His Dark Materials 3x06 – The Abyss
“I’m gonna
be with my Hester”
Adoro como “His Dark Materials” consegue traduzir a
essência das páginas da trilogia de Philip Pullman para uma série que tem tanto
peso emocional e densidade narrativa quanto a obra original. “The Abyss” é um episódio arrebatador…
emocionante, triste e belo, é daqueles episódios que me fazem querer sentar e
refletir, quando ele termina, antes de poder começar a escrever qualquer coisa
sobre. Centrado na jornada, literal e figurativa, de Lyra e Will para fora do
Mundo dos Mortos, e nas ações de Marisa e Asriel na República, sempre vou dizer
que qualquer episódio dessa temporada
se beneficiaria de mais tempo com Mary Malone, Atal e o mundo dos mulefas, mas
as coisas foram conduzidas com tanto cuidado e com tanta intensidade que o
episódio funciona lindamente, começando a nos conduzir para a conclusão de “A Luneta Âmbar”.
Que, como eu
sempre disse, é menos sobre ação e mais sobre reflexão.
Marisa
Coulter é, talvez, a personagem mais complexa e mais interessante de “His Dark Materials”. Minha impressão
dela na série já é influenciada pelo conhecimento geral da trilogia, mas
lembro-me bem de como foi a leitura de “A
Bússola de Ouro”, como a Sra. Coulter foi apresentada como uma vilã, uma
mulher perigosa e detestável, inescrupulosa e cruel, com um macaco dourado que
era praticamente um demônio, e como essa imagem foi se transformando, o que
parecia totalmente improvável, até
chegarmos a uma anti-heroína pela qual torcemos e com a qual sofremos durante “A Luneta Âmbar”. A construção de Marisa
como personagem é espetacular, porque não era fácil fazer com que acreditássemos em seu sentimento por Lyra, e
grande parte desse episódio é justamente sobre isso… depois da ira de Metatron
ser lançada sobre o mundo, ela só se preocupa com Lyra.
Lyra ainda está viva?
Assim, vemos
Marisa Coulter retornando para a República, em busca de Lorde Asriel, e a
dinâmica dos dois funciona de uma maneira quase inexplicável. E é interessante
como os seus diálogos são cheios de tensão e de informação, e como tanta coisa
é colocada naqueles minutos. Lorde Asriel está mais descontrolado do que nunca, talvez, fascinado pelo abismo
aberto pela retaliação do Regente, que quer testar como as criaturas “se viram
sem o Pó”, sendo que é o Pó/Sraf que lhes dá vida, consciência, livre arbítrio…
tão envolvida em seus planos, na sua ambição e na sua arrogância, Asriel parece pouco se importar com a provável morte de
Lyra – ele só pensa em como o abismo que está sugando todo o Pó do mundo (!)
pode ser usado como uma arma para atrair e destruir o Metatron… afinal de contas, os Anjos são criaturas
feitas de Pó.
Gosto muito
de como a arrogância de Lorde Asriel é ameaçada quando, depois da morte de
Ruta, Serafina Pekkala aparece na República, e ela tem uma visão muito mais
ampla de tudo o que está acontecendo: sabendo do plano de Lyra, de “acabar com
a morte” saindo do Mundo dos Mortos e levando com ela as pessoas presas lá, ela
sabe como isso é muito mais importante do que qualquer “rebelião” que Lorde
Asriel esteja engendrando ali… é Lyra quem importa, Lyra é a protagonista do
que quer que esteja por vir, e a função de Asriel e Marisa é dar-lhe o suporte
de que ela precisa. Serafina também tem um diálogo fascinante com Marisa no
qual elas conversam sobre Lyra “ser a Eva”, e sobre o que isso significa,
porque não é e nunca foi algo ruim… o Magistério sempre pintou a ação de Eva
como algo impuro que trouxe o pecado para o mundo, mas Serafina tem uma outra
visão:
“Tudo o que Eva fez foi se atrever a experimentar. Foi
um ato de bravura”
LINDÍSSIMO.
No Mundo dos
Mortos, a subida de Lyra e Will enfrenta menos problemas do que a subida em “A Luneta Âmbar”, mas temos boas sequências,
como aquela tensão entre Will e Roger, porque existe certo ciúme mútuo ali de tudo o que o outro viveu com Lyra, ou o momento
em que Lyra cai do abismo que foi aberto em
todos os mundos e é resgatada pela Sem-Nome, a quem ela finalmente nomeia…
e é um momento bonito no qual Lyra faz um pacto com as guardiãs daquele lugar,
que outrora conheciam a mentira e a maldade, e que agora se sentem alimentadas por histórias verdadeiras. Por isso, os mortos estarão seguros enquanto
contarem histórias para elas, e ainda contarão com a sua ajuda para
chegarem até o lugar onde Will pretende abrir uma janela para que eles possam
voltar para o “mundo real”, possam “se unir de volta às coisas vivas”.
Se o episódio
passado trouxera o reencontro de Lyra e Roger, e o belíssimo reencontro de Lyra
e Lee Scoresby, “The Abyss” traz
também o reencontro de Will com o pai – algo em que ele estava pensando desde
que soubera que estavam indo para o Mundo dos Mortos. É um momento bonito
quando Lee percebe que Will é o filho do xamã que ele conhecia, e é Lee quem o
encontra e o traz até Will para que eles conversem mais uma vez… um diálogo também muito bonito e muito
importante. É legal como Will diz ao pai que não fez o que ele pediu e que
não é quem ele queria que ele fosse, e John Parry/Jopari responde que não é
mesmo, que ele é muito mais, e como
os dois se abraçam com emoção em uma nova despedida. O diálogo também traz uma
informação na qual Will talvez nem tenha muito tempo para pensar: sobre como ele não devia tentar viver em um
mundo que não é o seu…
Sobre como merece “uma vida plena”.
Vem dor pela
frente!
O fim da
jornada os leva até o ponto mais alto que eles conseguem alcançar no Mundo dos
Mortos, e então Will, com certa dificuldade, mas habilidade, consegue abrir uma
janela para um mundo lindo e convidativo, através da qual os mortos podem
passar e se juntar novamente ao que é vivo… ao passar, eles se tornam Pó, assim
como acontece com os daemons quando as pessoas morrem no mundo de Lyra, e é um
momento tocante que traz novas despedidas tristes e bonitas: Lyra abraçando
Roger e depois Lee Scoresby é o ápice da emoção nesse episódio, e o Lee falando
que “vai estar de volta com sua Hester” é uma das coisas mais lindas que eu já
ouvi! Enquanto isso, a guerra se acentua, porque Lyra desafiou a autoridade do
Regente liberando os mortos, e Mary Malone percebe que alguma coisa está
acontecendo… linda toda cena de Mary, por
mais curta que seja.
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