Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes (Dungeons & Dragons: Honor Among Thieves, 2023)
“We must
never stop failing, because the minute we do, we've failed”
Poderia “Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes”
ser o começo de uma franquia de sucesso? Mesmo com uma recepção fria em termos
de bilheteria, certamente o filme tem potencial para isso! Com bons personagens
e boas atuações, um visual muito bacana e uma aventura divertida, acessível e
pouco ambiciosa, “Honra Entre Rebeldes”
é uma excelente porta de entrada para esse universo
fantástico cheio de riquezas narrativas – certamente, existe muito que se
pode explorar daqui para a frente… e mesmo com a baixa bilheteria (que é
resultado especialmente de problemas na promoção do filme), o filme tem futuro
por estar conquistando as pessoas que chegaram a ele e realmente se divertiram (o filme tem sido elogiado
pelo público e pela crítica).
“Dungeons & Dragons” é uma marca
forte. O jogo de RPG de 1974 da Hasbro é, possivelmente, o jogo mais famoso do
gênero, e rendeu algumas adaptações ao longo dos anos, dentre as quais se
destaca a animação de 1983 (que no Brasil foi chamado de “Caverna do Dragão”), cujos personagens chegam a aparecer
brevemente em algumas cenas desse filme, como uma espécie de brincadeira e/ou fan service que funciona de maneira
divertida (eu amei vê-los, de verdade!). Ao contrário do que se pensa, no
entanto, “Honra Entre Rebeldes” não é
um filme nichado apenas para os conhecedores do RPG de mesa… certamente há
riquezas que serão aproveitadas por esse público, mas o filme é uma grande e
gostosa aventura fantástica que não prevê conhecimentos prévios do universo.
Assim,
estamos entrando em um universo fantástico que, cinematograficamente falando,
nos remete às vezes a “O Senhor dos
Anéis” (sei que aquelas moradias dos Harpistas me lembraram muito o
Condado, tão fofas e aconchegantes quanto!). Gosto muito de como o grupo de
protagonistas é formado por diferentes “categorias”, e como isso é trazido em diálogos
nos quais se explora a “utilidade” e a importância de cada um para a equipe.
Temos Edgin, o Bardo, que é o líder do grupo, responsável por planos; temos
Holga, a Bárbara, que é a força da equipe, e demonstra isso muito bem em várias
cenas; temos Simon, o Feiticeiro, que ainda tem que confiar em si mesmo e
melhorar muito; Doric, uma Druida Tiefling cujo poder de se transformar em
diferentes animais é muito útil; e Xenk, o Paladino.
O filme tem
muito CORAÇÃO, a meu ver. Eu gosto da ideia de o filme parecer (e ser)
despretensioso, porque ele não quer necessariamente entregar algo
revolucionário ou que vai te fazer sair do cinema questionando a vida e a
própria existência… mas é uma aventura envolvente cuja única intenção real é te
divertir e te fazer se sentir bem durante aquelas duas horas, e faz isso muito
bem, entregando um roteiro competente, redondinho e ágil. Os atores se
entregaram aos personagens ao mesmo tempo em que pareciam se divertir, e eu só consigo transcrever isso em uma
palavra: carisma. Os personagens
fazem com que gostemos deles, com que nos divirtamos com eles, e é isso o que
um bom filme precisa fazer: fazer com que
torçamos por seus protagonistas.
Também
adorei o humor intrínseco ao filme –
sempre presente, mesmo nas cenas mais “dramáticas”. Há quase a sensação de que
o filme “não se leva a sério”, sem nunca cruzar a linha para algo escrachado e
sem noção… é “bobo”, mas bobo de uma maneira proposital e gostosa de se ver.
