Pornographer | The Movie: Playback

“Haruhiko… I love you”

COMO EU VOU SENTIR FALTA DESSES PERSONAGENS. Emocionante, quente, bonito e intenso, “Pornographer: Playback” é uma maneira lindíssima de encerrar essa série que nos entregou uma história tão envolvente e marcante. A série “Pornographer”, baseada no mangá de mesmo nome, conta a história de Kijima Rio em dois momentos de sua vida: na primeira temporada, “The Novelist”, o encontramos como um escritor de livros pornográficos sem ideias e sem perspectiva, que é atropelado de bicicleta por Kuzumi Haruhiko e quase acha que isso é algo bom; na segunda temporada, “Mood Indigo”, encontramos Kijima anos antes de ele conhecer Kuzumi, e entendemos muito mais de como ele se tornou a pessoa que conhecemos na primeira temporada.

“Pornographer” sempre brincou com o erótico, devido ao seu tema, de uma maneira curiosa e instigante: capaz de ser excitante ao extremo e de trazer diálogos bastante explícitos, a série flertou com o pornográfico com uma ousadia notável, sem nunca cruzar a linha e, assim, entregou cenas muito bonitas e de diferentes teores. A série sempre foi excelente ao retratar o desejo e a urgência, parecendo muito realista na maneira como, às vezes, somos conduzidos pelos nossos instintos. Em “Playback”, o filme lançado em 2021 para encerrar a história de Kijima e Kuzumi, todo o desejo e o calor continuam lá, mas com um toque de romantismo que vem da intimidade construída aos poucos e o resultado é algo incrivelmente belo… eu diria que quase poético.

O fim de “The Novelist”, a primeira temporada de “Pornographer” não traz Kuzumi e Kijima juntos ou “felizes para sempre”, mas sugere, a meu ver, a possibilidade de eles ficarem juntos em algum momento… Kuzumi estava apaixonado, e Kijima ainda precisava lidar com algumas coisas, como o seu próprio medo de assumir algo real porque talvez não se sinta inteiramente merecedor dessa felicidade. O que ficara implícito em “The Novelist” é explorado, então, como a trama principal de “Playback”, e chegou a hora de ver se Kijima vai conseguir escapar das amarras que ele mesmo criou e que o estão impedindo de viver um romance entregue e sincero com Kuzumi. Cheio de drama, problemas de comunicação, mas muito sentimento, “Playback” é um ótimo filme.

Antes do filme, o especial “Spring Life” nos mostrou um pouco de como Kijima e Kuzumi mantiveram contato durante o tempo em que ficaram afastados, como trocaram cartas e como o que sentem um pelo outro é razoavelmente claro – mas talvez não de uma maneira 100% eficiente ainda. No início de “Playback”, vemos Kuzumi em uma das muitas visitas que parece fazer à cidade natal de Kijima, onde ele está vivendo, e os dois compartilham um beijo apaixonado e uma noite verdadeiramente quente em um motel (possivelmente a cena mais quente que Kijima e Kuzumi tiveram juntos durante toda a série “Pornographer”), mas que não termina muito bem por causa do cartão de um clube de sexo que Kijima encontra nas coisas de Kuzumi.

É o pontapé inicial para o drama do filme: nós não sabemos bem o que Kuzumi faz nas noites em que vai ao clube com os colegas de trabalho, e eu não tenho certeza se o que Kijima sentiu foi apenas ciúme ou se foi mais um alerta para o fato de que Kuzumi é mais jovem do que ele, a relação deles não está realmente oficializada de maneira alguma, e talvez ele não possa oferecer o que quer que Kuzumi esteja procurando… então, depois de uma briga acalorada, os caminhos se separam temporariamente, com Kuzumi retornando sozinho para Tóquio, enquanto Kijima retorna para a casa da família – onde, na verdade, ele não se sente muito feliz… por isso, “Playback” acaba sendo uma jornada de autoconhecimento para o Kijima Rio, que precisa se encontrar.

Inusitadamente, isso começa a acontecer quando ele “foge de casa” e acaba no mesmo motel em que estivera com Kuzumi antes, e ele acaba se metendo na briga de um homem e uma mulher que termina com ele machucando a mão – e, dessa vez, a mão que ele machuca é realmente a sua mão predominante, não como quando ele machucou a mão direita e pediu a ajuda de Kuzumi para escrever, sem contar que, na verdade, era canhoto. Da maneira quase bizarra, alguns elementos do início de “The Novelist” parecem se repetir, quando Kijima é acolhido pela família Akemi: Haruko, a mulher que ele defendeu no motel e que se sente culpada por ter sido a responsável pelo seu machucado, e Shizuo, o filho dela que vai ajudá-lo a escrever enquanto ele estiver com a mão machucada.

