Meu Monstro de Estimação (The Water Horse, 2007)

How do you keep a secret this big?

“Meu Monstro de Estimação” era um dos meus filmes favoritos durante a minha adolescência e, ao reassisti-lo recentemente, pude voltar a me apaixonar pela história de Angus, um garoto que descobre um ovo misterioso nas piscinas de maré próximas à sua casa, e acaba fazendo um melhor amigo inusitado… a relação de uma criança com um “bichinho de estimação” místico ou vindo de outros planetas (Oi, “E.T.”!) sempre foi um assunto interessante para a ficção, e “Meu Monstro de Estimação” traz essa história com um pano de fundo da Segunda Guerra Mundial e uma brincadeira interessante com o caso do “Monstro do Lago Ness”, uma história escocesa mundialmente conhecida… com 74% de aprovação da crítica especializada no Rotten Tomatoes e 62% de aprovação do público, acredito que o filme faz um belo trabalho ao equilibrar seus elementos e contar uma história emocionante.

O filme começa muitos anos depois da Segunda Guerra Mundial ou da lendária foto do suposto Monstro do Lago Ness – aquela foto que ficou famosa! Aqui, conhecemos o velho Angus, disposto a contar a turistas as histórias reais do suposto “monstro”, e é assim que retornamos à Escócia de 1942… mais especificamente, às margens do Lago Ness. Visualmente, o filme é um espetáculo e, embora não tenha os melhores efeitos especiais quando o “monstro” fica “do tamanho de uma casa”, como diz Angus, “Meu Monstro de Estimação” consegue se sustentar pelos lindos cenários escoceses, pelo Lago Ness, e pelos figurinos de seus personagens… tudo é muito bonito. E ainda ressalto a qualidade dos efeitos empregados no pequeno Crusoé, como Angus nomeia a criatura que nasce do ovo que ele encontra, quando ele ainda estava em sua fase filhote.

Angus é um garoto retraído, silencioso e sem amigos, que sonha com o dia em que o seu pai vai voltar para casa, quando o seu tempo servindo ao exército finalmente terminar – ele passa grande parte do seu tempo na antiga oficina do pai, riscando em um calendário os dias até o seu retorno, sem saber que ele provavelmente nunca chegará… a mãe e a irmã mais velhas já sabem disso, porque o navio em que o pai estava afundou há mais de um ano, mas elas ainda não tiveram coragem de conversar sobre isso com Angus. A chegada de Crusoé faz algumas diferenças em sua vida, porque além de ele fazer um melhor amigo e se divertir com ele e querer protegê-lo a qualquer custo, ele ainda estreita relações com a irmã, que se torna sua cúmplice, e se torna amigo de Lewis Mowbray, um ajudante que chega à casa e que se instala na oficina de seu pai.

Os personagens são muito carismáticos e muito bem construídos… enquanto Crusoé cresce assustadoramente e deixa de poder ser guardado dentro de casa (em um barril, banheira ou privada), Angus precisa confiar nas pessoas ao seu redor e enfrentar desafios: como o seu antigo medo de água que não o permitia entrar no lago e brincar como as demais crianças faziam… em uma das cenas mais emocionantes do filme, Angus vai ao Lago Ness para visitar Crusoé e se lança à água sozinho em um barquinho, chamando pelo amigo, e se assombra ao vê-lo chegar: imenso, amigável e exatamente como a figura que conhecemos como o “Monstro do Lago Ness”. Quando reencontra o amigo, Angus faz um passeio nas suas costas em uma sequência bela e importantíssima para Angus, de liberdade: nunca o tínhamos visto sorrir daquela maneira…

E também é uma delícia vê-lo rindo ao contar a história para Lewis e para a irmã depois.

A Segunda Guerra Mundial é pouco retratada no filme, mas a casa na qual Angus e a família moram é tomada por uma tropa que se instala, muda as regras da casa e coloca o melhor amigo de Angus em perigo… não demora muito para que a tal “criatura do Lago Ness” fique famosa e comentada na cidade, e na falta de ter o que fazer (uma batalha real para travar) e na paranoia de acreditar que tudo é “uma ameaça alemã”, os soldados “hospedados” na casa da família MacMorrow começa uma desnecessária caçada a Crusoé – e é muito triste ver o desespero tomar conta dos olhos da criatura quando ele não entende o que está acontecendo e sua vida está correndo perigo… em uma das cenas mais tristes do filme, Angus tenta falar com Crusoé durante um ataque violento e a criatura não responde a ele, porque os ataques não param ao seu redor.

Mas não é porque Crusoé não o reconhece mais… é só porque ele está assustado.

Quando a vida de Angus está em perigo, Crusoé deixa tudo o que está fazendo para salvar o melhor amigo, e temos uma sequência emocionante, que é o clímax do filme, quando Angus salta novamente nas costas de Crusoé para tentar guiá-lo para longe de todos aqueles ataques – para tentar ajudá-lo a chegar no mar. É uma sequência desesperadora com tiros vindos de todos os lados, Lewis e a mãe de Angus tentando chegar até ele, e Angus fazendo de tudo para defender o seu melhor amigo, enquanto os soldados levantam uma rede instalada para prender submarinos alemães, impossibilitando a passagem de Crusoé para o mar… então, quando Angus retorna para a segurança junto com a família em um barquinho, Crusoé se prepara para fazer o salto de sua vida: se ele conseguir, ele pode derrubar a rede e encontrar a liberdade do outro lado.

Angus não sabe se voltará a vê-lo um dia, mas isso não importa naquele momento: é muito reconfortante ver a expressão vitoriosa de alegria e alívio no rostinho de Angus (e de todos que o ajudaram durante todo esse tempo), celebrando o fato de que seu amigo está em segurança. Talvez ele volte de tempos em tempos para visitá-lo… ou talvez ele tenha que se manter à distância porque todo mundo presta atenção demais no Lago Ness tentando vê-lo. De qualquer maneira, Crusoé está bem e Angus sabe disso. O filme é lindíssimo e ver o Angus do futuro contar a sua história com Crusoé com tanto sentimento é emocionante. “Meu Monstro de Estimação” é uma poderosa história de amizade e como essa relação que temos com alguém pode nos mudar profundamente – e como faríamos de tudo para manter alguém que amamos em segurança.

 

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