Peter Pan & Wendy (2023)

“I could never have dreamed of this!”

Eu SEMPRE fui apaixonado por Peter Pan, o menino que não queria crescer. O personagem, que surge pela primeira vez em 1904, criado por J. M. Barrie, protagoniza um livro também chamado “Peter Pan & Wendy” em 1911 e, desde então, ganhou uma série de adaptações, sequências e releituras que mantiveram viva a memória do próprio Peter Pan e a Terra do Nunca. É impossível não destacar a animação feita pela Disney em 1953, que foi um grande marco para popularizar o personagem; o live-action de 2003, intitulado “Peter Pan”, que é até hoje um dos meus filmes favoritos com o personagem; “Pan”, de2014, que é um prequel da relação entre Peter e o Capitão Gancho; e “Hook: A Volta do Capitão Gancho”, protagonizado por Robin Williams em 1991, e que traz o Peter já adulto.

Não é à toa que “Peter Pan & Wendy” era um dos live-actions que eu mais estava ansioso para assistir, porque eu acho que existe muita magia em torno desse personagem e da temática que ele traz, justamente quando ele é colocado ao lado de Wendy, que funciona como o seu contraponto: como é crescer? O fato de Peter Pan viver na Terra do Nunca e não querer crescer, como é eventualmente evidenciado pelo novo filme, é um retrato sincero do medo e da angústia que muitas vezes acompanha o fim da infância, porque não sabemos como as coisas serão dali para a frente… e se deixarmos de ser nós mesmos no momento em que “crescermos”? Talvez Wendy tenha razão e crescer seja a maior de todas as aventuras, e manter a criança que existe em você a maior das dificuldades.

Mas recompensador, se você consegue.

Preciso dizer que eu gostei bastante do filme. Talvez não seja o melhor live-action da Disney, talvez tenhamos outros filmes do Peter Pan melhores do que esse, e talvez eu tenha baixado as minhas expectativas depois de ver alguns comentários não tão positivos pela internet, mas a verdade é que eu me encantei novamente por essa história… e embora eu possa ter críticas a ele (e tenho), eu acho que ele está longe de ser um filme ruim como pregado em alguns lugares, ou como o recente live-action do “Pinóquio”, por exemplo. A alma da história do Peter Pan e da Wendy segue ali, com seus momentos de diversão, de emoção, de beleza e de reflexão, e parte de mim se sentiu criança novamente. Além de que o roteiro sofreu algumas alterações das quais gostei bastante.

Acredito que há uma vontade, em “Peter Pan & Wendy”, de envolver a Terra do Nunca com um ar de realismo que lhe tira a cor – realismo esse que não é necessário para a Terra do Nunca, porque é justamente um lugar mágico e colorido pelo qual as crianças devem se apaixonar… embora eu tenha achado as paisagens lindíssimas, como adulto, talvez os olhos do meu eu criança não tivessem brilhado frente a essa Terra do Nunca. O filme teria, sim, se beneficiado de mais cores em toda a sua fotografia, ainda que a magia esteja ali na presença das fadas, de um arco-íris invertido e da habilidade de voar. Também acredito que, infelizmente, talvez o próprio Peter Pan não seja a coisa mais interessante do filme, e lhe falta um pouco de vida para torná-lo marcante.

Dito isso, reforço o que disse há pouco: eu gostei bastante do filme. Minhas críticas impedem o filme de ser o live-action perfeito que ele poderia ser, mas não o impedem de ser um filme que eu gostei de assistir quando tive a oportunidade… e que eu assistiria novamente. Existem elementos visuais que são nostálgicos porque nos remetem imediatamente à animação de 1953, e o cerne da história é o mesmo, e acompanhamos Wendy, João e Miguel em uma aventura na Terra do Nunca na noite anterior à partida de Wendy para um internato, quando ela disse à mãe que “talvez não quisesse crescer” – e, embora inicialmente com medo de crescer, Wendy acaba escolhendo fazer isso por conta própria, ao aprender que não pode ser criança para sempre e que crescer é uma aventura.

