Shazam! Fúria dos Deuses (Shazam! Fury of the Gods, 2023)

“Your real superpower is you”

Sequência do filme de 2019 protagonizado por Zachary Levi e Asher Angel, “Shazam! Fúria dos Deuses” não teve uma recepção tão calorosa quanto seu antecessor, e eu começo a review dizendo que EU GOSTEI DO FILME. Não é o melhor filme do ano, não é o melhor filme de super-herói que eu assisti nos últimos tempos, mas às vezes eu sinto que as pessoas querem que todo filme seja uma revolução cinematográfica, um marco na história do cinema e… bem, nem sempre precisa ser. “Shazam! Fúria dos Deuses” tem seus erros e seus acertos, mas termina com um saldo positivo como uma aventura no estilo Sessão da Tarde, para se assistir despretensiosamente. E, encarado dessa maneira, é uma experiência divertida, com um visual bacana.

Acredito que o principal problema da sequência é que o filme se perde em seus exageros, talvez… o humor que deu tão certo no filme original, por exemplo, parece um pouco fora do tom em “Fúria dos Deuses”, e isso se estende à atuação do Zachary Levi, que está exagerado como Shazam, talvez incapaz de capturar tão bem a essência do personagem, e não necessariamente evidenciando que ele e Billy Batson são a mesma pessoa. Em contrapartida, Asher Angel está muito bem nas poucas cenas que lhe cabem (ele entrega uma ótima atuação em momentos mais dramáticos, quando chama Rosa de “mãe” pela primeira vez e diz que a ama), e parte do protagonismo é transferida ao Freddy, que é um personagem excelente e que brilha na trama que lhe compete.

E eu não posso fingir que não me empolguei horrores com o fato de a Família Shazam ter mais participação. O grupo com os seis irmãos foi facilmente uma das minhas partes favoritas no primeiro filme, e fiquei muito feliz de poder vê-los por mais tempo aqui (ver o Ross Butler e o D. J. Cotrona é uma benção aos olhos). Acredito que o filme peca ao colocá-los mais ativamente como uma equipe de super-heróis, mas não equilibrar bem com o desenvolvimento deles, que se resume a algumas linhas de diálogo que trazem a preocupação da Mary com o seu futuro, agora que é maior de idade, por exemplo, ou do Pedro com o fato de que ele é gay e quer contar isso à família, mas são elementos que não chegam realmente a ser suficientemente aprofundados.

Ainda assim, visualmente a Família Shazam entrega boas cenas. Vê-los em ação, com seus uniformes iguais, mas de cores diferentes, me faz pensar em tokusatsus, que é um gênero do qual gosto, e eu sinto que eles não se levam a sério de uma maneira que rende alguns bons momentos de comédia (embora o uso de “Holding Out for a Hero” seja um momento óbvio demais e o Shazam não me arrancou nem um sorrisinho ainda fazendo um comentário a esse respeito com a mulher que acabou de salvar). Também foi legal explorar um pouquinho mais da Pedra da Eternidade, embora sinta que as explorações de Eugene renderiam uma trama interessante à parte, inclusive a respeito dos Sete Reinos, por exemplo, que foram explorados em um arco das HQs do “Shazam!” de que gosto bastante.

Mesmo com a profundidade dramática desperdiçada da Família Shazam, eu adorei vê-los em cena, e acho que eles foram mesmo um espetáculo, visualmente falando… apresentando um notável e bem-vindo avanço em relação aos uniformes utilizados no primeiro filme (que pareciam mais simples, com cores menos marcantes e alguns enchimentos desnecessários), os trajes de super-herói de “Shazam! Fúria dos Deuses” estavam lindíssimos (as cores, a textura, o desenho…), como já foi possível notar desde as primeiras imagens divulgadas do elenco com seus novos uniformes… curiosamente, os personagens seguem uma tendência a la “Power Rangers” de utilizar predominantemente roupas nas suas “cores de super-herói”, quando não estão “transformados” pelo poder de Shazam.

