[Series Finale] Lost 6x17 – The End

“We’ve been waiting for you”

Chega a ser difícil mensurar a importância de “Lost” na minha vida. E pode parecer quase um exagero dramático falar sobre a série desse modo, mas é a verdade: “Lost” foi a primeira série que eu acompanhei de verdade, e sempre foi e sempre será uma das minhas séries favoritas na vida. Eu fui um dos fãs que acompanhou “Lost” durante a sua exibição e, consequentemente, passou horas e horas, entre um episódio e outro, em fóruns e sites que reuniam fãs para levantar dados e fazer teorias, e isso é parte da força da série para mim: o fato de que ela foi vivida. “Lost” prendeu os espectadores à tela uma vez por semana, mas fez muito mais do que isso, sendo um dos assuntos mais comentados da internet entre episódios, o que sempre tornou a série muito viva.

Assistindo novamente atualmente, mais de 10 anos depois, eu digo: “Lost” continua incrível. É tanto uma boa série para maratonar quanto uma série para assistir com calma, porque pensar a respeito dos episódios e teorizar torna a experiência muito mais rica. Também sinto que, de certa maneira, “Lost” é uma experiência conjunta, é o tipo de série que é muito mais legal se você está vendo com alguém ou pelo menos ao mesmo tempo que alguém. Cheia de misticismo, de ficção científica, de religiosidade e de bons mistérios, “Lost” tem um universo amplo, infinitas possibilidades e, diferente do que muita gente pensa, é bastante “redondinha”. Tudo o que realmente importa é devidamente respondido ao longo da série, sem que ela precise ser excessivamente didática.

E sobre o final, eu preciso dizer: O FINAL DE “LOST” É LINDÍSSIMO. Durante muito tempo, vi muita gente reclamando do fim de “Lost” (felizmente, vejo que, atualmente, o fim é muito mais bem aceito e entendido), e me parecem críticas tão infundadas porque sinto que “The End” fecha perfeitamente o ciclo desses personagens, e é um episódio cheio de coração. Profundamente emocionante (chorei copiosamente em vários momentos), o episódio traz sequências belíssimas de reencontros, memórias compartilhadas, despedidas e valoriza o que “Lost” sempre teve de melhor e sobre o que sempre foi, em primeiro lugar: as pessoas. Eu não esperava nada diferente desse final que, para mim, é uma obra de arte. Assim como toda a série…

Sempre digo que, em primeiro lugar, “Lost” é SOBRE PESSOAS – e é isso o que fez o sucesso da série, o fato de nos conectarmos tão bem com personagens imperfeitos e, consequentemente, realistas. Engana-se quem pensa que “Lost” é sobre a Iniciativa Dharma ou sobre o Jacob e o Homem de Preto, embora esses tenham sido grandes elementos do roteiro que ajudavam a movimentar os personagens – também não quer dizer que esses elementos não condigam com o que é “Lost”, como algumas pessoas que alegam que “a série fugiu de sua premissa” gostam de dizer, porque “Lost” SEMPRE brincou tanto com a ficção científica quanto com o misticismo (ou as pessoas se esquecem do Urso Polar e do Monstro de Fumaça na primeira temporada, por exemplo?).

Nunca foi “apenas” uma série de “sobrevivência”, e se você acha isso ao ver a primeira temporada, certamente está ignorando elementos importantíssimos que foram plantados desde o início da série e o fato de que “Lost” fala sobre a natureza humana e as relações entre pessoas, mais do que sobre “sobreviver em uma ilha”. “The End”, exibido em 23 de maio de 2010, é um episódio especial de 1 hora e 44 minutos, cheio de acontecimentos. De um lado, toda a trama da Ilha precisa ser encerrada, agora que Jack assumiu o trabalho de Jacob e precisa proteger a ilha e impedir que o Homem de Preto vá embora; de outro, acompanhamos o que até então chamávamos de “flash sideways”, mas que se mostram muito mais do que isso, e é lindo entender o que é aquele lugar e aquela realidade.

A tensão e a urgência conduzem o clima e o ritmo dos “momentos finais” da ilha. Jack sabe que tem uma missão a cumprir, mas talvez não saiba exatamente o que precisa fazer, ou como. De todo modo, parece que todos estão rumando para o mesmo caminho: o coração da ilha, onde a luz está… uma luz que Jack precisa proteger, como Jacob fazia, e que o Homem de Preto pretende apagar para destruir a ilha antes de fugir de lá – e, de alguma maneira, Desmond deve ser importante para qualquer uma das coisas e, por isso, ele precisa ser resgatado. Fora do poço, Desmond tem uma cena muito legal com Rose e Bernard, que estão vivendo há anos a vida que sempre quiseram ter na ilha, e felizmente eles são poupados pelo Homem de Preto quando ele aparece.

