His Dark Materials 3x05 – No Way Out
“It’s Dust.
Sraf is Dust!”
Digo com
tranquilidade: O MUNDO DOS MULEFAS MERECIA UM EPISÓDIO TODINHO SÓ PARA ELE. Há
tanto a se explorar nessa “aventura” de Mary Malone, na sua relação com Atal,
na sociedade dos mulefas, a própria relação de Mary com o mundo, a questão das
árvores, das rodas, a aprendizagem de um novo idioma, a ideia de Sraf… ainda
que “His Dark Materials” não tenha
dedicado um episódio inteiro ao Mundo dos Mulefas (como, infelizmente, eu sabia
que não faria), foi absolutamente fascinante
ver a minha parte favorita de “A Luneta
Âmbar” ganhando vida em uma adaptação lindíssima e visualmente impactante.
E as cenas rápidas de Mary com Atal, sempre tão cheias de informação, me transmitiram a mesma sensação de quando
lia os capítulos curtos de Mary: toda vez
que chegava ao fim, ficava ansioso para retornar.
A primeira
sequência do episódio, que dura os primeiros cinco minutos que antecedem a
abertura, englobou vários capítulos de Mary Malone e jogou o seu plot adiante com uma velocidade
assombrosa que certamente fez muito mais sentido para os leitores da trilogia
de Philip Pullman. Acredito que esteja ali o volume de informação necessária,
mas toda a parte dos mulefas é uma das partes mais importantes de “A Luneta Âmbar”, e sinto que a série se
beneficiaria bastante de mais calma
para desenvolver tudo ali… parece que foi tudo tão rápido e, para mim, essas eram cenas muito intimistas e
reflexicas – era o tipo de trecho que eu lia e relia, e que eu fechava o livro para
pensar a respeito, e me parece
importante que se dê a essa trama o tempo necessário para que tudo se assente.
Não são apenas informações jogadas: são
descobertas muito bem conduzidas.
Mary Malone
está no que eu julgo ser o melhor lugar
do mundo – ou de qualquer mundo. No episódio anterior, ela viu um mulefa
pela primeira vez, e então ela seguiu Atal até o lugar onde os mulefas vivem… e
meu coração se encheu de emoção (e meus olhos de lágrimas) quando pude ver os
mulefas andando com as rodas pela primeira
vez (!), ou quando vi aqueles mulefas pequenos demais para poderem andar
com as rodas como os adultos o fazem. É uma emoção profunda que apenas quem leu
o livro e desenvolveu essa mesma relação com os mulefas pode entender, mas toda
a sequência transmite toda uma atmosfera de paz,
ainda que o ritmo acelerado da série tenha, também, conferido a ela certa urgência: Mary precisa aprender a se
comunicar com os mulefas depressa, e Atal não demora para dizer a ela que eles precisam de ajuda.
Em paralelo,
acompanhamos as demais tramas de “His
Dark Materials”, com destaque para Will e Lyra em sua jornada pelo Mundo
dos Mortos. Depois de ter abandonado Pan naquele cais, Lyra tem um diálogo
interessante e, a meu ver, importante com Will, no qual ele fala sobre como
finalmente entende por que ela sempre dissera que ele também tinha um daemon – e que, nesse momento, seu daemon deve
estar com Pan. Esmagados pela dor, Will e Lyra caminham Mundo dos Mortos
adentro, e descobrem um lugar assustador e, quem sabe, tedioso. Mais do que um
paraíso ou do que um inferno, aquilo parece uma prisão – o que, no livro,
Philip Pullman descreve como uma mesmice eterna e aterradora. Quando eles não estão sendo atormentados
pelas criaturas malignas que dizem coisas que não são necessariamente verdade,
mas nas quais eles acreditam…
Will ouve
falar sobre a mãe. Lyra sobre seu egoísmo. E
tudo é doloroso.
O Mundo dos
Mortos traz o tão esperado reencontro de Lyra com Roger, mas ela percebe
rapidamente que não sabe o que fazer
depois disso. Roger não quer lhe dar atenção, porque ele não é mais o mesmo que era quando está vivo, e tampouco sabe se
quer voltar para o “mundo real”, não daquele jeito… eventualmente, a história
vai nos conduzindo por uma narrativa surpreendentemente bela na qual Lyra consegue
se aproximar de Roger e conversar com ele sobre as coisas boas que eles viveram
quando eram crianças e corriam pelos telhados de Oxford, ou lugares proibidos
como a adega no subterrâneo… e são essas boas memórias que fazem com que as coisas se iluminem ao seu redor – e
que o lugar ganhe um pouco de cor e, quem sabe, um pouco de vida. As pessoas presas naquele lugar, atormentadas,
voltam a se lembrar de como é estar vivo.
