Hoje é dia de Maria, Primeira Jornada – Episódio 2: No País do Sol a Pino
“Torto,
pobre ou malfeito, todo ser vivente pode andar reto porque humano não é ruim,
nem bom. Humano é ser incompleto”
Maria começa
a sua jornada pelo País do Sol a Pino, e descobre que existe muita tristeza e
injustiça do lado de fora do sítio de seu pai… esse segundo episódio de “Hoje é dia de Maria”, que brinca
novamente com diferentes técnicas teatrais na sua forma de contar histórias,
parece apresentar uma série de esquetes dramáticas, mas que são ultimamente
conectadas por uma temática clara e pelo objetivo do roteiro de nos fazer
conhecer mais da pequena Maria. Enquanto caminha em um lugar onde o sol nunca
se põe, porque a noite foi roubada,
Maria é sempre seguida de perto por um pássaro amigo que a observa e a protege,
e ela caminha em busca das franjas do mar e do seu tesouro, sempre em frente,
ajudando quem aparece em seu caminho.
Essa é o
grande mote e a beleza de “No País do
Sol a Pino”: Maria começa a sua jornada, depois de fugir de casa no fim do
episódio anterior, já encontrando um homem maltrapilho e de perna machucada,
que ela altruistamente resolve ajudar… Maria não pensa a respeito disso e não hesita, porque não há uma escolha a
ser feita: tem alguém na sua frente que precisa da sua ajuda e ajudar é a única
coisa em que ela pensa em fazer, com sua inocência e sua bondade. Assim como
Maria também ajuda um homem morto cuja dívida em vida não foi paga e, por isso,
ele é diariamente espancado, mesmo depois de morto: mexida com a situação e
sentida pelo homem que não pode ser enterrado e descansar em paz, Maria age
muito bem dando um jeito de “saldar sua dívida”.
Sempre há
beleza e melancolia na contagem de história de “Hoje é dia de Maria”. O toque teatral é acrescido, com força nesse
episódio, de músicas que intensificam, mais do que qualquer coisa, os
sentimentos intencionados para o espectador, e é belíssimo de se assistir.
Maria também se encontra com um grupo peregrinando tristemente sob o sol a
pino, cansado, e quase cogita desistir de sua busca pelas franjas do mar,
porque não há como conseguir atravessar aquele sertão sem uma noite que a
ajude, mas ela é uma garota jovem, que deve sempre seguir andando em frente, e
é o que ela faz, descobrindo sobre a noite que foi roubada, ajudando uma mulher
que tem sede e eventualmente encontrando, com os índios, a noite aprisionada
dentro de um coco.
Adoro a
magia e a poesia de “Hoje é dia de Maria”,
e a sequência na qual Maria faz a noite cair sobre aquele país que não via a
noite sabe-se lá há quanto tempo é um dos momentos mais bonitos e especiais do
episódio, que Maria também compartilha com o seu pássaro amigo, que se banha no
rio que finalmente volta a correr, enquanto Maria se encanta com as asas do
pássaro brincando na água e com as papoulas vermelhas que a deixam sonolenta,
no melhor estilo “O Mágico de Oz”. E
uma vez que a noite cai, as energias de Maria parecem ser renovadas, já que o
calor não a exaure mais como fizera antes, quando ela caiu desmaiada e foi
ajudada por passarinhos bondosos que “costuraram” ao redor dela um vestido
natural e fresco para ajudá-la a seguir.
Maria ainda
encontra – e esse é um elemento importante para a sequência da narrativa – um
grupo de crianças carvoeiras, trabalhando como escravas, tendo vendido até
mesmo suas próprias sombras para poder comer (!), e embora a menina carvoeira
(interpretada por Laura Lobo!) peça que Maria siga sua viagem, Maria não
consegue deixar de pensar nessas crianças cujas infâncias lhes foram roubadas,
trabalhando o tempo todo em condições horríveis, podendo apenas sonhar em ter
pés livres como os de Maria, para poder perseguir alguma coisa para além
daquelas minas, rumo às franjas do mar… é um final doloroso, que apresenta o
principal antagonista de “Hoje é dia de
Maria”: Asmodeu. As coisas estão
prestes a mudar para Maria.
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