Malhação 2008 – O sonho de Rita de Cássia

“[…] o melhor pra ela não é ficar do meu lado”

Eu estou MUITO SATISFEITO com essa parte da trama de “Malhação 2008”, de verdade. Apesar de algumas inconsistências em outras partes do roteiro, eu acho que a gravidez de Angelina está sendo tratada com muito respeito, e ainda gosto de como a história avança depressa! Além de toda a conscientização sobre a camisinha, a temporada ainda coloca uma única e rápida cena sobre o aborto, com bastante responsabilidade (falando sobre saúde pública, e não sobre religião ou crenças, e Angelina foi bem madura não julgando as pessoas), e fala sobre a adoção versus o abandono, mostrando com clareza que nem sempre a entrega para a adoção significa abandono ou “falta de amor”: em alguns casos, essa pode ser a maior demonstração de amor de uma mãe por um filho. E, assim, Angelina começa a entender Rita de Cássia.

Eu estou amando.

Angelina se recusou a deixar Rita de Cássia se aproximar, em um primeiro momento – e, como eu já disse em outros textos, eu acho que essa resistência no início é natural. Mas Angelina acaba frequentando um grupo de apoio para adolescentes grávidas, no qual ela conhece duas histórias destoantes: de um lado, ela conhece Leila, uma garota bem-resolvida que decidiu entregar o bebê para uma família que vai amá-lo e cuidar dele; de outro, ela conhece Lurdinha, uma garota sonhadora que, mesmo com a gravidez inesperada, planeja criar o filho porque acredita que “o lugar da criança é com os pais”. E é legal como as histórias têm nuances, e como nem tudo é tão claro ou simples como gostamos de acreditar, ou como nos fazemos acreditar quando queremos julgar as pessoas. Rita de Cássia já dissera a Angelina que “não é tão simples”.

Porque, spoiler: não é.

Lurdinha está grávida do dono da casa em que ela trabalhava, e ela está toda iludida, chamando ele de “noivo” e dizendo que “ele vai deixar a esposa para ficar com ela e o bebê”. Até que, quando Angelina chega na escola, Isidoro corre para falar com ela dizendo que “uma garota dormiu na frente da escola e está chamando por ela”. Então, Angelina conversa com uma Lurdinha chorosa que viu seu mundo despencar – a mulher do pai do seu filho descobriu que ele era o pai do filho que Lurdinha esperava, e então os dois brigaram feio e, é claro, o homem escolheu a esposa e ofereceu dinheiro para que Lurdinha sumisse de sua vida com o filho que carregava… ele a abandonou, e Lurdinha não tinha para onde ir. É cruel e, infelizmente, é comum, e agora Lurdinha não sabe o que vai fazer. E toda a história é parecida com a de Rita de Cássia e Félix.

Logo em seguida, Leila entra em trabalho de parto, e aqui tivemos uma parte que EU NÃO GOSTEI – mesmo que eu tenha elogiado no início do texto, eu ainda posso ter minhas críticas, né? Acontece que Leila era a garota que estava tão decidida em relação ao que fazer: ela ia entregar o bebê para o casal adotivo. Quando o bebê nasce, no entanto, ela acaba mudando de ideia. Com a primeira amamentação, com a maneira como ela acha a bebê linda, como os olhos da bebê a fazem lembrar do pai, e Leila fala sobre uma boneca que tinha quando era criança, que ela brincava como se fosse sua filha, e então ela anuncia: “Eu não posso. Eu não vou conseguir. Eu não vou doar minha filha”. Eu questiono muito essa parte por causa da mensagem que eles estavam passando: a mensagem mágica de que, por mais decidida que alguém esteja, não tem coragem ao ver o bebê?

Infelizmente, não é assim. Leila tinha certeza que o bebê estaria melhor com o casal que ela tinha escolhido… e talvez estivesse, e agora ela voltou atrás na sua decisão. Felizmente, “Malhação 2008” não insiste no erro e consegue se redimir com a história de Lurdinha – e, no fim, o que eles mostram é aquilo que Montanhas já dissera: “cada um tem a sua verdade”. As coisas mudam, as coisas acontecem, e nem sempre se pode planejar… Lurdinha fala sobre como o casal que ficaria com o bebê de Leila ficou decepcionado, e Angelina não entende muito bem seu comentário, porque era isso o que ela queria, que Leila não entregasse o filho, mas então Lurdinha diz que tomou uma decisão: ela vai entregar o seu filho. Angelina se assusta, não entende, tenta convencê-la do contrário, diz que ela sempre disse que o bebê tinha que ficar com ela, mas Lurdinha explica:

 

“Eu amo tanto esse bebê, Angelina, que eu tomei uma decisão: eu quero o melhor pra ela. E o melhor pra ela não é ficar do meu lado”

 

Lurdinha diz que ela não tem onde morar, não tem emprego, o pai não quer saber da criança, sua família tampouco vai ajudar… que vida ela pode dar para esse bebê? E o casal que ficaria com o bebê de Leila está há anos QUERENDO um filho, preparado para isso, e certamente eles lhe darão uma vida boa e muito amor – talvez ela tenha razão e o seu bebê vá mesmo ficar melhor com aquela família do que com ela. Então, embora Angelina implore para que ela não faça isso, Lurdinha está decidida e diz que “o maior ato de amor que pode ter com o filho é dar uma segunda chance a ele”. São escolhas de palavras muito acertadas para fazer Angelina pensar em Rita de Cássia, porque o que Lurdinha está fazendo agora é exatamente o que Rita fez daquela vez… e ver acontecer com Lurdinha faz Angelina perceber que talvez ela não tivesse outra escolha.

Assim, ela decide ir falar com Rita de Cássia, e tem que correr para o hotel antes que ela vá embora do Brasil, como disse para a Montanhas que iria, já que Angelina não queria saber nada dela. Quando ela chega no hotel e chama o nome de Rita, o sorriso emocionado e surpreso da mulher é DE ARREPIAR, quase chorei. Fico feliz com o roteiro ter avançado essa história depressa, porque não faz muito que Rita de Cássia apareceu, e Angelina já passou por todas as fases, de rejeitá-la a começar a entendê-la… ainda é apenas um começo e ela não vai chamá-la de “mãe” ou trocar uma série de abraços, mas ter aceita ouvi-la e estar disposto a compreendê-la certamente é um começo e tanto. Rita está eufórica e empolgada, quer conversar, quer saber tudo a seu respeito, e eu achei as cenas muito lindas… ANGELINA E RITA DE CÁSSIA ESTÃO MARAVILHOSAS.

E eu fiquei feliz… Angelina estava precisando de algo assim, de uma boa notícia, de algo que a deixasse feliz, pela primeira vez em muito tempo… então, ela começa a aceitar Rita de Cássia, embora ainda com suas reservas (como não aceitar o seu dinheiro – WHAT?), e a deixa realizar um sonho: Rita de Cássia quer ir às compras com ela. Foi tão bonitinho, porque aquilo é natural! Com toda a necessidade que Rita passou na vida, com o tempo que esteve longe da filha e com o dinheiro que agora tem, é natural que ela tenha esse desejo de levar a filha para fazer compras, enchê-la de presente. Não é materialismo, não é substituir afeto por presente, é só uma consequência de sua história e foi, no fim, muito bonito. As duas foram ao shopping, compraram roupas, presentes para o bebê, foram ao cabelereiro, tomaram sorvete, foram ao cinema…

E Angelina amou cada segundo daquilo.

É tão bom vê-la tão LINDA e tão FELIZ!

Foi um grande dia, para ambas.

 

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