Bem-Vinda a Quixeramobim (2022)
“Quixeramobim, aí vou eu!”
Dirigido por
Halder Gomes, “Bem-Vinda a Quixeramobim”
é uma divertida comédia brasileira que se passa em uma cidade do interior
do Ceará, trazendo o carisma e o bom-humor de Monique Alfradique no papel de
Aimée, uma influencer fútil que perde
tudo quando o pai vai preso com uma série de acusações e todos os bens da
família ficam congelados… anunciando um “ano sabático” para os seus seguidores,
Aimée faz a única coisa em que consegue pensar: parte para Quixeramobim, o lugar de onde sua mãe veio, para tentar reaver uma casa que pertencia à
sua família antes de ela se casar com o pai e ir embora – afinal de contas,
bens adquiridos antes do casamento
não estão sob investigação e, portanto, ainda podem ser vendidos.
Monique
Alfradique se sai muito bem na comédia – algo que nós sabemos desde que ela
interpretara a icônica vilã Priscila, em “Malhação”.
Tive o prazer de assisti-la ao vivo em “Como
Ter Uma Vida Quase Normal”, no teatro, e ela arrasa novamente em “Bem-Vinda a Quixeramobim”, nos
arrancando risadas sinceras desde os primeiríssimos minutos do filme, com cenas
hilárias como aquela em que ela procura um carro para alugar e pergunta sobre o
bluetooth, quando ela precisa parar
em um posto de gasolina porque algo que comeu lhe deu uma baita dor de barriga,
ou quando o carro alugado estraga e ela entra em um caminhão a caminho de
Quixeramobim. São momentos de piadas rápidas e consecutivas que funcionam muito
bem.
O grande
destaque de “Bem-Vinda a Quixeramobim”,
no entanto, como o próprio nome já sugere, é a beleza de podermos explorar um
pouco do interior do Ceará – e Aimée se torna o nosso avatar, porque nós vamos descobrindo o lugar ao lado dela, quando
o divertido Eri, por exemplo, que é um
dos melhores personagens do filme, a ajuda a forjar o tal “ano sabático”
que ela prometera para os seguidores, a levando para uma série de paisagens
bonitas do Ceará para que ela possa tirar fotos dos ângulos corretos e fingir
que ela está em diferentes países, que chegam até a Austrália! A amizade que
vai surgindo entre Aimée e Eri é, certamente, um dos pontos altos do filme, e
esperamos pelo momento em que ela finalmente vai aceitar tirar uma foto com ele.
Aimée não
esperava encontrar tanto carinho e descobrir tanta coisa em Quixeramobim – mas
aquela experiência toda acaba a transformando. Inicialmente, ela só quer poder
reaver a casa da mãe, provavelmente vendê-la, e conseguir dinheiro para ir para qualquer outro lugar, mas conforme
ela se apaixona pela cidade e pelas pessoas dali, as coisas começam a mudar…
ela é muito bem acolhida na Pousada Paraíso por Shirleyanny e Genésia (pousada
durante o dia, cabaré durante a noite, a Xininlândia), por exemplo, e ela acaba
se envolvendo romanticamente com Alan Darlan, o cara que alega ter comprado a casa que pertencia à sua
família, e que ela descobre, eventualmente, que também foi enganado e,
portanto, não é o “calango seco” que ela acredita.
Ela se vê
envolvida em uma trama muito grande quando descobre que quem está por trás da
venda ilegal da propriedade de sua mãe (com direito a assinatura falsa de depois da sua morte e tudo) é a tal de
Kool Bier (ou, como eles chamam lá, o “Cu da Bia”), uma empresa de cerveja que
desviou o curso de um rio para gerar energia para eles e, consequentemente,
privatizaram a água da região, que agora vendem a “preço de rim” para a cidade,
que vive em um racionamento extremo, injusto e eterno… ela sabe que aquilo não
é certo e que alguém tem que fazer alguma
coisa para corrigir isso – e Eri e os demais esperam que ela seja essa luz…
afinal de contas, como influencer,
ela tem um número considerável de seguidores que podem ajudar a fazer um
barulho.
Aimée, no
entanto, recebe a oportunidade que queria quando chegou ali, dias antes: recebe
um telefonema do pai, que parece estar fugindo
do país, e ele a manda ir para Fortaleza, onde vai passar buscá-la para que
eles possam ir para Ibiza – mas Aimée felizmente não tem coragem de fazer isso… não tem coragem de abandonar os
amigos, tudo que viveu ali e a missão, que ela se deu conta de que é muito
importante! É clichê e esperado, sim, mas é bonito vê-la se lembrando dos bons
momentos que passara com Eri, com Darlan e com as outras pessoas de
Quixeramobim, então ela muda a senha de uma conta na Suíça e deixa o pai para
lá, para que ele lide com as consequências dos seus crimes sozinho, e retorna
para ajudar na invasão à Kool Bier.
“Bem-Vinda a Quixeramobim” brinca com um
humor sincero e divertido que me fez muito bem. Há um quê de romance, há
aquelas amizades lindas, há um pouco de crítica social e há muito humor, tudo
equilibrado para gerar um filme pra cima que nos faz gargalhar e torcer por
esses personagens – o que é muito importante. Não tem como não ficar emocionado
e orgulhoso pela pessoa que Aimée se tornou, depois de ter ido à cidade apenas
pensando em si mesma, mas acabando se conectando com a mãe, de certa maneira, e
suas raízes, quando ela celebra com os moradores de Quixeramobim pela rara
chuva que caiu na região e que foi o suficiente para derrubar a barragem da
Kool Bier e devolver para eles o açude que era
seu por direito. Lindo e divertido filme!
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