Malhação 2008 – A prova de Bruno e Angelina

O Múltipla Escolha Ernesto Ribeiro faz tudo errado!

As notas de Bruno e Angelina não estão muito boas – mas será que alguém pode realmente culpá-los? Quer dizer, ainda mais a Angelina! Além de todas as preocupações pelas quais ela passou, com essa gravidez fora de hora, ela ainda passou um tempo no hospital e um tempo de repouso! Não é realmente culpa dela que ela esteja com as notas baixas ou que ela tenha perdido aula… mas a escola (e o Múltipla Escolha Ernesto Ribeiro é bem desumano e injusto, por mais que não queiram que pensemos assim: é uma péssima escola) trata a Angelina como qualquer outra aluna, como se ela tivesse sido “preguiçosa” ou “relapsa”. Quer dizer, ela tem um laudo médico, tem atestados, não é assim tão simples e tão duro. Agora, no entanto, a escola simplesmente quer obrigar Angelina e Bruno a não ter férias e ficar assistindo aulas, e eu tenho um milhão de críticas à prova que eles propõem, bem como a toda a questão de “anulação das férias” e um monte de outras coisas.

“Isso é uma droga, a gente só se ferra. Precisa perder as férias?”

Olha, eu sou professor de Ensino Médio e digo: que historinha malfeita essa aí da cola da Angelina, hein? Em vários sentidos. Pra começar que todo o conceito desse “provão” é totalmente sem sentido do ponto de vista pedagógico: uma prova dificílima, com todo o conteúdo do semestre (!), com pouco tempo para estudar, o que eles queriam provar? Qual seria o aproveitamento do aluno ao ser “aprovado” nesse teste, afinal? Ficou evidente que eles precisavam decorar todo o conteúdo (volumoso demais, em tempo de menos, sem ajuda: aprendizagem zero), e assim seriam aprovados. Na escola em que trabalho, escolhemos o que é mais essencial para o exame final, por exemplo, e os alunos têm semanas para se preparar, e semanas nas quais eles podem assistir a aulas de revisão e tirar dúvidas: sempre haverá alunos que vão colar, provavelmente, mas aqueles que estão mesmo dispostos a aprender têm essa chance ao menos.

A prova é mal concebida e não prova nada.

Eu digo: queria que a Angelina saísse impune de tudo.

Além disso, a Montanhas pressionando o Bruno para que ele diga que “tem algo a ver com isso de cola”. Minha postura é: sinto muito, cola é um negócio que se não for pego no flagrante tem que deixar pra lá… não pode provar, esquece. Ele não errou em dizer que “não tinha nada a ver com isso”: Angelina já estava ferrada, se ele não tinha sido pego, não tinha por que se entregar, sinceramente. É um moralismo doentio que movimenta o roteiro de “Malhação”, sabe? Colar não é certo, até aí tudo bem… mas isso acontece porque foi incutido na mente dos alunos, graças às nossas escolas e sistema de educação como um todo, que nota é sinônimo de aprendizagem, e então eles ficam desesperados para consegui-la de qualquer maneira. Independente de saber ou não saber. Tem todo um movimento de mudança nesse sistema que ainda está em andamento.

E outra: colar não é fácil. Não é assim como as pessoas dizem. Durante uma pandemia, jogando as coisas na internet, quem sabe… mas não na situação da novela, por exemplo. Até parece que, sem estudar nada, o Bruno faria “rapidinho” (como ele diz) uma cola com “tudo o que ele precisava” (também palavras dele): como ele sabia que parte do conteúdo do semestre inteiro era importante, em primeiro lugar? Só se ele tivesse tido acesso à prova antes, e não é o caso. E o Adriano (que sabe ser bem autoritário e conservador, o que curiosamente é o oposto do que se dizia no início da temporada) é duro e não aceita qualquer justificativa de Angelina (que assume que errou, mas não teve tempo de estudar), e é engraçado (e revoltante) como ele se coloca em uma posição de “fiz minha parte”: e sabe como? Ofertando uma prova dificílima, com conteúdo demais e pouco tempo para estudar, e agora “a culpa é da aluna que não estudou”.

Mas, no fim, a escola não fez nada.

Sinceramente, isso tudo acaba me incomodando mais do que as maldades da Débora, sabe… e fico cada vez mais certo de que quem escreveu esse roteiro nunca trabalhou numa escola na vida e não sabe pelas coisas que a gente passa. O Múltipla Escolha Ernesto Ribeiro teve atitudes equivocadas em várias ocasiões, mas segue adiante… a temporada foi escrita por pessoas que estiveram na escola pela última vez em seus 17 anos, e então eles escrevem como os adolescentes veem a escola, como ficou no seu imaginário e só. Não há pesquisa, não há fundamentação, só é sem sentido mesmo. E, agora, a Angelina vai perder as suas férias para ficar estudando, sendo que ela ainda tem todo um segundo semestre pela frente e certamente pode recuperar essa nota, sendo uma aluna tão aplicada e inteligente como ela é. Ela teria arrasado na prova com um pouco mais de tempo.

Desabafo de um professor.

Já passou.

 

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