Lost 6x09 – Ab Aeterno

“Estamos en el infierno”

AH, COMO EU AMO ESSE EPISÓDIO! Deixando de lado um pouco a proposta dos flash sideways por uma semana, “Ab Aeterno” é um daqueles episódios de “Lost” com um único flashback longo, o suficiente para contar “toda” a história de um personagem – e, dessa vez, voltamos à história de Richard Alpert (ou Ricardo), sua chegada à Ilha, suas primeiras interações tanto com o Homem de Preto quanto com Jacob… é incrível como sementes plantadas desde sempre e, especialmente, no episódio anterior, tomam forma nesse episódio, e Richard é um ótimo personagem para que entendamos um pouco mais da dinâmica das “forças” maiores que estão na Ilha. Assim, “Ab Aeterno” entrega algumas respostas pertinentes a respeito de Jacob e da própria Ilha.

Não, ela não é o inferno… mas as citações a isso são incríveis.

O episódio tem um rápido flashback introdutório de quando Jacob procurou Ilana e deu a ela a missão de proteger os seis candidatos remanescentes a substituí-lo, que é o que ela está tentando fazer atualmente na ilha. Agora, no entanto, ela não sabe o que fazer em seguida, e Jacob lhe disse que ela poderia procurar “Ricardus” se isso acontecesse – o problema, é claro, é que Richard não tem a menor ideia do que fazer a seguir… como vimos no episódio anterior, ele está questionando a própria vida, que dedicou há anos a um trabalho que Jacob lhe deu, e parece que ele não chegou a lugar algum e, agora, ele não sabe se valeu a pena, mas tampouco pode morrer, porque ele foi tocado por Richard e recebeu essa “graça”, o que parece bastante doloroso.

Enquanto Richard corre sozinho para a floresta, “Ab Aeterno” nos leva de volta a 1867, nas Ilhas Canárias, antes de a vida de Ricardo mudar completamente – e, bem, ganhamos um episódio do Ricardo/Richard falando em espanhol quase que o tempo todo, e absolutamente lindo de barba e cabelo mais longo… não que, é claro, ele não seja lindo o tempo todo, mas aqui! No século XIX, Ricardo fez de tudo para salvar a sua esposa, Isabella, que estava morrendo, mas embora tenha enfrentado tempestade e homens mesquinhos, e tenha cometido um assassinato não-intencional enquanto brigava pelo remédio que poderia salvar a vida de Isabella, ele chegou de volta em casa, depois de um dia inteiro de viagem (meio dia de ida e meio dia de volta) para encontrar a esposa morta.

Meio sem propósito, preso e sem conseguir o perdão de um padre pelo seu pecado, Ricardo está para ser enforcado no dia seguinte, mas acaba sendo “salvo” pelo fato de que estava aprendendo a falar inglês – então, ele é “comprado” por um homem que pretende levá-lo para o Novo Mundo, como seu escravo, mas Ricardo nunca chega a esse novo país… ao invés disso, ele é levado até a Ilha, em uma sequência que nos explica tanto a chegada do Black Rock (o episódio anterior tinha mesmo dado a entender que Richard chegara na ilha naquele barco), quanto a estátua que foi destruída. E, uma vez, na ilha, Ricardo está à mercê de forças muito maiores que ele que pretendem usá-lo, e é interessante acompanhar o “embate” de Jacob e o Homem de Preto.

O Monstro de Fumaça mata quase toda a tripulação do Black Rock, mas escolhe deixar Ricardo com vida porque espera poder usá-lo para completar uma missão: matar Jacob. “Lost” brinca com elementos já apresentados enquanto percebemos como essa briga já vem de muito tempo: o Homem de Preto quer sair da Ilha, mas não pode fazer isso enquanto Jacob estiver vivo, e como ele tampouco pode matar Jacob ele mesmo, ele precisa de alguém que possa fazê-lo… e todo o seu jogo de manipulação é extremamente parecido com o que vimos anteriormente com Sayid: o Homem de Preto promete trazer Isabella de volta à vida (depois de aparecer para Ricardo na sua forma), assim como prometera a Sayid trazer a Nadia, desde que ele vá à estátua e mate o Jacob.