Jack parece confiante demais de que ir com Desmond e o Homem de Preto até o Coração da Ilha é o que precisa ser feito – e ficamos temerosos de que o Jack vá “estragar tudo no seu primeiro dia no trabalho”. E é interessante que tudo seja um grande mistério para o espectador também, porque isso gera um sentimento de apreensão digno de um bom suspense. Quando Desmond é descido até a fonte da luz, a mesma que a mãe de Jacob e do Homem de Preto mostrara para eles há tantos anos, tanto Jack quanto “Locke” querem que Desmond faça a mesma coisa… cada um esperando um resultado diferente. Então, Desmond “desliga” a luz no centro da ilha, achando que isso o levará de volta para a outra vida, aquela da qual se lembra fora da ilha, mas não é isso o que acontece…

O jogo de “Acho que você estava errado” e “Acho que você estava errado também” de Jack e o Homem de Preto é interessantíssimo. Com a luz apagada e a ilha correndo perigo, todos começam a sentir os efeitos na forma de uma tempestade e tremores, e o Homem de Preto parece prestes a conseguir o que sempre quisera… no entanto, Jack também percebe que o que quer que eles tenham feito parece ter devolvido a humanidade e a mortalidade do Homem de Preto, que sangra depois de golpeado: talvez tudo isso precisasse acontecer para que Jack pudesse finalmente acabar com o Homem de Preto de uma vez por todas… e é o que ele planeja fazer, como prometera que faria para proteger o Coração da Ilha, quando o persegue nos rochedos.

Por sinal, uma cena GRANDIOSA. Existe um quê de selvageria que indica que os personagens chegaram aos seus limites, mas, ao mesmo tempo, ficamos pensando se Jack teria coragem de matar o Homem de Preto, mesmo sabendo que é o que, de alguma maneira, ele devia fazer… afinal de contas, essa guerra jamais chegaria ao fim enquanto ele estivesse vivo. O embate de Jack e “John Locke” é físico e intenso (detalhe para a faca do Homem de Preto perfurando o pescoço de Jack e o Jack dos “flash sideways” sangrando sem entender), e termina de maneira brutal quando Kate atira nele e Jack o empurra lá de cima… uma morte que poderia ter sido a de qualquer outro humano, e que indica que, no fim das contas, isso era tudo o que o Homem de Preto era.

Em paralelo, acompanhamos a outra realidade dos personagens de “Lost”, e são sequências profundamente emocionantes – para mim, toda a emoção de “The End” está contida nessas cenas: os reencontros, a ansiedade para que eles recobrem suas memórias da ilha e a emoção de quando isso acontece, e todo aquele tom de mistério e sabedoria uma vez que eles se lembram… ao se lembrar, eles sabem onde estão, sabem o que aquilo tudo significa e, mais do que isso: sabem para onde precisam ir. E aqueles que já se lembraram, como o Desmond e o Hurley, transformam em sua missão pessoal ajudar os demais a lembrarem também. Lindíssimo como a memória retorna a partir do momento de conexões verdadeiras que foram estabelecidas na ilha.

Um dos momentos mais emocionantes desse episódio (e não poderia ser diferente) é protagonizado por Sun e Jin. Antes de Sun ganhar alta, uma médica aparece para ver como está o seu bebê, e essa médica é a Juliet, que faz sua estreia nos flash sideways, finalmente. Enquanto Juliet está fazendo um ultrassom em Sun, ela se lembra do mesmo acontecendo na ilha, e as memórias de Sun e Jin retornam todas juntas quase ao mesmo tempo. Sempre disse que Sun e Jin são dois dos meus personagens favoritos de “Lost”, e é um ótimo recurso, especialmente no episódio final da série, as memórias retornarem através de flashes rápidos compartilhados conosco, e que nos lembram, também, de toda a história que eles viveram e que nós acompanhamos.

Cada pequena cena retornando a Sun e Jin ME EMOCIONOU PROFUNDAMENTE. Os momentos dos dois redescobrindo-se apaixonados durante as primeiras temporadas, o Jin cuidando de Sun depois de descobrir que ela está grávida, o momento doloroso em que Jin fica para trás e Sun vai embora da ilha sem ele, o reencontro aguardadíssimo que eles tiveram alguns episódios atrás, o momento em que eles morrem juntos em um submarino que está afundando… a emoção nos sorrisos, nos olhos e nas lágrimas de Sun e Jin é palpável e se transmite perfeitamente a nós. Lindo ouvi-los voltar a falar inglês, também. E é divertida, fofa e emocionante a cena que eles compartilham com James Ford mais tarde, quando ele aparece no hospital para “protegê-los”.