Parte de mim ficou desesperado, confesso… eventualmente, no entanto, a família Akemi acaba sendo um máximo! Haruko talvez seja um pouco viciada em sexo e tenta dar em cima de Kijima, que a rejeita, e Shizuo talvez até esteja sentindo alguma coisa pelo novo visitante que está dormindo na casa deles, mas não existe (felizmente) a química que existia entre Kijima e Kuzumi, talvez desde o início… até porque Shizuo, diferente de Kuzumi, não consegue acompanhar as histórias de Kijima com tanta facilidade: ele acha que Kijima as narra rápido demais e usa termos difíceis que ele não entende o que querem dizer… e pode ser que, dessa vez, Kijima esteja realmente apenas aceitando a ajuda de alguém porque realmente não tem como escrever com a mão machucada.

O que, é claro, não quer dizer que seja menos doloroso para o Kuzumi chegar e ver o que vê. E posso dizer? Eu o entendo perfeitamente. Quando Kuzumi resolve ligar para Kijima e o seu celular está fora de área, ele liga para a casa dos Kijima e descobre que ele foi embora há algumas semanas… então, ele resolve procurá-lo e chega até o bar dos Akemi, onde encontra Kijima narrando uma história para que Shizuo a transcreva. Em outra situação, talvez não existisse nada demais naquela cena e, no fundo, realmente não existe, mas, naquele momento, Kuzumi sente que Kijima está “reencenando as memórias deles com outra pessoa, como se elas não significassem nada”. E parte de mim entende que o que Kuzumi deve ter sentido foi, sim, doloroso.

A intensidade das cenas que se seguem é surpreendente – e dolorosa, na verdade, porque são fruto de uma falta de comunicação absurda. Todos os problemas que Kijima e Kuzumi enfrentam em “Playback” provêm do fato de que Kijima não fala dos seus sentimentos abertamente, dos seus medos e angústias, mas a história do filme é justamente, então, a necessidade de Kijima superar isso e passar a ser sincero sobre o que sente, o que quer e o que não quer perder de jeito nenhum… só assim algo pode existir de verdade. As brigas de Kijima e Kuzumi parecem destinadas a terminar em separação, e são temporariamente adiadas por Haruko passando mal, mas acabam culminando em uma cena intensa na qual Kijima fala coisas maldosas sem pensar e Kuzumi explode…

Naquele momento, vemos Kuzumi realmente por completo. E é quase chocante ver a maneira como ele coloca tudo para fora: sua frustração, sua dor, o que ele sente e o que ele teme. Kijima não precisava ter sido cruel como foi, e ele sabe disso, mas é seu mecanismo de defesa, sua maneira de tentar “se proteger” de mais sofrimento, caso se entregue por completo. Quando Kuzumi segura sua blusa e grita com ele com o rosto a centímetros do seu, no entanto, falando sobre sua ausência e como ele nunca parece se importar o suficiente com ele, Kijima é atingido em cheio e, por alguns segundos confusos, ele parece chocado – como se entendesse, como provavelmente está entendendo, pela primeira vez o que significa para Kuzumi e o que suas ações lhe causam.

Na manhã seguinte, Kuzumi foi embora.

Agora, é a hora de Kijima fazer alguma coisa. É a hora de ele parar de se esconder atrás de qualquer coisa para impedir-se de ser feliz. Abraçar o que sente e o que deseja em sua integralidade, para que ele não se arrependa mais tarde, sabendo que podia ter sido feliz, mas escolheu não ser. Kuzumi fez o que pôde, disse tudo o que sentia, e se Kijima não fizer nada, dessa vez tudo estará perdido… e ele sabe que Kuzumi é a melhor coisa que lhe aconteceu na vida e que ele o ama e não pode perdê-lo. Então, ele finalmente aceita os conselhos de Haruko e uma carona de Shizuo até a estação mais próxima, porque chegou a hora de ele ir para Tóquio… quase como se fosse aquele momento do “grande gesto” no fim de toda comédia romântica, sabe?