Como vilãs do filme, temos as filhas do Titã Atlas. Inicialmente, duas delas, Hespera e Kalypso, que aparecem em um museu, roubando o cajado que pertencera ao Mago e que contém toda a magia roubada dos deuses… ao quebrá-lo durante os eventos do primeiro filme, Shazam quebrou a barreira entre os mundos, e agora as deusas estão no mundo mortal para se vingar de Billy Batson, sua família e de todos os humanos. Além delas, uma terceira irmã, Anthea, aparece na escola, como Anne, se aproximando de Freddy na esperança de atrair os super-heróis dos quais ele é amigo… e ele acaba caindo no conto dela, em uma trama de mentiras, traições e, surpreendentemente, sentimentos sinceros eventualmente? Há um bom desenvolvimento para Freddy e Anne, na minha opinião.

Inclusive, Freddy me parece mais protagonista do que o próprio Billy Batson/Shazam em “Fúria dos Deuses” – não fiz uma estimativa do tempo de tela de cada um, mas talvez Freddy seja levado mais a sério como um ser humano pelo roteiro, e ele tem o carisma necessário para sustentar suas cenas e nos envolver… gosto do romance com Anne (inclusive, os poderes de Anthea são visualmente muito interessantes, num estilo meio “Doutor Estranho”, e facilmente uma das minhas partes favoritas no filme), e gosto da relação dele com o Mago, enquanto os dois tentam fugir juntos da prisão das deusas e impedir que elas façam mal uso do fruto da Árvore da Vida, que elas escolhem não usar apenas para reconstruir seu próprio reino… mas para destruir o dos humanos.

O filme tem soluções quase simplórias e que dependem da ajuda das próprias deusas: a Família Shazam jamais teria vencido sem a ajuda delas mesmas. Anne se importa de verdade com Freddy e é a primeira a ajudar, mas até mesmo Hespera se volta contra Kalypso quando a acusa de estar “agindo como o Tio Hades”. Não tenho certeza de que os elementos da Mitologia Grega foram de fato bem utilizados, mas eu gosto muito do tema e, portanto, isso me deixou empolgado… além das deusas e das menções constantes a Atlas, monstros gregos aparecem tomando conta da cidade depois do plantio da Árvore: minotauros, ciclopes, quimeras e harpias. Enquanto Billy está em lutas maiores, Darla lidera a conquista de unicórnios (!), o que é de grande ajuda.

Com um quê inesperado de drama, Billy Batson escolhe se sacrificar para destruir Kalypso, o dragão e a Árvore da Vida que está acabando com o reino humano – mas o drama não é garantido por Zachary Levi. Asher Angel brilha na rápida cena de despedida com a mãe e a família, e depois do clímax grandioso que acontece sob a redoma e que tem tudo a ver com o estilo utilizado em filmes de super-heróis recentemente, tanto pela Marvel quanto pela DC (e não agrada a todos), Freddy também confere uma carga emotiva à cena no momento em que encontra Billy Batson morto no meio dos destroços do campo de beisebol… ainda que temporária, a morte de Billy é sentida por seus familiares – que ele enfim aceitou como sua família.

Eventualmente, Billy Batson está de volta, e o retorno em seu alter ego adulto como Shazam traz mais comédia que drama e emoção, mas é bom vê-lo de volta de todo modo – e ganhamos uma participação de Gal Gadot como a Mulher-Maravilha, o que é quase uma brincadeira com uma cena anterior do filme, quando ela supostamente está ali, mas não vemos seu rosto, e com o primeiro filme, quando o “Superman” aparece no refeitório da escola, e tampouco vemos seu rosto… infelizmente, toda a sequência final (e, consequentemente, as cenas pós-créditos) tem um gostinho de “Estamos pensando no futuro”, quando sabemos que, na verdade, “Shazam!” certamente será descontinuado no cinema, com o “recomeço” do Universo Cinematográfico da DC.

Acredito que as cenas pós-créditos podiam, inclusive, ter sido excluídas.

Resumindo, eu me diverti enquanto assistia ao filme… reconheço vários problemas nele, como problemas de atuação, de tom de comédia e a inegável falta de profundidade dramática do roteiro, mesmo com possibilidades para tal; ainda assim, não é algo que tenha atrapalhado a minha experiência a ponto de não gostar do filme, e não acho que deveria atrapalhar a de ninguém que esteja com as expectativas bem alinhadas: não é um grande filme revolucionário, não é o melhor filme de super-herói já feito, mas é uma aventura com coração, carisma e se empenha em nos divertir durante aquelas duas horas… e me divertiu, me fez sorrir. Portanto, para mim, o saldo de “Shazam! Fúria dos Deuses” é, sim, positivo, e sinto muito por ser provavelmente o último na franquia.

 

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