A carinha do Jin olhando para o Sawyer e o chamando de “detetive”.

EU MORRO DE AMORES COM SUN E JIN, NÃO TEM COMO.

Outro retorno emocionante acontece no show de Daniel e da banda de Charlie ao qual Desmond levou Kate e no qual Claire também está presente porque foi acompanhando o David, na ausência de Jack. Foi muito emocionante que o gatilho que fez Claire, Charlie e Kate lembrarem de tudo foi o nascimento de Aaron. Assim como na ilha, Kate ajuda no parto de Claire, e aquilo faz com que os três se lembrem de tudo. Foi justo Kate compartilhar esse momento, porque também é mãe de Aaron, mas Claire e Charlie brilharam ao se lembrarem de tudo (a cena dos dois “comendo” manteiga de amendoim na primeira temporada acabou comigo!). QUE SEQUÊNCIA BONITA. É lindo ver a emoção estampado nos olhos deles, e ver como eles se transformam depois de “descobrir a verdade”.

Por fim, o terceiro momento emocionante de reencontros, para mim, pertence a Sawyer e Juliet – COMO EU AMO ESSES DOIS. Os dois se encontram no hospital em que Juliet trabalha, e no qual James está porque foi atrás de Sun, e eles interagem graças a uma máquina automática problemática que não entrega o doce que James comprou… a química dos dois é perfeita, e quando as mãos deles se encontram, todas as memórias retornam com força e é lindíssimo: tudo o que eles viveram nos três anos que passaram juntos na década de 1970, a morte de Juliet no fim da temporada anterior e início dessa… o amor dos dois tão intenso, tão forte e tão verdadeiro, trazido à tona na emoção dos sorrisos, das lágrimas, do beijo e da felicidade de finalmente estarem juntos novamente.

Jin e Sun. Kate, Charlie e Claire. Sawyer e Juliet.

OS “REENCONTROS” MAIS LINDOS POSSÍVEIS!

Poderia ter sido brega, mas “Lost” encontrou a maneira perfeita de incluir flashes rápidos de momentos marcantes da série, e foi muito bonito, até porque valoriza a história desses personagens. O episódio também traz outras sequências de personagens relembrando suas vidas anteriores (embora nenhuma tenha me feito chorar tanto quanto as três já citadas): John Locke se lembra de tudo depois de uma cirurgia comandada por Jack que provavelmente o fará voltar a andar; Sayid é levado por Hurley até o encontro de Shannon, que desperta nele todas as memórias de volta; Boone também recobrou suas memórias em algum momento que não presenciamos; e Jack começa a ter flashes rápidos, mas talvez ele ainda não esteja pronto para se lembrar, porque ele se afasta com medo e confuso do toque de Locke e de Kate, por exemplo.

Quando ele estiver pronto, ele entenderá.

 

“We’re waiting for you there once you’re ready”

“Ready for what?”

“To leave”

 

Na ilha, os caminhos se separam e os personagens escolhem seus destinos: Jack sabe que precisa retornar para o Coração da Ilha e desfazer o que Desmond fizera, para salvar a ilha, e tanto Hurley quanto Ben escolhem acompanhá-lo; Kate e Sawyer, por sua vez, resolvem chegar à outra ilha e embarcar no Ajira 316, que Frank, Miles e Richard estão tentando colocar no ar… e, no meio do caminho, Kate reencontra Claire, em uma cena muito bonita na qual Claire diz que “a ilha a enlouqueceu e ela não quer que Aaron a veja assim”, mas Kate a convence a ir com eles. É reconfortante ver aquele voo decolar levando Frank, Miles, Richard, Claire, Sawyer e Kate para fora da ilha – e é uma pena que jamais saberemos como foi a vida deles depois disso, mas quero acreditar que foi boa.

Que eles foram felizes.

