Los Hermanos: Musical Pré-Fabricado (2023)
“Canta o teu encanto que é pra me encantar”
Formada por
Marcelo Camelo, Rodrigo Amarante, Bruno Medina e Rodrigo Barba, Los Hermanos é
uma banda brasileira que se formou em 1997, estourou pouco depois com a
memorável “Anna Júlia”, e continuou
em atividade contínua até 2007, gravando quatro álbuns de estúdio e
conquistando fãs pelo Brasil inteiro, que vibram a cada reunião da banda que
aconteceu de 2007 até agora… com dramaturgia e direção artística de Michel
Melamed, “Musical Pré-Fabricado” é um
musical de palco diferente, fugindo
da tradicional proposta biográfica e proporcionando uma experiência audiovisual
inovadora, desconstruída e com muita poesia
e beleza. É, sim, sobre a banda, mas
é também sobre as letras das canções, sobre o que está por trás de uma
composição, sobre as vidas que foram tocadas pelas músicas…
Não sabia
bem o que eu estava esperando quando comprei o meu ingresso e sentei-me no
teatro – curiosamente, e isso é estritamente pessoal e já peço desculpas
antecipadas por divagar aqui, essa foi por si só uma experiência muito emocionante para mim, porque,
enquanto no Rio de Janeiro, “Los
Hermanos: Musical Pré-Fabricado” estava se apresentando no Teatro Casa
Grande, o mesmíssimo teatro no qual eu assisti ao meu primeiro musical ao vivo
na vida: “Hairspray”, em 2010. A
experiência de retornar àquele mesmo teatro mais de 13 anos depois é
indescritível, e já me colocou em um estado de espírito que intensificou a experiência a seguir, e
eu fiquei realmente encantado com a beleza, com a novidade, com tudo o que o
musical tinha a me oferecer.
O cenário do
musical é formado por quatro “caixas” imensas que tomam conta do palco e dentro
das quais acompanhamos diferentes
maneiras de se contar uma história. Gosto muito da fluidez inusitada de “Los Hermanos: Musical Pré-Fabricado”,
que não segue necessariamente uma ordem cronológica, nem necessariamente uma
conexão de uma cena com a próxima… é mais como a reconstituição de uma memória, que mescla informações e
sentimentos, nos transportando ao passado, às vidas de outras pessoas, a
sensações próprias, a reflexões – tudo o que a música é capaz de fazer com quem
a escuta. E somos embalados por sucessos dos Los Hermanos, como “Anna Júlia”, que é uma referência óbvia
com a qual o musical brinca
divertidamente, e canções como “Morena”
e “Sentimental”.
A primeira
parte do musical parece destrinchar algumas
das canções dos Los Hermanos, em uma sequência que dura quase que todo o
primeiro ato: na primeira das caixas/cubos no palco, um personagem narra uma
história da banda, da composição de uma música, das pessoas e histórias que influenciaram e/ou inspiraram certa canção; na segunda, geralmente ganhamos uma
“leitura dramática” de uma das letras de uma música conhecida, e é uma forma
curiosa e nova de olhar para músicas que conhecemos e que fazem parte de nossa
memória e de nossa história; na terceira, a banda do musical dá vida à canção
trazendo a melodia ao palco, e eu me peguei esperando
pelo próximo momento em que aquele cubo se iluminaria; no último, uma
dramatização da música, da história, do sentimento envolvido…
Essa é uma
estrutura que funciona brilhantemente, e da qual o musical consegue “escapar”
quando traz uma cena à frente, que não se passa dentro dos “cubos”, e é uma
estrutura com a qual “Los Hermanos:
Musical Pré-Fabricado” brinca conforme a desconstrói na nossa frente…
inicialmente, alternando a ordem em que as luzes se acendem, eventualmente “se
livrando” da estrutura física e proporcionando um segundo ato que passa uma
ideia de grandiosidade impressionante. Destaque para a reutilização dos cubos
para construírem cenários que preenchemos sozinhos, ou momentos que se tornam
visualmente espetaculares, como quando um dos cubos, iluminado em diferentes
cores, é girado no centro do palco pelo elenco durante uma canção…
“Los Hermanos: Musical Pré-Fabricado” nos faz SENTIR…
É muito
menos lógico e racional do que, de
fato, EMOCIONAL. Como poesia. Como música.
O elenco é
formado por um time talentosíssimo e carismático que nos faz sorrir, chorar e
sentir. Acho impossível não destacar a entrega, o talento e a performance de
Matheus Macena, que apresenta tantas facetas, que vão do cômico ao dramático,
compondo algumas das cenas mais intensas e mais memoráveis do musical para mim;
também fiquei encantado por Mattilla,
desde o seu primeiro momento no palco, e me peguei continuamente esperando para que ela surgisse
novamente; Ariane Souza é um espetáculo à parte, e ouvi-la cantar é um
presente; Yasmin Gomlevsky, que eu já conhecia de outros musicais, também
arrasa e me arranca sorrisos; o elenco é completado por Estrela Blanco, Felipe
Adetokunbo, Leandro Melo e Paula Fagundes, todos com suas próprias
oportunidades de brilhar no palco.
Por fim,
gostaria muito de comentar a respeito da banda do musical – e de como é bom
tê-los o tempo todo no palco. Muitas
vezes, os músicos do teatro ficam escondidos, e vê-los em cima do palco tocando
seus instrumentos é algo muito poderoso e transmite uma sensação muito boa…
grande parte do que me lembrarei para sempre em “Los Hermanos: Musical Pré-Fabricado” é devido a eles: Bianca
Santos, Estevan “Cípri” Barbosa, Evelyne Garcia, Felipe Pacheco Ventura,
Marcelo Cebukin, Yuri Villar e Pedro Coelho… destaco Pedro Coelho dando uma
palinha de atuação na sequência da palheta,
que me arrancou risadas e me fez sentir
coisas que eu nem sabia que podia sentir assistindo a um homem apaixonado
por sua palheta. Impossível tirar o olho dele durante todo o segundo ato,
inclusive… como ele está entregue e cheio de energia!
“Los Hermanos: Musical Pré-Fabricado” é
uma experiência incrível. RECOMENDADÍSSIMO!
Atualmente
em cartaz em São Paulo!
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