Gosto muitíssimo de toda a sequência da praia, quando Ricardo é surpreendido por Jacob, e de como Jacob é, de certa maneira, a representação do “bem”, mas não o suficiente para que ele seja bobo ou mesmo falso e difícil de acreditar. Existe muita humanidade em Jacob, na verdade, e eu gosto de ver a sua intensidade enquanto ele bate em Ricardo para arrancar dele a faca que ele pretendia usar para matá-lo, mesmo contra sua vontade (matar é errado, e ele sabe disso, até porque foi isso o que o levou até ali), e quando Ricardo parece acreditar que “ele já está morto”, Jacob lhe mostra que ele está errado o levando até o mar e o fazendo implorar por sua vida, descartando, assim, a possibilidade de que a ilha seja algum tipo de inferno ou qualquer coisa assim.

O diálogo de Jacob e Ricardo é incrível – uma das melhores coisas de se assistir em “Lost”. Ricardo pergunta, como o Homem de Preto sugeriu que fosse, se Jacob é “o Diabo”, e ele responde que não (ironicamente, o Mark Pellegrino interpretava Lúcifer em “Supernatural” mais ou menos na mesma época!), e não sei se é a interpretação de Mark Pellegrino, se é todo o background que já temos no personagem de Jacob, ou se é o fato mesmo de que ele faz mais sentido que o Homem de Preto, mas acreditamos em Jacob. Ele explica que não pode trazer Isabella de volta à vida, e explica qual é o seu trabalho ali e qual é o objetivo da ilha: como uma rolha impedindo o vinho de sair de dentro da garrafa, ele impede que o mal saia da ilha e se espalhe.

Foi, também, naquele momento que a vida de Richard mudou para sempre, quando Jacob lhe “ofereceu um emprego”. Era possível notar a bondade em Ricardo pela maneira como ele não foi totalmente corrompido pelo Homem de Preto, e ele poderia ser a pessoa que Jacob “usaria” para “interferir” na vida das pessoas quando quisesse – daquelas pessoas que ele trazia continuamente para a ilha para tentar provar ao Homem de Preto que ele estava errado sobre elas, e que elas não eram essencialmente más, mas podiam tomar a decisão correta entre o bem e o mal. Richard aceita o emprego, mas Jacob não pode dar-lhe em troca o que ele quer: a vida de Isabella ou a redenção de seus pecados; mas pode lhe permitir viver para sempre, como ele sugere, para que ele se redima sozinho.

Agora, tantos anos depois, Richard não tem mais certeza de nada. Jacob morreu sem lhe dar maiores explicações, ele não sabe o que fazer, o Homem de Preto parece mais poderoso do que nunca e reunindo um exército sabe-se lá para que, mas ele quer “mudar de lado”, como o Homem de Preto disse que ele poderia a qualquer momento. É angustiante ver o Richard ir sozinho para a floresta e para onde ele enterrou a corrente que pertencera a Isabella, gritando para que o Homem de Preto o escute, dizendo que “aceita a sua proposta”, mas, felizmente, alguém chega até Richard antes do Homem de Preto – o que nos entrega uma das cenas mais inesperadas e mais bonitas de “Lost”, quando Hurley diz a Richard que tem um recado de sua esposa.

Afinal de contas, Hurley fala com os mortos, e o vimos conversando em espanhol com alguém no início do episódio – alguém que Jack acreditava ser Jacob, mas Hurley fez questão de colocar Jack de volta no seu lugar, ignorar suas “exigências” e dizer que “isso não tinha nada a ver com ele”. É difícil, inicialmente, para Richard acreditar em Hurley, mas Isabella de fato está ali, e Hurley pode lhe dizer tudo o que ela está falando: sobre como ele não tem culpa pela sua morte, por exemplo, porque já era a sua hora, de todo modo… é emocionante e impede Richard de fazer uma burrice tremenda, até porque Isabella tem um último recado: Richard precisa deter o Homem de Preto, ou então todos eles estarão realmente no inferno. E a grande guerra entre o bem e o mal se anuncia!

 

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