Alice in Borderland 2x06
“Dificuldade: Rei de Ouros. Jogo: Concurso de Beleza”
Confesso que
eu esperava um pouco mais desse episódio
– mas o fato de ele ter 75 minutos certamente não ajuda. Eu não sou adepto dos episódios grandes demais – acho que, em algum momento, ele corre o risco de
se tornar cansativo e fazer quem está assistindo pensar que “ele poderia ter
sido dividido em dois episódios”; ou pior ainda: “ele poderia ter sido resumido”. Nesse sexto episódio da
segunda temporada de “Alice in
Borderland”, temos a conclusão do jogo da Rainha de Espadas e um jogo
completo (!) do Rei de Ouros, novamente protagonizado por Chishiya… ambos jogos
promissores, mas que talvez exigissem um quê a mais em sua conclusão, embora, avaliando o roteiro e o conceito
por trás dos jogos, eles foram, de certa maneira, complementares.
Pelo menos
filosoficamente falando.
O jogo da
Rainha de Espadas era razoavelmente simples – mas isso não quer dizer que
precisava de uma conclusão “qualquer”. O time da Rainha tinha virado o jogo e
trazido um monte de jogadores do time desafiante para o seu lado, e Arisu e
Usagi precisavam encontrar uma maneira de resgatar
esses jogadores para salvar a vida de Kota, o garoto de 10 anos que fora
convertido em “Rei” da equipe. Não sei bem o que eu esperava – mas eu esperava
algo diferente do que aconteceu. Sem uma grande estratégia ou uma grande
reviravolta surpreendente, tivemos um fim de jogo baseado em um discurso motivacional de Usagi, e uma
virada que parece utopicamente fácil… tão fácil que, no fim, nenhum jogador
morre a não ser a própria Rainha de Espadas.
Kota
tampouco se torna um personagem importante ou recorrente, e Usagi e Arisu,
depois de terem salvado sua vida, o devolvem para os demais – sim, aqueles que
tinham escolhido deixar que ele morresse para garantir a própria segurança. E,
então, ganhamos uma sequência sem jogo
que está ali para explorar um pouco da proximidade e da relação de Usagi e
Arisu, que compartilham um momento legal quando encontram “piscinas termais”
nas quais podem tomar um banho, depois de tanto tempo, e onde encontram
elefantes (?) e trocam o seu primeiro (e talvez único?) beijo. Não é uma
sequência ruim, de modo algum, mas principalmente porque eu realmente me
afeiçoei a esses personagens – e temo torcer demais por eles, porque se trata
de “Alice in Borderland”.
Qualquer um deles pode morrer a qualquer
momento.
A segunda
parte do episódio é dedicada a Chishiya, que dessa vez ganha um jogo completo no episódio. Desafiando o Rei
de Ouros e outros três jogadores, Chishiya está em um jogo que envolve
raciocínio lógico, matemática e, por que não, psicologia. O jogo aparentemente simples consistia em jogar um
número de 0 a 100; então, a média dos números escolhidos era multiplicada por
0,8 e quem mais tivesse se aproximado do resultado era o vencedor da rodada…
perdia quem chegasse a -10 pontos primeiro. A estratégia do jogo depende,
então, de saber ler os demais
jogadores, algo em que o Chishiya é muito bom, e antecipar o raciocínio alheio,
para pensar no melhor valor a ser apostado, para, quem sabe, conseguir ganhar
cada rodada.
Enquanto o
jogo se desenrola, valores cada vez menores são apostados, o que faz sentido
dentro da dinâmica do jogo, e Chishiya surpreende a todos apostando, por
exemplo, 100, um valor que é impossível de sair como o vencedor da rodada… e
sabemos que, de um jeito ou de outro, ele tem um plano. O episódio também traz
alguns flashbacks interessantes do
Rei de Ouros, que era um advogado no “mundo real” e que fez de tudo para tentar
criar um jogo que considerasse justo, e do próprio Chishiya, que descobrimos
ser um médico pediatra antes de vir para “Borderland”. Essa é uma dinâmica de
narrativa que sempre me faz pensar em “Lost”,
porque realmente não sabemos nada
sobre esses personagens e suas vidas anteriores
à sua chegada a esse lugar.
A reta final
do jogo é muito menos sobre adivinhação e muito mais sobre estratégia
psicológica. Pessoalmente, eu articulei algumas estratégias possíveis, associei
o jogo ao pôquer e fiquei esperando que Chishiya blefasse, mas ele escolhe ser sincero graças à sua leitura de jogo
e, principalmente, do Rei de Ouros, apostando que ele continuaria defendendo
“um jogo justo”. A ideia tem muito a ver com “determinar o valor de uma vida
humana” e acaba sendo uma escolha do Rei de Ouros: ele pode escolher quem vive e quem morre? Ele tem o direito de decidir
que é a hora de outra pessoa morrer? A cada nova rodada, Chishiya arriscou
a própria vida, convicto de que tinha razão ao acreditar que o Rei de Ouros
continuaria jogando até o fim “seguindo seus ideais”.
No fim, em
parte parece que o Rei de Ouros “entregou o jogo”. Ou talvez Chishiya não tenha
sido tanto o “vencedor” desse jeito. É um final melancólico e digno de reflexão
que confronta os ideais das diferentes figuras: vimos a morte tanto da Rainha
de Espadas quanto do Rei de Ouros no
mesmo episódio, cada um de um lado de uma escolha simples… a Rainha de
Ouros defende a ideia de que, no fim, quando lhe é apresentada uma escolha,
todo mundo sempre escolhe salvar a
própria vida, porque esse é o instinto básico do ser humano; o Rei de Ouros
prova justamente o contrário, o que permite que Chishiya siga vivo. Não sei se
os jogos dessa segunda temporada são melhores
do que os da primeira, mas certamente a
tensão cresce a cada rodada.
E estamos cada vez mais perto do fim!
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