Severance (Ruptura) 1x03 – In Perpetuity

Ala da Perpetuidade.

Eu gosto muito de como o gênero “ficção científica” é tão amplo que ele pode reunir uma série de diferentes estilos narrativos que se complementam e geram uma experiência única. Se os primeiros episódios de “Severance” fizeram um excelente trabalho apresentando a Lumos e a ideia de ruptura, gerando muito mistério, “In Perpetuity” é o episódio, até o momento, que mais trabalha com o suspense e a tensão. Do lado de dentro, Helly faz de tudo para escapar daquela realidade horrenda na qual se meteu, especialmente depois de o seu pedido de demissão ser “recusado”, mas não parece haver uma maneira de escapar daquele lugar; do lado de fora, Mark segue sendo tão prisioneiro da Lumos quanto lá dentro, mas sem perceber esse controle.

“In Perpetuity” me chamou muito a atenção em termos de montagem, especialmente nas cenas protagonizadas por Petey, enquanto as memórias do lado de dentro e do lado de fora começam a se misturar depois da “reintegração” – é quase cinematográfica a edição perfeita que sinaliza o estado corrompido de suas memórias depois do procedimento de ruptura. E continuamos constantemente temendo pela sua vida, especialmente quando a vizinha de Mark (que também é a sua chefe na Lumos) entra para investigar a casa e chega até o porão onde ele está escondido, mas ele consegue passar despercebido… infelizmente, isso também quer dizer que ele acaba saindo imprudentemente e sozinho para a rua e, no estado que ele tá, provavelmente não sobreviveu ao fim do episódio.

A não ser que ele seja ressuscitado na ambulância ou algo assim.

De todo modo, Petey é um personagem extremamente importante para “Severance”, porque foi ele quem começou a fazer com que Mark se questionasse a respeito de todo o processo de ruptura. Mark pode até dizer que “escolheu isso” e que “está feliz com sua escolha”, mas é verdade? É fortíssimo o diálogo de Mark e Petey quando ele se lembra de como Mark às vezes chegava ao escritório com os olhos vermelhos, e eles brincavam que “ele tinha alergia ao elevador”, mas na verdade é porque a dor que ele trazia do lado de fora continuava existindo lá dentro… ele só não sabia o que era. Não sei bem como o Mark poderá fazer alguma coisa pelo seu eu interno, mas talvez seja uma parceria interessante quando o eu interno também se rebelar.

Se ele o fizer.

Não que seja fácil. Helly está desesperada e fazendo de tudo para deixar a Lumos, mas eles negam seu pedido de demissão como se a Helly Externa não o tivesse autorizado (gostaria muito de poder conhecer mais da Helly externa, e provavelmente isso acontecerá em algum momento), e ela é obrigada a continuar trabalhando sem qualquer tipo de escolha… literalmente prisioneira e escravizada. A ideia do “detector de códigos” no elevador é assustadora – e um símbolo fortíssimo do controle absurdo que a Lumos tem sobre seus “funcionários”, porque nenhum tipo de mensagem pode ser transmitida… se fosse apenas algo para a segurança de dados confidenciais, as mensagens poderiam ser vistoriadas e aprovadas ou não, mas não é o caso…

Nenhuma mensagem pode ser mandada para o Eu Externo.

Ainda assim, Helly tenta, porque a única coisa que lhe resta é tentar, e isso rende cenas excelentes, cheias de suspense e angústia, como quando ela tenta escrever mensagens no braço, ou quando esconde um bilhete numa tampa de caneta que pretende engolir (mas que Mark a adverte a não fazê-lo, porque o detector de códigos supostamente também consegue encontrar mensagens dentro do corpo), ou a grande cena de quando Helly escapa da visita à Ala da Perpetuidade e corre por aqueles corredores labirínticos, parando na porta que é o limite da Ruptura, por onde ela tentou sair no primeiro episódio (e voltou várias vezes), e quebra o vidro tentando mandar uma mensagem para o lado de lá da porta, pedindo que sua Externa nunca mais volte.

Mas ela é capturada.

Aos poucos, vamos ganhando mais detalhes de toda essa organização macabra, embora ainda haja muito o que entender – e o mistério nos sustenta e nos faz querer mais e mais de “Severance”. Quando Helly é levada para a tal “Sala de Descanso”, e submetida a uma espécie de polígrafo enquanto lê um texto (que por si só já é um absurdo), vemos um pouco mais do que acontece no lugar para onde Mark foi levado no episódio anterior, e de onde Petey conseguiu, de alguma maneira, uma gravação: o texto que Helly está lendo é o mesmo texto que o Mark Externo ouviu em uma gravação de Petey, e eu estou realmente curioso para saber como ele conseguiu aquela gravação. E vamos ver quais serão os efeitos da Sala de Descanso sobre Helly.

O Mark Interno, por sua vez, está fazendo de tudo para manter Helly lá dentro, porque é sua obrigação, e é surpreendente como esses personagens “limitados” (no sentido literal, não como uma crítica, porque eles são personagens confinados a escritórios eternamente, como se não tivessem passado e história, e um diálogo do episódio reforça isso) despertam o nosso interesse… fiquei imaginando muito o Irving Externo, por exemplo, e se quem sabe ele é casado com aquele cara do outro setor com quem ele encontrou no corredor. Pode ser que o roteiro de “Severance” sofra uma reviravolta a partir do próximo episódio, agora que o Mark Interno encontrou o mapa que Petey desenhava atrás da foto no porta-retratos dele. Com Helly, o desaparecimento de Petey e agora o mapa, talvez ele esteja começando a questionar também

E será muito bom ter mais um “rebelde” naquele escritório!

 

Para mais textos de “Severance (Ruptura)”, clique aqui.

 

Comentários