Então, Lyra
finalmente tem um plano: ela desceu
até ali porque acreditava que a morte de Roger era injusta e, portanto, ele não
podia ficar ali… mas agora ela percebe que aquele lugar não é adequado para ninguém, então ela pretende levá-los de
volta ao mundo real – independente do que isso signifique. Ela não sabe o que
vai acontecer quando eles deixarem o Mundo dos Mortos, e é clara em seu
discurso porque não quer enganar ninguém, mas eventualmente todos concordam que
qualquer coisa é melhor do que estar ali.
Caminhando, compartilhando histórias e ocasionalmente sorrindo, o grupo liderado
por Lyra começa uma subida rumo a algum lugar onde Will possa cortar uma janela para fora… por
enquanto, ele não encontra nada que não sejam rochas. Foi angustiante ver o Will tentando cortar uma saída daquele lugar e
não encontrando nada.
A subida do
grupo também proporciona um reencontro BELÍSSIMO: Lyra e Lee Scoresby. Lee
sempre foi um dos melhores personagens de
“Fronteiras do Universo”, e é perfeitamente emocionante vê-lo abrir caminho entre a multidão para dar um abraço
sincero e cheio de amor em Lyra. QUE MOMENTO LINDO. Enquanto isso, Marisa
Coulter faz de tudo para tentar impedir o Magistério de enviar uma bomba até
Lyra, tentando convencer a Dra. Cooper a ajudá-la, o Padre Gomez convence o
presidente a deixar que ele assuma uma missão em busca da serpente, para
impedi-la de chegar a Eva, e o anjo outrora preso pelo Lorde Asriel consegue
escapar e ir até o Regente, para dar um aviso… e, agora, algumas das tramas da
temporada começam a se cruzar, quando o Regente fala sobre o Pó e decide
“testar” para ver como as criaturas sobrevivem sem ele.
Toda a ideia
de “Pó” é algo fortíssimo em “His Dark
Materials”, e eu gosto de falar sobre a própria nomenclatura. O Pó no mundo
de Lyra, as Sombras no mundo de Mary e o Sraf no mundo dos mulefas são todos a mesma coisa. Em um mundo
dominado pelo Magistério, no entanto, essa partícula é nomeada como “Pó” porque
é considerada, pela Igreja, como “sujeira”, como “pecado”, como algo “a ser
limpo”. Em paralelo, no entanto, embora o episódio não traga essa informação
como “A Luneta Âmbar” o faz,
descobrimos que o que Lyra chama de Pó, Atal e os mulefas chamam de “Sraf” –
que a própria Mary percebe que é uma palavra parecida à palavra “luz” na língua
deles. Assim, a ideia que aquele mundo tem do Sraf é a ideia mais acertada do que ele é, de fato: ele é
luz, ele é vida… e por isso os mulefas estão preocupados por ele.
Atal conta a
Mary que “ela precisa aprender a ver o Sraf”, e então Mary começa seus estudos,
suas pesquisas, suas descobertas que a levam até uma substância que lhe permite
ver o Sraf a olho nu pela primeira
vez – como os mulefas veem. É emocionante
assistir ao momento em que as coisas
mudam, em que Mary pode ver como Atal está cheia daquela partícula/de vida,
e então ela entende o que Atal quer dizer quando diz que precisa de sua ajuda:
o Sraf está indo embora do topo das grandes árvores do mundo dos mulefas e, sem
ele, o mundo está morrendo… assim como os mulefas, eventualmente, sem as
sementes. Por isso, agora Mary tem a
missão mais importante do mundo: tentar conter a “fuga” do Sraf. E talvez
essa seja a resposta a uma dúvida mais antiga de Mary, e talvez o pedido de
Atal tenha alguma coisa a ideia de “bancar a serpente”, que ela ainda não
entendeu.
Amando esse
desenvolvimento. Eu amo essa trilogia, amo essa série.
E amo os mulefas.
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