17 Outra Vez (17 Again, 2009)

Who says you’re only young once?

Existem alguns filmes que fazem parte da minha vida e os classifico como “filmes conforto”: aqueles aos quais eu retorno de vez em quando e que sempre me causam uma sensação boa. Dentre esses filmes, eu posso citar a) “De Volta Para o Futuro”, um filme com o qual eu cresci e que ajudou a definir muitos dos meus gostos na vida; b) “Click”, um filme emocionante que sempre me deixa reflexivo, pensando em como eu quero viver minha vida e tomar decisões; c) “Amizade Colorida”, que é uma das minhas comédias favoritas no mundo; e tantos outros. Lançado em 2009 e protagonizado por Zac Efron e Matthew Perry, “17 Outra Vez” é um desses filmes que conversa comigo, e não importa quantas vezes eu o assista: eu sempre vou rir e chorar quando o assistir.

Assim como “Click”, “17 Outra Vez” sempre me deixa emotivo e pensativo, e acho que é um daqueles filmes erroneamente classificados apenas como “comédia”, quando é muito mais do que isso… é verdade que eu dou boas risadas em vários momentos do filme, mas ele também tem uma mensagem tão sincera e tão tocante a respeito das escolhas que fazemos na vida: Mike O’Donnell abandonou um jogo importante que seria sua passagem para a faculdade em 1989, quando descobriu que a namorada estava grávida e, 20 anos depois, com a sua vida sendo muito diferente do que ele esperava, ele se pergunta se as coisas teriam sido diferentes se suas decisões tivessem sido outras… durante o filme, então ele é “presenteado” com o dom de voltar a ter 17 anos…

E, então, ele tem a chance de descobrir “o que ele faria” e o que realmente importa.

O filme é extremamente competente ao contar sua história. Zac Efron está em sua zona de conforto interpretando um adolescente apaixonado por basquete (!), mas ele também tem o desafio de interpretar um homem de 37 anos preso em um corpo adolescente, e, portanto, ele carrega o peso de suas experiências, suas frustrações, suas dúvidas e seu amor pela família, e é isso o que define a complexidade do filme: quando Mike O’Donnell volta a ter 17 anos, ele não retorna no tempo para 1989, com a chance de realmente ser um adolescente… ele vira um adolescente em 2009, no mesmo mundo em que seus filhos existem (e precisam de um pai), e sua esposa está pedindo o divórcio porque não parece haver muito que eles possam fazer para salvar o casamento.

Então, Mike O’Donnell precisa se reinventar, voltar a se conhecer e tomar decisões.

A grande sacada de “17 Outra Vez” é mostrar Mike O’Donnell percebendo, aos poucos, o que é que se espera dele depois que o seu “guia espiritual” o devolve à adolescência no meio daquela vida caótica e desesperançada. Inicialmente, ele acredita mesmo que é a sua oportunidade de voltar para a escola, jogar basquete, ir para a faculdade e “fazer as coisas para ele mesmo”, mas ele logo percebe que é muito mais complexo e muito mais íntimo que isso… ele percebe que talvez ele não conhecesse os filhos como acreditava, e eles precisam da sua ajuda, e que ele ama e sempre amou Scarlet, mas não valorizou esse sentimento… e não sei se é graças a “High School Musical”, se é porque ele é muito gato (e está lindo nesse filme) ou o que é, mas Zac Efron tem muito carisma e nos envolve!

Uma vez na escola, Mike tem a oportunidade de conhecer os filhos de verdade – fingindo ser “o filho bastardo do Tio Ned”. Gosto muito da amizade que se forma rapidamente com Alex, que ele acredita estar no time de basquete e ser popular, mas que é um garoto inseguro e que sofre bullying constantemente. A aproximação de Mike/Mark e Alex conta com cenas icônicas como aquela em que Mike enfrenta Stan no refeitório, e Mike acaba sendo o apoio que Alex precisava para realmente ser quem quer ser… Alex é bom no basquete, e Mike o ajuda a ficar ainda melhor, a ficar mais confiante, a ir conversar com a garota de quem gosta (apesar de que ele não se sai tão bem naquela cena em que compara o cabelo dela ao pelo da sua cachorra morta, mas é hilário) e tudo o mais.

