Vale o Piloto? – Mila no Multiverso 1x01 – É sério, mãe?
Bem-vindo ao Universo D07P8.
Histórias
com UNIVERSOS PARALELOS sempre me fascinaram! Talvez esse seja um dos motivos
pelos quais eu sou tão apaixonado pela trilogia “Fronteiras do Universo”, de Philip Pullman, ou por que eu acredito
que “Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo”
seja o filme do ano de 2022. Embora histórias com universos paralelos e
alternativos tenham feito parte da mitologia da ficção científica há muitos
anos (Philip K. Dick, grande escritor do gênero do século passado, escreveu “Os Olhos do Céu” em 1957, por exemplo,
que falava sobre o tema), o termo “MULTIVERSO” foi popularizado mais
recentemente, quando o tema se tornou um assunto recorrente de histórias não
apenas de ficção científica, mas de fantasia como um todo – vide “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura”.
A ideia de
multiverso é bastante simples: infinitas realidades que coexistem
simultaneamente, mas cada uma razoavelmente fechada dentro de seu próprio
universo – até que alguém encontre uma maneira de atravessar através deles. Geralmente, é aí que a aventura começa de
verdade! “Mila no Multiverso” é a
mais nova produção original brasileira do Disney+, e traz o tema de maneira
leve, descontraída e, acredito, despretensiosa, focando na relação de mãe e
filha entre as personagens da grande Malu Mader e Laura Luz. Com episódios
curtos, uma fotografia colorida e um grupo de vilões possivelmente caricatos,
há um brilho de produção infanto-juvenil que me fez sorrir durante todo o
último ato do primeiro episódio de “Mila
no Multiverso”.
“É sério, mãe?”, o primeiro episódio da
série, começa em São Paulo, em 2011, no Universo 1S34T, com uma conversa entre
Mila e Elis sobre a existência de outros
universos – mas Elis ainda acha que Mila é jovem demais para entender a
respeito disso, e pede que ela volte a perguntar sobre o assunto dentre de
alguns anos. Dez anos depois, a relação de mãe e filha parece um pouco danificada pela ausência constante de
Elis, que passa dias inteiros trancada sozinha em seu laboratório, e embora ela
provavelmente esteja fazendo algo muito
importante, Mila não pode entender enquanto a mãe não lhe explicar, e eu
não posso culpar a Mila por ficar
chateada com a mãe quando parece que ela esqueceu o seu aniversário de 16
anos e nem sai para lhe dar bom dia.
Naquele
aniversário de 16 anos, no entanto, as coisas estão prestes a mudar de verdade
na vida de Mila… ela recusa um convite de sua melhor amiga para ir para a praia
no fim de semana, porque a mãe prometeu que tem uma surpresa para ela e que
quer conversar com a filha sobre algo importante – uma conversa longa. É um
pouco triste que, apesar de todas as constantes decepções, Mila abra um sorriso
sincero com a possibilidade e dispense o convite da amiga, porque tudo o que
ela quer é “ter a sua mãe de volta”, é poder conversar com ela, de verdade,
como não acontece há muito tempo. A noção de “ter a sua mãe de volta”, que
começa sendo apenas algo figurado,
acabará se tornando algo literal
quando ela tiver que resgatá-la dos Operadores.
Ainda
exploraremos os tais “Operadores” com calma, mas eles parecem estar destruindo universos (?), e estão atrás
de Elis por algum motivo – poderia ser por causa do equipamento que ela tem e
que parece permitir “viagens” entre universos distintos, mas eles não parecem
ter problemas com esses saltos… de qualquer maneira, uma visita inesperada dos
Operadores faz com que Elis não consiga cumprir sua promessa de ir buscar Mila
na escola no dia do seu aniversário, e isso dificulta ainda mais a relação entre elas, porque é impossível que Mila não
se sinta esquecida e frustrada. Infelizmente, por isso, Mila não está por perto
quando os Operadores invadem o laboratório de Elis… não que ela poderia fazer
algo, mas ao menos saberia que a mãe não estava mentindo.
O
dispositivo de Elis (que eventualmente será passado a Mila) é algo que permite
um salto entre universos de uma maneira muito similar ao que acontece em “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”,
porque não é um salto físico até
outra realidade, mas uma troca de consciências entre a pessoa daquele universo
e sua versão de algum outro. Assim, quando os Operadores conseguem finalmente
entrar no laboratório de Elis, a mulher
que está lá não é a Elis que eles procuram, mas alguma outra, de outro universo…
e que age de maneira “estranha” perante os olhos de Mila. Malu Mader arrasa
naquela sequência absurda que dá dicas a respeito do universo do qual essa
outra Elis veio: encantada com a qualidade e variedade de comida disponível, ou
com a água quente do chuveiro, por exemplo…
Mila só vai realmente entender um pouco do que está
acontecendo quando chega a sua própria
vez de saltar pela primeira vez. Estranhando o comportamento bizarro da mãe
e procurando respostas em seu laboratório, ela descobre o dispositivo em um
cofre cuja senha é a sua data de aniversário – o dia mais feliz da vida de Elis
–, e ela acaba saltando da sua realidade, o Universo 1S34T, para uma
completamente nova para ela… o Universo
D07P8. E preciso dizer que eu ADOREI! Há algo na caracterização do Universo
D07P8 que me faz pensar em programas da TV Cultura ou mesmo em “Acquaria”, o filme protagonizado por
Sandy & Júnior, e eu já estou empolgadaço para ver um pouco mais do que
Mila vai encontrar nesse universo, no
corpo de outra Mila.
No Universo
D07P8, Mila se vê no que eles chamam de “Instituto” – e que é, basicamente, uma
escola, repleta de estranhezas ainda a serem exploradas, mas é algo fascinante.
Esse tipo de história sempre vai me
deixar um pouco melancólico porque o meu sonho era poder me aventurar através
de universos paralelos, como a Dra. Mary Malone no mundo dos mulefas, em
“Fronteiras do Universo”. Além das novidades no visual e nos costumes dessa
nova realidade, Mila ainda vai ter
que descobrir que as pessoas não são exatamente as pessoas que ela conhece – Ju
aparentemente não é sua melhor amiga naquele mundo, por exemplo. Mas quem deve
chamar a atenção e ajudar Mila é Pierre, um garoto que parece derrubar líquidos em Mila em qualquer
universo.
E, quando o faz ali, ele parece “se lembrar”
de quando o fez no Universo 1S34T.
Como ele
poderia, a não ser que soubesse do multiverso?
Gostei
bastante da estreia! Não estou esperando uma ficção científica inovadora, nada
que já não tenha sido feito em outras produções com o tema de universos
paralelos, e provavelmente temos algo de roteiro simples e bem juvenil, sem
grandes pretensões, mas há algo em “Mila
no Multiverso” que me encantou, e é o carisma da produção. Os personagens
parecem ser interessantes, a cenografia é bonita… agora, Mila precisa encontrar
uma maneira de derrotar os Operadores, ajudar a mãe e entender que ela não é
tão ruim quanto ela pensa, no fim das contas. Uma pena que parece que a série
será muito centrada apenas nesse outro universo ao qual acabamos de chegar,
sendo que há uma infinidade de
possibilidades que poderiam ser exploradas.
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