Homem-Aranha: Através do Aranhaverso (Spider-Man: Across the Spider-Verse, 2023)
Explorando ainda mais o Aranhaverso!
Sequência do
filme de 2018, que é potencialmente um
dos melhores filmes de super-herói já feitos na história do cinema, “Homem-Aranha: Através do Aranhaverso” chega
para expandir um multiverso que já era rico, com a habilidade impressionante de
brincar com a grande variedade de elementos e personagens, e aprofundá-los de
uma maneira que eles sejam humanos e reais. Assim como o primeiro filme da
franquia, “Através do Aranhaverso”
explora as possibilidades do Aranhaverso com uma gama de personagens
interessantes e bem-aproveitados, como nenhum outro filme de herói o fez…o
filme tem diversão, referências, emoção, identidade própria e uma trama
complexa e ainda assim compreensível que é
uma delícia de se acompanhar.
Além disso,
sinto que “Através do Aranhaverso”,
como o primeiro filme, se preocupa em demonstrar o que é: uma adaptação dos quadrinhos. Existe um respeito magnífico à mídia
que deu origem a esse(s) personagem(ns) que interfere, inclusive e
primordialmente, na maneira como a animação é feita… e é uma das animações mais lindas que eu já assisti. Com um
visual deslumbrante, cores vivas e o uso do lúdico
para explorar sentimentos, emoções e reações visualmente, “Através do Aranhaverso” se aproveita de elementos dos quadrinhos
que talvez nunca soubéssemos, antes de 2018, que funcionariam tão bem no
cinema. Isso é uma marca da franquia que proporciona uma experiência recompensadora
para fãs, que se sentem como se estivessem lendo um quadrinho.
O resultado,
surpreendente e inovador em “Homem-Aranha:
No Aranhaverso”, de 2018, segue sendo lindíssimo. Em alguns momentos do
filme, eu estava tão absorvido em
observar cada detalhe dos traços e da animação que eu queria poder pausar o filme e admirar. O estilo
próprio de animação do “Aranhaverso”
também proporciona sequências de ação que são verdadeiros espetáculos – um show
de cores, traços e onomatopeias… além disso, o Aranhaverso é, por si só,
riquíssimo, e vem sendo explorado há anos nos quadrinhos, mas a popularização
do conceito de “multiverso” no cinema permitiu que isso fosse levado para as
telas, e poder ver diferentes “Pessoas-Aranhas” interagirem, cada uma com suas
habilidades, histórias, traumas e similaridades…
Uau.
Começamos o
filme na Terra-65, em uma espécie de prólogo
para a história a ser explorada em “Através
do Aranhaverso”, que envolve a Sociedade-Aranha liderada por Miguel O’Hara,
o Homem-Aranha 2099, e uma tentativa contínua de manter as coisas “dentro do
cânone”. Acompanhar a Gwen Stacy/Gwen-Aranha da Terra-65 já é incrível, porque
eu adoro a maneira como ela traz, como a maior parte dos Aranhas, a dicotomia
entre a vida sofrida que leva e as piadas que faz quando está sob a máscara…
existe um carisma inegável na maneira como os Aranhas são humanos cheios de feridas, e aquela Gwen está precisando lidar, por
exemplo, com a ausência de Miles Morales, a morte de Peter Parker e o fato de o
pai acusar a “Mulher-Aranha” pela morte do seu melhor amigo…
É fácil
entender por que ela abandona tudo e
se junta à Sociedade-Aranha.
Miles
Morales, por sua vez, está tentando fazer o seu melhor, equilibrando seu
trabalho como Homem-Aranha e tentando não decepcionar a família, que está
preocupada com o seu futuro e com o seu presente, porque parece que “eles nunca
sabem o que está acontecendo com ele”. Adolescente do Brooklyn de 15 anos e
picado por uma aranha radioativa que veio
de outra dimensão, Miles Morales é, possivelmente, o mais interessante dos
Aranhas – e não é à toa que ele foi escolhido para protagonizar essa saga do Aranhaverso nas animações. Miles é um
personagem com camadas, com quem é fácil de se identificar, e torcemos
incondicionalmente por ele desde o começo. Suas primeiras batalhas com o
Mancha, por exemplo, rendem cenas incríveis, com excelentes pitadas de comédia.
Que têm tudo a ver com o Homem-Aranha.
Digamos que “Através do Aranhaverso” gira em torno
da relação familiar dos Morales, e Miles tem ótimas cenas com os pais, seja
como Miles Morales ou como o Homem-Aranha, naquela conversa divertida na qual
ele tenta aconselhar o próprio pai a “deixar o filho voar”, por exemplo. É
particularmente doloroso pensar que Miles não
está fazendo nada de errado, e que ele não revela sua identidade aos pais
para protegê-los de possíveis ataques de vilões desgovernados, mas ele só está tentando salvar o mundo quando
se atrasa para uma reunião importante na escola ou quando se atrasa com os
bolos para a celebração pela promoção do pai, que está prestes a virar um
Capitão (!) da polícia. Mas como os pais poderiam saber se ele não diz? É natural que eles se preocupem.
Eventualmente,
Miles Morales é sugado novamente para
toda a trama do Aranhaverso, com uma visita inesperada de Gwen Stacy, depois de
tanto tempo… por algum motivo, no entanto, Miguel O’Hara e os demais não pareciam querer levar Miles para a
Sociedade-Aranha, mesmo que tantos outros Aranhas já tivessem sido
recrutados. E são muitos mesmo. A
sequência da base da Sociedade-Aranha consegue explorar uma variedade de
personagens, como Ben Reilly, o Aranha Escarlate; Pavitr Prabhakar, um
Homem-Aranha indiano; Jessica Drew, a Mulher-Aranha; Hobie Brown, o
Spider-Punk; Margo Kess, a Spider-Byte; Patrick O’Hara, um Homem-Aranha do
Velho-Oeste; o próprio Miguel O’Hara, o Homem-Ranha 2099; até mesmo um
Spider-Rex!
