira convincente, sem que o espírito original se perca… o que não é simples, mas necessário. Embora a versão de 1979 de “Los Ricos También Lloran” e a versão protagonizada por Thalía em 1995, “Maria do Bairro”, tragam a protagonista dando o seu filho durante um surto (o título da radionovela original na qual a história surgiu, por Inés Rodena, é literalmente “Cuando se Regala un Hijo”), eu não estava conseguindo visualizar a Mariana de 2022 fazendo o mesmo, e o roteiro encontrou uma alternativa muito convincente que adapta o evento traumatizante, mas ainda deixa algo essencial para a construção da personagem: o sentimento de culpa.

Ainda afastada de Luis Alberto e se sentindo sozinha, Mariana tenta continuar sendo a pessoa cheia de vida e preocupada com os demais, como sempre foi, e é uma excelente e carinhosa mãe – diariamente, ela visita a paróquia do Padre Guillermo, e leva Betito consigo, e depois ela sai para passear com ele no parque, mantendo uma rotina que, como percebemos depressa, está sendo observada por alguém… e não é difícil saber quem está atrás daquela árvore. É tão triste ver que Mariana está leve e feliz com o seu filho, conversa com Betito cheia de sorrisos, e que o próprio Luis Alberto está lentamente começando a voltar a si, lembrando de alguns momentos bonitos que passou ao lado de Mariana, enquanto Soraya está planejando algo para cumprir a promessa que fizera no dia do nascimento de Betito: que ele e Mariana teriam uma vida miserável.

Soraya planejou tudo… há bastante tempo e com calma. Quando o segurança que normalmente acompanha Mariana se afasta dela na praça para buscar a chupeta que ela esquecera na paróquia ou comprar uma nova, Soraya sabe que é a sua oportunidade – tentando passar despercebida, com peruca e óculos escuros, Soraya solta Pulgoso na praça e, quando Mariana o vê depois de meses desaparecido, seu rosto se ilumina e ela corre para buscá-lo e pegá-lo no colo, porque o ama demais e achou que o tivesse perdido para sempre… então ela o pega, pergunta onde ele esteve esse tempo todo e o leva para apresentar o seu melhor amigo para o Betito, mas, quando chega, o carrinho está vazio. Mariana não se afastou demais e não por mais do que alguns segundos, mas Soraya foi rápida, e o filho de Mariana já não está mais ali… é desesperador.

Como comentei no início do texto: é diferente… mas eu gostei. Desde que comecei a assistir a essa versão de “Os Ricos Também Choram”, eu fiquei me perguntando como seria ver Mariana dando o seu filho na praça, e cada vez me parecia mais difícil conceber essa ideia… o roteiro, então, fez uma adaptação que condiz com a trama construída até então, porque é uma maldade na qual Soraya Montenegro, como a vilã da novela, de fato pensaria, e não fica nada exagerado – a situação é toda muito real… e dolorosa. Além disso, o fato de Mariana ter se ausentado, mesmo que por pouquíssimos segundos, para buscar o Pulgoso, pode gerar o sentimento de culpa que é algo que a Mariana de 1979 e a Maria de 1995 sempre tiveram por ter dado o filho para uma mulher na praça… eu não sabia o que ia achar da adaptação, mas assistir à cena me convenceu.

Ficou muito bem-feita!

Desesperada, Mariana grita o nome do filho, pede ajuda, mas não importa quantas pessoas o busquem, Betito já está longe àquela hora… Mariana desmaia em alguma rua enquanto para qualquer pessoa que esteja com um bebê no colo, e Soraya entrega o bebê para um homem, o instruindo a matá-lo – felizmente, ele não tem coragem de fazê-lo. O homem encena o assassinato da criança colocando fogo em uma casa e soltando a medalhinha que Betito trazia consigo (aquela que fora de Mariana), mas acaba o entregando para um amigo que sempre sonhou em ter um filho, mas ele e a esposa não conseguem engravidar… enquanto Betito é acolhido por uma família confusa, mas disposta a criá-lo com amor, Mariana é encontrada e levada para o hospital (Luis Alberto se preocupa de verdade com ela!), e Betito é oficialmente dado como morto.

Eu imagino o tamanho do desespero!

Felizmente, a pior fase de Luis Alberto já passou – ele se mostra genuinamente preocupado com Mariana quando a encontra no hospital, e é sincero ao acolhê-la sem julgamento ou sem a culpar por Betito. O sofrimento da possível morte do bebê, no entanto, é um sofrimento que ninguém na família sabe se vai conseguir superar. Quando desperta no hospital, a primeira coisa que Mariana faz é perguntar sobre Betito, e Luis Alberto lhe mostra a medalhinha e diz que “Betito já está no céu”. Os gritos e o choro inconformados e cheios de dor de Mariana enchem os nossos ouvidos e nos angustiam, e embora ela tenha certeza de que o filho não está morto, ninguém parece acreditar nela. A cerimônia, presidida pelo Padre Guillermo, é uma das sequências mais dolorosas de “Os Ricos Também Choram”, e nos perguntamos como seguir a vida depois desse sofrimento todo.

Luis Alberto, acabado como Mariana, se preocupa também com a esposa, e diz à mãe que ela não come, não fala, não quer sair do quarto, eles não conversam – “Se antes tudo entre nós estava mal, agora está pior. Parece que estamos mortos por dentro”. Surpreendentemente, Elena entrega alguns dos momentos mais tocantes de toda essa sequência, porque, de certa maneira, ela entende a dor pela qual a Mariana está passando… ela também já perdeu um filho. Quando ela bate na porta para falar com Mariana e pergunta se pode entrar, Mariana pede que ela não venha reclamar que ela não cuidou bem do bebê, porque “ela não sabe o que daria para que ele estivesse ali”, mas Elena diz que não veio reclamar ou recriminar… sabe o que ela está passando e entende que a dor mal a deixa respirar. Então, Elena oferece um colo que Mariana nem sabia que precisava.

Que nem ousava esperar.

Achei a cena das duas lindíssima, particularmente! Com os olhos cheios de lágrimas e sinceridade, e a voz calma, Elena diz que ela não tem culpa de nada, que a única coisa que as mães fazem é amar demais aos seus filhos, e então ela compartilha o que sentiu e o que passou quando perdeu Matías, como precisou ser internada para lidar com isso, como perdeu o marido, o Luis Alberto, as amigas, ela mesma… e ela não quer que o mesmo aconteça a Mariana, por isso está ali como um apoio – quando Mariana se culpa, Elena diz que não vai deixar que ela se transforme em alguém que não quer ser, e então a abraça e fala do anjo que está lá em cima, agora, cuidando dela, e que quer que ela continue vivendo… é fortíssimo, e absolutamente triste, mas também é uma cena linda. A maneira como ela abraça Mariana e deixa que ela chore com ela.

Elena também aconselha Luis Alberto: é hora de ele estar com Mariana.

Que crescimento para a personagem! Estou feliz!

 

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