O quanto ela estaria perdendo se não crescesse?

As atualizações feitas ao roteiro funcionam bem para um filme que é feito em 2023. Wendy, agora adicionada ao título, ganha um protagonismo bem-vindo e é legal acompanhar a sua jornada de amadurecimento, sem vê-la ser explorada pelos Garotos Perdidos que querem tanto uma “mãe”. Também há uma mudança na relação de Wendy e Sininho que deixa tudo, a meu ver, mais bonito. A rivalidade feminina motivada pela fada com ciúmes de Peter Pan é inteiramente excluída do novo roteiro, e as duas constroem uma amizade que conta com poucos e significantes momentos, como quando Sininho salva Wendy no navio do Capitão Gancho, ou quando a fadinha agradece a Wendy por tê-la ouvido, o que talvez ninguém tenha feito até então.

A relação de Peter Pan e o Capitão Gancho também é devidamente explorada através de diálogos que nos levam lentamente a entender o que aconteceu entre eles no passado, e de onde surgiu a raiva que eles nutrem um pelo outro… é interessante pensar em Peter e Gancho como melhores amigos em algum lugar do passado, quando ambos eram crianças, e em como os caminhos se separaram quando Peter Pan escolheu ficar para trás, na Terra do Nunca, por medo de crescer, e expulsou James Gancho de lá por ele ter “ousado” sentir falta de sua mãe. Não é longo e detalhado o suficiente para dar ao Capitão Gancho um protagonismo no nível de “Malévola”, mas é uma maneira de humanizar o personagem… assim como Peter foi humanizado, através de suas falhas escancaradas.

(E que Wendy enuncia, em uma cena grandiosa!)

Gosto da sinceridade que isso traz à narrativa. Gosto de como “Peter Pan & Wendy” não mascara o egoísmo de Peter Pan, e os seus equívocos que são fruto do seu medo de mudança, e isso lhe custou uma amizade importante no passado, e agora ele tem a oportunidade de não repetir esse erro. O clímax do filme, que acontece no navio voando, como era de se esperar, traz momentos muito bons para Wendy, que tem um quê de liderança e luta bravamente (e adorei vê-la salvando o Peter Pan), bem como momentos importantes para Peter Pan e o Capitão Gancho quando, depois de tudo, Peter Pan reconhece seus erros, pede desculpas e estende a mão ao Capitão Gancho, que acaba caindo no mar de todo modo porque não consegue encontrar nenhuma memória boa que o faça voar.

Há um tom de melancolia em histórias do Peter Pan, e não é diferente aqui… mas também há uma emoção palpável na maneira como Peter Pan e Wendy se despedem, depois de ela o convidar para ficar ali e crescer, dizendo a ele o que a mãe lhe dissera antes, e ele dizer que ainda não está pronto – mas isso talvez não queira dizer que ele nunca vai estar. Talvez “Peter Pan & Wendy” tenha sido um primeiro passo para o Peter Pan, que nunca mais será o mesmo depois de conhecer Wendy… a sequência final, quando ele retorna para a Terra do Nunca e fica evidente que ele vai resgatar o Capitão Gancho, é uma prova disso – as coisas estão mudando, finalmente. Infelizmente, nós não temos a escolha de “não crescer”, como o Peter Pan, mas Wendy nos ajuda a ver que talvez possamos escolher como vamos crescer.

 

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Comentários

  1. "O quanto ela estaria perdendo se não crescesse?"

    E o quanto que Peter Pan deve ter perdido por não ter crescido... É o tipo de pensamento que me vem desde que li o livro/tive acesso a adaptações que trazem esse final com a família Darling adotando os meninos perdidos e ele ficando sozinho, mas pelo menos o "não crescer" lhe concede a vantagem de "não ter coração" e por consequência não guardar recordações, não parar pra refletir, não desenvolver sentimentos tão profundos quanto os de Wendy, Sininho, Lírio Selvagem e etc. Basicamente, uma criança parada no tempo, apesar dos anos.

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