Jack, por sua vez, sabe que precisa se sacrificar. Ele foi esfaqueado por “John Locke” antes de matá-lo, de todo modo, e não lhe resta muito tempo de vida, mas ele estará cumprindo a sua missão se conseguir ligar novamente a luz no Coração da Ilha, e é o que ele pretende fazer. E ele entende que essa era a sua missão, no fim das contas, ao assumir o lugar de Jacob: não era ficar ali para sempre, mas era salvar a ilha naquele momento… então, ele passa a responsabilidade a outra pessoa, a pessoa mais perfeita para o cargo de protetor da ilha, desde o começo: Hurley. Certamente, uma das cenas mais emocionantes desse último episódio de “Lost” quando os dois se despedem e Jack transforma Hurley em seu substituto – “Now you’re like me”.

Hurley sempre foi o personagem com o melhor coração de “Lost”, e sempre soubemos que o papel de “protetor” combinava com ele. A sua bondade transparecendo em lágrimas quando ele aceita o emprego sem saber bem o que fazer é tudo o que Jack precisa para saber que fez sua parte e que a ilha não poderia estar em melhores mãos. Também é muito bonito como Hurley convida Ben a ficar ao seu lado e ajudá-lo e, naquele momento, eu me emocionei muito pelo Ben também, porque, pela primeira vez na vida, ele se sentiu especial… que é o que ele sempre quis ser. Linda parceria de Hurley e Ben, que durou sabe-se lá quantos anos, mas a conexão dessa cena com a dos dois na porta da igreja, agradecendo um ao outro pela parceria… perfeição.

Nesse ponto, já entendemos que, diferente do que se acreditava lá no início da temporada, os flash sideways não eram realmente uma realidade separada – mas uma “continuação” da realidade da ilha, de algum modo. E é através de Jack que descobrimos tudo, quando ele toca o caixão do pai e as memórias retornam, confusas, para ele, e Christian Shephard aparece para explicar o que ele quer saber. O diálogo de Jack e Christian é um dos diálogos mais didáticos da história de “Lost” (e é surpreendente que, mesmo assim, tanta gente tenha entendido errado esse final de “Lost” por tanto tempo!), conforme Jack entende que, assim como o pai, ele está morto… assim como todas as pessoas que estão, agora, dentro da igreja, esperando por ele para “seguir em frente”.

“Everybody dies sometime, kiddo”

Os flash sideways não eram, no fim das contas, uma realidade alternativa onde o avião não caiu. É um lugar “construído” por eles para que eles pudessem se encontrar depois da morte. Toda a história da ilha é REAL, aquela foi a vida daqueles personagens e, em algum momento, todos morreram… porque, como diz o Christian, todos morrem em algum momento – alguns antes de Jack, como o Jin e a Sun no submarino, alguns muito tempo depois de Jack, como provavelmente Sawyer, Kate, Hurley… cada um chegou àquele lugar no seu próprio tempo, depois de viverem suas vidas, mas eles passaram juntos os momentos mais importantes de suas vidas, e eles queriam poder encontrar de volta as pessoas que amam antes do que quer que esteja por vir. E que eles vão descobrir agora, juntos.

Toda a sequência da igreja é lindíssima. Emocionante, simbólica, e com um tom de despedida que transpassa “Lost” como série. Acho profundamente tocante que eles tenham tido a oportunidade de se reencontrar e de seguirem juntos rumo a uma nova “aventura” que desconhecem, porque todos desconhecemos: o que acontece depois da morte? Não sabemos. “The End” tem uma edição linda de cenas enquanto os personagens se abraçam, felizes com o reencontro, e enquanto a porta da igreja se abre rumo a uma luz brilhante, e podemos presenciar a morte de Jack na ilha, depois de salvá-la… e é muito significativo que ele tenha conseguido sair do Coração da Ilha e retornar ao bambuzal, onde ele morre com Vincent deitado ao seu lado, e fecha os olhos no mesmo lugar em que os abriu no Piloto…

Quando tudo começou.

A força e a beleza desse momento.

“Lost” tem, portanto, um final INCRÍVEL. Emocionante, cheio de coração e sensibilidade. Beleza e um toque de poesia. E não nega nada do que vimos anteriormente, como se espalhou por muito tempo por pessoas que não entenderam de fato o que viram, porque não, eles NÃO estavam mortos o tempo todo. “Lost” é uma EXPERIÊNCIA ÚNICA e MARCANTE, uma série para ser assistida e sentida, um marco da televisão e um exemplo de roteiro intrigante e humano que jamais subestimou os espectadores. Se, assim como eu, você é fã de “Lost”, aconselho a retornar a ela eventualmente: a experiência de assistir por uma segunda ou terceira vez, depois de sabermos os rumos que a série vai tomar, é reveladora. Vemos e notamos tanta coisa que deixamos passar da primeira vez.

Que série. QUE SÉRIE!

Lostmaníaco para sempre.

 

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