Star Trek: Strange New Worlds 2x02 – Ad Astra Per Aspera
Julgamento
de Una.
Esse vai ser
um texto bastante emocional, mas “Ad Astra Per Aspera” me tocou tão
profundamente que eu não consigo escrevê-lo de qualquer outra maneira. É um
episódio perfeito, em todos os sentidos, e é um episódio que me lembra dos
motivos pelos quais eu amo e sempre amei “Star
Trek”. Na minha infância, eu assisti à “The
Original Series” e, assim como Una, eu era uma criança apaixonada pelas
estrelas… em 2009, eu estava no cinema para assistir à nova versão de “Star Trek” na tela grande, e amei cada
segundo daquela experiência. E em 2022, eu tive a oportunidade de começar “Star Trek: Strange New Worlds”, e
perceber o quanto essa série é uma carta de amor aos fãs da franquia, e é uma
produção que a entende talvez como nenhuma outra.
“Ad Astra Per Aspera” traz uma trama
aguardadíssima desde a temporada passada, quando a Federação descobriu que Una
é uma Illyrian e ela foi levada presa, possivelmente para deixar a Frota
Estelar para sempre… a não ser que algo fosse feito a respeito. E, nesse episódio, algo está finalmente
sendo feito. Todos sabem que a situação é complicada, que a lei da
Federação contra modificações genéticas é muito rigorosa, mas ninguém está
preparado para perder alguém como a Una, porque ela é incrível e nunca fez nada
de errado… no começo do episódio passado, o Capitão Pike deixou Spock como
Capitão Interino da USS Enterprise porque ele tinha uma missão a cumprir: ele sabia quem ele precisava buscar… a única
pessoa que talvez pudesse ajudar a Una.
E, assim,
conhecemos Neera, uma Illyrian que foi amiga de Una na infância, e embora
alguma coisa tenha acontecido entre elas, Pike acredita que ela ainda vai se
importar o suficiente para ajudar nesse caso… e, de fato, ela o assume e é a
melhor pessoa para defender Una. Uma advogada competente e inspirada, Neera
conduz todo o caso da melhor maneira
possível, e ela passa o episódio INTEIRO sabendo exatamente o que está
fazendo, e denunciando a maneira como a lei que está sendo usada para acusar
Una é baseada em medo e em preconceito. Inicialmente, nem todos entendem o que ela está fazendo de fato, e se
talvez ela só quer falar contra a Federação e não realmente defender Una, mas a
verdade é que ela está fazendo ambos, e é perfeita.
É um
episódio extremamente EMOCIONAL. Conduzido inteiramente como um julgamento, “Ad Astra Per Aspera” é um episódio
intenso, reflexivo e cheio de denúncias que vão muito além da tela, muito além
de “Star Trek”. Tudo o que ele
representa é muito maior. O preconceito contra Illyrians é trazido à tona em
paralelo a outros preconceitos que “justificaram” leis ao longo da história da
civilização, conforme Neera evidencia que a existência de uma lei não a torna
automaticamente justa. O episódio é,
acima de tudo, um manifesto contra todo tipo de preconceito que, ainda hoje,
enfrentamos na nossa sociedade: racismo, misoginia, LGBTfobia. É, assim como
todo bom episódio de “Star Trek”, um
episódio extremamente atual e inegavelmente importante.
A boa ficção
científica faz isso, na verdade… foi por esse motivo que eu escolhi falar sobre
o gênero quando estava fazendo o meu mestrado há alguns anos, e escrevi minha
dissertação tentando desmentir aquela ideia errônea que muitas vezes se tem de
que ficção científica é apenas fantasia e é “descolada” da realidade, quando é,
na verdade, um dos gêneros que mais refletem a nossa sociedade atual. Através de universos paralelos, utopias,
civilizações no futuro ou em outro planetas ou quaisquer novums que se escolha utilizar, a ficção científica reflete algum
elemento e/ou problema de agora, e o
faz através de alegorias como o preconceito que Una sofre por ser Illyrian.
Esse julgamento que ela teve que enfrentar a vida toda apenas por ser quem é.
Temos cenas
brilhantes ao longo do episódio, e destacarei duas delas. Primeiro, a sequência
emocionante na qual Neera traz para depor pessoas da USS Enterprise que
verdadeiramente se importam com ela e cujos depoimentos sinceros são de grande
ajuda… vemos La’An, M’Benga e Spock falarem sobre Una com tanto sentimento que
é lindo de se assistir – e, é claro, destacamos o depoimento de Spock, que é
uma mistura interessante de lógica e emoção, e ele fala sobre como a Federação
estaria punindo a si mesma punindo Una, porque é impossível mensurar a falta
que ela faria na tripulação da USS Enterprise. A maneira como ele se importa e
como isso está nos seus olhos em cada um dos momentos em que, durante o
depoimento, ele olha para Una.
É de
arrepiar.
Depois, toda
a sequência final, que é um verdadeiro primor da ficção. Tudo ali funciona
perfeitamente: o texto é excelente, as atuações são inspiradas, a construção da
tensão e o momento de catarse logo em seguida. Um clímax perfeito para um episódio perfeito. Vemos Pasalk
perguntar a respeito de quando o
Capitão Pike ficou sabendo que Una era uma Illyrian (e, então, entendemos por que Spock detesta tanto Pasalk!), e
eu realmente temi que, ali, tudo fosse por água abaixo, depois de parecer que
tudo estava indo tão bem, mas Neera, como a advogada brilhante que é, meio que já estava esperando por isso – e é o
toque final para que ela invoque o Código 8514 e use, como Pasalk tanto quer, a lei para conseguir inocentar tanto Una
quanto Pike.
Que roteiro
fascinante! A maneira como a leitura do Código 8514, em paralelo ao depoimento
da própria Una, que Neera acabou de coletar, torna evidente que ela foi
perseguida, que sua vida corria perigo, que ela buscou asilo e que Pike, como Capitão da Frota Estelar, ofereceu esse
asilo como era sua obrigação… mal dá para explicar, a não ser dizendo que esse
é, de fato, um grande episódio. Talvez o meu favorito em “Star Trek: Strange New Worlds”, embora eu os ame todos, de
diferentes maneiras. No fim, talvez não tenha sido toda a mudança para os
Illyrians que Neera esperava que esse caso fosse, mas ela ajudou pessoas com as
quais se importava de verdade, impediu uma injustiça e deu um importante primeiro passo. Por enquanto, é o bastante, e as
mudanças continuarão acontecendo.
Assim como esperamos que sigam acontecendo
no nosso mundo.
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