Damos boas risadas com os comentários descabidos de Holga, por exemplo, ou com
o fato de que Xenk não entende muito de ironia e sarcasmo e leva as coisas ao
pé da letra, ou a insegurança e pessimismo de Simon e as reações de Doric como
a mais sensata do grupo; Edgin, por sua vez, tem uma energia contagiante que
rende ótimos momentos, por mais simples que eles sejam, como aquela música que
ele canta para distrair os guardas, ou a sucessão de planos quando as coisas
começam a não sair conforme o planejado…
Gosto muito
de como “Honra Entre Rebeldes” é uma
grande jornada, passando por diferentes cenários, enfrentando diferentes
perigos, sempre em busca de alguma coisa, como o elmo com o qual Simon
precisará eventualmente sintonizar para acessar o cofre do vilão Forge
Fitzwilliam, o que nos remete demais ao universo de “Dungeons & Dragons”. Existem, sim, alguns problemas nos
efeitos visuais do filme que podem ameaçar quebrar a imersão, mas se você
estiver suficientemente envolvido com os personagens e investido na história, é
possível relevá-los – e eu acho praticamente impossível não estar. Atravessamos
campos, florestas, cavernas, um submundo perigoso e terminamos em um labirinto
de uma arena mortal, na qual eles precisam de estratégia para escapar.
E eu adoro como eles são bons em estratégias.
“Dungeons & Dragons: Honra Entre
Rebeldes” é GENIAL ao não transformar o jogo em uma partida em tela de RPG,
mas ao trazer elementos de uma que são até externos ao jogo propriamente dito.
Conforme acompanhamos as ações do grupo e os incríveis planos que eles elaboram
(gostei muito de toda a sequência com os portais, por exemplo!), podemos ver
cada um deles dando sua contribuição, e as diferentes habilidades sendo
importantes e necessárias, como se fossem mesmo avatares de um grupo de amigos
que, em algum lugar, está jogando “Dungeons
& Dragons”, discutindo o que pode ser feito a partir do que foi
estabelecido nos personagens que eles escolheram… de alguma maneira difícil de
explicar, isso torna tudo ainda mais
legal.
O filme
também tem um fio condutor emocional que humaniza os personagens e dá sentido
às suas ações – afinal de contas, tudo é uma luta de Edgin e Holga para
recuperar Kira e, de quebra, acabar com Forge Fitzwilliam e quaisquer que sejam
os planos de Sofina, a Maga Vermelha de Thay, que tem algum plano sinistro que
eles eventualmente precisam não só desvendar, mas impedir. Assim, “Honra Entre Rebeldes” traz em destaque
a relação de pai e filha de Edgin e Kira, bem como um pouco do luto de Edgin
por causa da morte da esposa, e um momento emocionante no qual Edgin precisa
fazer uma escolha e salvar a vida de Holga com a Tábua da Ressureição, porque
sua esposa já está em outra vida e
Holga é a figura materna que Kira conheceu e de quem precisa.
“Honra Entre Rebeldes” é UM GRANDE
ACERTO, e sinto que ele se sobressai em tudo aquilo a que se propôs: é uma
ótima aventura, visualmente incrível, tanto em cenários quanto em figurinos,
além de ser extremamente divertido e ter a sua pitada de emoção. Terminei o
filme com vontade de assistir novamente à “Caverna
do Dragão” e de jogar uma partida de RPG, enquanto espero por novidades…
sei que os números de bilheteria não
favorecem essa adaptação de “Dungeons
& Dragons”, mas parte de mim ainda espera por um futuro de alguma
maneira, e eu acho que ele pode vir – talvez não no cinema, mas quem sabe como
uma série de TV? Afina de contas, é um universo amplo com várias possibilidades
que não deveriam ser desperdiçadas.
Para reviews de outros FILMES, clique aqui.
Eu quero ver esse filme pela nostalgia de "Caverna do Dragão", mas confesso que estou com um pé atrás e deixando a vida passar, por causa da antipatia que fiquei desse ator. Agora, após seu texto, estou mais animado. Tentarei ver em breve. :)
ResponderExcluirEu achei bem gostosinho, mas só tem umas referências rápidas a "Caverna do Dragão", através dos personagens em live-action que aparecem, mas sem fala nem nada... mas parece que eles vão querer continuar com a franquia, e que vai ter uma série de TV, talvez venha um live-action com os personagens de "Caverna do Dragão"?
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