Poderíamos
passar horas apenas conhecendo cada
um deles.
Eu veria
tranquilamente uma animação com arcos centrados em diferentes Aranhas, porque
cada um tem seu estilo, seus poderes, e as possibilidades seriam infinitas…
enquanto brinca com o multiverso/o Aranhaverso, “Através do Aranhaverso” consegue até incluir algumas menções e/ou
aparições de versões live-action dos
personagens. Há um comentário divertidíssimo
sobre “o Doutor Estranho e aquele nerdzinho da Terra-199999”, que causaram um
caos nos cânones, por exemplo, e aparições breves dos Peters Parkers de Andrew
Garfield e Tobey Maguire, que foram momentos breves, de fanservice, mas justificados pela trama e importantes para ela, e realmente me encheram de emoção… fico
MUITO FELIZ porque, atualmente, é possível
fazer essas coisas.
A ideia de
“eventos canônicos” é introduzida no filme desde os primeiros diálogos, através
de Miguel O’Hara e Jessica Drew, mas é oficializada depois de Miles Morales interferir em um suposto evento canônico da Terra-50101, do Pavitr
Prabhakar, salvando a vida do Capitão, que deveria ter morrido naquela batalha.
E, aqui, entramos em uma discussão tão paradoxal
que é interessantíssima, e me agrada demais a profundidade emocional e de
discussão ética que existe em “Através do
Aranhaverso”. Miguel O’Hara está em um extremo no qual defende que não se deve interferir nos eventos, até
porque são eles que mantêm a integridade do Aranhaverso e de cada universo do
qual eles vêm… afinal de contas, todo Aranha tem uma perda significativa que o
tornou quem ele é.
Sem o Tio Ben, por exemplo, vários deles não
estariam ali.
Mas é certo não fazer nada quando se tem a
oportunidade?
Quer dizer,
Miles Morales estava lá, em um ataque do qual originalmente ele não deveria
fazer parte, talvez, mas tendo a chance de salvar
uma vida inocente, por que ele não o faria? Tendo a oportunidade de salvar
a vida do pai, que está prestes a se tornar o “Capitão Morales”, por que ele o
deixaria morrer? Por que ele assistiria
sem nem ao menos tentar? Parece ser isso o que Miguel O’Hara espera que ele
faça… e, se não o fizer, Miguel é capaz de mantê-lo preso ali até que “os
eventos canônicos aconteçam” e “a integridade do Aranhaverso se mantenha”, e
embora eu entenda o receio de Miguel, é impossível não estar ao lado de Miles
Morales na ânsia de salvar o pai… por isso, ele faz de tudo para deixar a
Sociedade-Aranha para trás e retornar ao seu próprio universo, a Terra-1610.
“Através do Aranhaverso” tem um
equilíbrio perfeito entre drama e ação, com pitadas de comédia, e a fuga de
Miles Morales é uma das sequências mais elaboradas e mais interessantes de se
assistir. Além de haver uma horda de
Aranhas atrás de Miles, tentando impedi-lo, o que gera uma ação surpreendente e
digna dos melhores quadrinhos que já lemos, também existe o peso da acusação de
Miguel O’Hara, que não deixa de martelar dentro da mente de Miles: ele é, por si só, uma “anomalia”, porque ele
foi picado por uma aranha radioativa de outra dimensão… segundo Miguel, se
isso não tivesse acontecido, o Peter Parker da Terra-1610 não teria morrido;
além disso, em algum lugar existe uma dimensão que não tem nenhum Homem-Aranha.
Percebemos,
quase junto com Miles Morales, qual foi o erro que ele cometeu… ao usar uma
máquina da Sociedade-Aranha para mandá-lo de volta para casa, Miles acaba na
Terra-42 e não na Terra-1610, porque a máquina acaba lendo a radiação da aranha
que o picou – e, agora, Miles está em um lugar hostil, sem heróis para salvá-lo
e sem ter como ir embora sozinho… um lugar aparentemente tomado pelo crime, no
qual o seu pai está morto, seu tio continua vivo, e aquela versão do Miles
Morales é o Gatuno. Enquanto isso, sentindo-se culpada por saber da eminente morte
do Capitão Morales e não ter dito nada a Miles, Gwen Stacy resolve ir atrás
dele, e percebe que ele acabou no
universo errado… e, portanto, ele precisa ser resgatado por uma equipe.
A sequência
final de “Através do Aranhaverso” é
FENOMENAL, e embora seja “um filme sem fim”, a sua grandiosidade é palpável – e
nos deixa com a sensação de que, na verdade, foi feito um filme de 4h30 que foi
“dividido em dois”… por isso, veremos “Homem-Aranha:
Além do Aranhaverso” em março de 2024, para concluir essa história
belamente iniciada na nova animação. Dessa vez, os Aranhas terão que enfrentar
o cânone para acabar com o Mancha antes que o Mancha mate o Capitão Morales e,
para isso, Gwen-Aranha precisa resgatar Miles, onde quer que ele esteja… e ela
leva consigo um time formado por “novos” personagens, como o Spider-Punk, a
Spider-Byte e o Homem-Aranha da Terra-50101, e velhos conhecidos, como o
Porco-Aranha, o Homem-Aranha Noir, o Peter Parker da Terra-616 e a Peni Parker.
Novamente,
esse filme vai ser UM EVENTO.
Estou muito
feliz com essa franquia e com o sucesso dela!!!
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