Sandman, Volume 4 – Estação das Brumas: Epílogo
“No qual
nós nos despedimos de amigos ausentes, amores findos, velhos deuses e da
estação das brumas; e no qual damos ao diabo o que lhe é devido”
Finalização
perfeita para uma história incrível. “Estação
das Brumas” talvez seja o meu Volume favorito de “Sandman” até o momento, embora tenha a impressão (ou mais “a
certeza”) de que Neil Gaiman sempre encontrará boas maneiras de me surpreender
em seus roteiros sinceros, criativos, poéticos e reflexivos… a capacidade
impressionante de mesclar o que é sombrio, macabro e sangrento ao que é belo e
emocionante, de alguma maneira. O Epílogo
(também conhecido como “Episódio ∞”)
de “Estação das Brumas” é uma das
edições mais ricas de toda essa
história, trazendo algumas decisões, algumas despedidas, pequenos detalhes que
sabemos que serão importantes eventualmente, e mudanças… o erro de 10.000 anos
atrás de Morfeus, o Senhor dos Sonhos, finalmente está “remendado” – pelo menos
dentro do que é possível remendá-lo.
Na edição
anterior, as tramas principais de “Estação
das Brumas” foram concluídas – a Chave do Inferno foi passada adiante e o
local recebeu nova liderança, e Nada fora salva de seu sofrimento eterno
infligido pelo ego do Sonho –, mas ainda temos detalhes a acertar, e pequenas
histórias a contar… a tentativa de Loki de enganar o Senhor dos Sonhos, se
passando por Susano-o-no-Mikoto, por exemplo, que acaba sendo resolvida com
Devaneio oferecendo-se para criar uma versão onírica de Loki que possa assumir
o seu lugar na tortura eterna naquela caverna, e “ninguém mais precisa saber”,
que rende a Loki uma dívida eterna ao Senhor dos Sonhos, ou a traição de
Cluracan, que se prepara para retornar para o Reino das Fadas deixando para
trás, no Sonhar, Nuala, sua irmã, como um “presente irrecusável” da rainha a
Morfeus dos Perpétuos.
E sinto que
ainda reencontraremos tanto Loki quanto Nuala.
Lúcifer, por
sua vez, está curtindo “férias” depois de ter se aposentado/se demitido e ter
deixado o Inferno para trás… as coisas estão seguindo sem ele, enquanto ele
está sentado em uma praia na Austrália, observando o pôr-do-sol e tendo que
reconhecer como ele é bonito.
Enquanto isso, no Inferno, Duma e Remiel assumem a liderança do lugar enquanto
tudo volta ao seu devido lugar: os demônios estão retornando para casa e,
depois deles, também retornarão os condenados… e, aos poucos, Duma e Remiel
aceitam a beleza da missão que lhes foi concebida, e planejam “mudanças” no
Inferno, que não mais trará dor e sofrimento sem justificativa – agora a punição é convertida em redenção e, de
alguma maneira, isso é ainda mais cruel
para as almas aflitas que ali se encontram… mais um brilhante toque de poesia e
perversidade cruel, cara de “Sandman”.
E como toda
a trama de “Estação das Brumas”
começou por causa de um erro cometido no passado por Morfeus (como seus irmãos
Perpétuos o ajudaram a enxergar em uma reunião convocada por Destino), é justo
que o Epílogo traga uma bela conclusão para essa trama, quando, depois de
resgatá-la de Azazel e libertá-la, Morfeus precisa conversar com Nada… esperamos por esse momento na edição anterior,
e finalmente o recebemos agora, nessa conclusão magnífica. Sonho aparece para
Nada como Kai’ckul, Senhor dos Sonhos, e a conversa dos dois é intensa, sincera
e conclusiva como ela deveria ser… Kai’ckul inicia dizendo que “acha” que
cometeu um erro e que deve lhe pedir desculpas, e Nada tem todo o direito,
depois de 10.000 anos de dor, fome e tortura, de ficar emputecida com a sugestão de que ele “acha” que deve desculpas.
Ele deve desculpas e pronto.
Sonho errou,
movido pelo ego, mas esse Epílogo é, talvez, a prova de que ele não é mais o mesmo que fora há 10.000
anos… e Nada também percebe isso. Ela lhe dá um tapa na cara, e, ao invés
de ficar enfurecido novamente e condená-la de volta ao Inferno recém-reaberto,
o Senhor dos Sonhos reconhece que merece aquele tapa e pede desculpas sinceras,
reconhecendo o seu erro, e ela o perdoa. Eles fazem as mesmas perguntas e
propostas de dez mil anos antes, mas as respostas continuam sendo as mesmas,
nenhum dos dois mudou de ideia: ela não quer ficar no Sonhar, e ele não quer
deixar tudo aquilo para trás… então, com tudo devidamente resolvido, é hora de
seus caminhos se separarem. A despedida final dos dois acontece de maneira
emotiva e melancólica, com Morfeus prometendo nunca esquecê-la, enquanto ela nasce novamente, em Hong Kong.
A possibilidade de um recomeço.
Excelente
arco! Agora, vamos para “Um Jogo de Você”…
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