Maggie, por sua vez, é um pouco mais complicada… Maggie está namorando Stan, o valentão e o cara mais babaca da escola, e está naquela fase tipicamente rebelde, pensando em deixar a oportunidade de ir para uma grande faculdade para “poder morar com o Stan” ou qualquer coisa assim, e Mike tenta absurdamente colocar algum juízo na sua cabeça. Em uma das cenas mais divertidas e, curiosamente, emocionantes do filme, Mike está desesperado durante uma aula de educação sexual na escola, e faz um discurso inspirado sobre o que é o amor, falando sobre a sensação de segurar a sua filha nos braços pela primeira vez… Mike também é o apoio de Maggie quando Stan se revela para ela como o babaca tóxico e abusivo que é, e toda a preocupação no rosto dele é palpável.

E, é claro, existe toda a relação de Mike O’Donnell com Scarlet, sua esposa… e é tão claro que ele a ama e que não quer perdê-la, mas ele precisou de toda essa experiência de “ter 17 anos novamente” para poder perceber o quanto estava errado. Surpreendentemente, a química de Zac Efron com Leslie Mann funciona perfeitamente, tanto em cenas divertidas (como a Scar chocada com a semelhança do “Mark” com o Mike na época da escola ou o Mike tentando sabotar um encontro da Scar), quanto em cenas românticas… amo ver os dois trabalhando juntos no jardim que ela está fazendo no quintal de casa, por exemplo, e amo vê-los dançando a música do casamento deles, ou a conversa que eles têm na festa na casa do Ned, antes de tudo desandar…

Preciso abrir parênteses e falar sobre Ned – E A SUA MARAVILHOSA CASA. Ned, o melhor amigo de Mike, que foi protegido por ele desde a época da escola, é um personagem potencialmente problemático; ainda assim, não nego que ele nos arranca algumas risadas sinceras, como naquele jantar com a diretora da escola, quando os dois encontram algo em comum e começam a conversar em élfico, e realmente é de arrepiar! A casa do Ned é um paraíso nerd que eu queria para mim… amo todos os elementos de “Star Wars” e de “O Senhor dos Anéis” que estão espalhados pela casa! Também é preciso ressaltar a cena da festa depois que Mike leva um soco de Stan, e acorda com Maggie, falando sobre como “teve um sonho estranho”: a cena toda remetendo ao clássico “Mom, is that you?” de “De Volta Para o Futuro”.

Uma das cenas MAIS EMOCIONANTES do filme acontece durante a audiência para o divórcio de Mike e Scar, quando ele aparece para tentar impedir o divórcio, dizendo que “tem uma carta do Tio Mike”, e então ele usa uma folha qualquer para fingir que está lendo, e fala tudo o que gostaria de falar para Scar… existe tanta verdade e tanto sentimento naquela cena, naquelas palavras, e Zac Efron transmite emoção com o seu olhar, sua voz embargada, as lágrimas que se juntam nos seus olhos. É, certamente, um momento lindíssimo. Lindo o suficiente para fazer Scarlet duvidar do divórcio, pedir que aquilo seja adiado e perceber que Mike, no fim das contas, talvez tenha salvação – até porque e se aquele garoto não estiver mentindo e for mesmo o Mike, como dissera?

As palavras foram ditas por ele, não lidas.

Mike O’Donnell passa por uma transformação significativa durante o filme… ter 17 anos de novo, voltar à escola, conhecer os filhos e reencontrar a esposa mostra para ele que ele não tomou as decisões erradas, como pensava, que ele não queria que a sua vida fosse diferente, no fim das contas, e que ele faria tudo de novo… então, quando ele tem a oportunidade de impressionar um olheiro da faculdade durante um jogo, exatamente como em 1989, mas vê Scarlet sair da quadra, ele percebe que ele nunca poderia ter feito algo diferente – e repete, com mais certeza do que nunca, a mesma coisa que fizera da primeira vez, e sai atrás de Scarlet, que é o que importa. Antes, ele deixa a bola de basquete para Alex, porque “agora é a sua vez”. Toda a sequência me emociona e chorei como da primeira vez que vi.

QUE FILME! EU AMO DE VERDADE!

 

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