E foi aqui que “Playback” encontrou uma deixa para incluir uma participação de Kido. Como Kuzumi parece não estar disposto a atender aos telefonemas de Kijima, ele pede a ajuda de seu amigo mais antigo. Kido tem uma participação pequena que reforça a sua importância na vida de Kijima e, dolorosamente, reforça a infelicidade de sua própria vida. É mais evidente que nunca que Kido nunca foi capaz de superar Kijima de verdade (ele chega a perguntar se Kijima acredita que eles dois poderiam ter tido uma relação como a que ele tem, agora, com Kuzumi!), e é muito triste e muito forte ver o pesar nos seus olhos quando olha para Kijima, sabendo que Kijima foi alguém de quem ele abriu mão, porque teve medo de assumir, na época, o que ele realmente queria e sentia.

Um dos pontos altos de “Playback” e de “Pornographer” como um todo, na verdade: Kido é o contraponto perfeito para Kijima. Kido sentiu por Kijima talvez o mesmo que Kijima sente por Kuzumi, e ele deixou-se levar pelo medo, fugiu desse sentimento e desse relacionamento, tentando “proteger-se”, e nunca foi de fato feliz… Kijima não pode cometer o mesmo erro e fadar-se àquela vida, e Kido talvez o ame tanto que, antes de se despedirem dessa vez, ele diz a Kijima com todas as letras que ele não pode perder Kuzumi – ele não diz, mas o que está implícito é: ele sabe o quanto dói. Então, Kijima não vai cometer o mesmo erro de Kido. Kuzumi está machucado, mas ele quer ouvir o que quer que tenha feito Kijima vir até Tóquio, depois de tanto tempo, para lhe dizer.

E a cena é linda.

A iniciativa tem que ser de Kijima. Kuzumi está sério, quase distante, mas presente e ouvindo. E Kijima coloca em palavras coisas que talvez ele nunca tenha dito em voz alta – nem para Kuzumi, nem para qualquer outra pessoa. Ele reconhece seus erros, ele pede desculpas com uma intensidade e uma sinceridade palpáveis, ele fala sobre o que sente por Kuzumi e como quer estar com ele, e pede que Kuzumi o contate se, algum dia, ele encontrar o que precisa para perdoá-lo… mas, na verdade, Kuzumi já o perdoou, já o perdoou antes mesmo de ele passar por aquela porta, mas ouvir tudo aquilo em palavras era necessário. Quando Kuzumi o abraça, Kijima entende tudo o que tinha a ser entendido… e, dali em diante, eles provavelmente vão construir algo lindo juntos.

Finalmente, tudo o que precisava ser dito foi dito.

O casal ainda ganha uma sequência muito bonita de volta à casa da família de Kijima – da qual Kuzumi quer fazer parte agora. O destaque fica tanto para a cena de sexo dos dois (quente como sempre), quanto para o Kijima passando a chamar Kuzumi pelo seu nome: Haruhiko. Além disso, Kijima Rio ainda diz que o ama, o que é algo lindíssimo e que significa muito para ele! A beleza da cena é engrandecida pelo histórico deles, porque nos remete a uma das cenas do último episódio de “The Novelist”, quando eles também tiveram uma das melhores noites de sua vida, mas, na manhã seguinte, Kijima tinha ido embora porque precisava de tempo para si mesmo… dessa vez, os dois adormecem e amanhecem juntos: abraçados, apaixonados, plenamente felizes.

ISSO É TÃO LINDO.

Sinto que, depois de “Playback”, Kijima Rio está mais livre do que nunca. A maneira como ele pode dizer que ama Kuzumi Haruhiko, como ele se sente à vontade para chorar abraçado a ele, ou como ele escreve aquela carta para Kuzumi dizendo que vai voltar para Tóquio porque quer passar o resto da sua vida ao seu lado, mas logo risca essa última parte, sorridente, dizendo que “vai dizer isso a ele pessoalmente”. Ele está mais leve e mais feliz do que jamais o vimos, como se qualquer peso que existisse sobre ele tivesse finalmente sido retirado e pudéssemos ver Kijima como ele realmente é. Encerramos oficialmente, aqui, a saga “Pornographer”, e é uma história que vai ficar para sempre marcada em mim. Uma excelente série, recomendadíssimo a todos os fãs de BL!

 

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Comentários

  1. Estava aguardando a review para poder assistir. E pelo que vi também vou amar. Verei amanhã.

    Kuzumi danadinho e pra casa de sexo hein?! Mas também, pra quem tem energia pra seis vezes...kkkk...

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    1. É verdade... energia não falta no garoto hahahaha
      Espero que você goste do filme! :)

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