American Born Chinese (A Jornada de Jin Wang) 1x07 – Beyond Repair

Soco no estômago.

Eu gosto muito de toda a parte da rebelião no Céu e a busca pelo Quarto Rolo, liderada por Wei-Chen, até porque isso rende visuais incríveis e sequências de luta impecáveis, mas eu realmente acho que “American Born Chinese” se sai ainda melhor como um drama quando se centra, como é o caso desse episódio, na Família Wang… sem contar as cenas de Jamie Yao, que são dois momentos breves, mas de um poder tão grande que me deixou sem fôlego. “Beyond Repair” é, como algumas pessoas diriam, “um soco no estômago”, e é um dos melhores episódios da série, na minha opinião. A densidade dos diálogos, a profundidade dramática perfeitamente alcançada, tudo contribuindo para a construção de uma narrativa extremamente humana, sensível e sincera.

Durante muito tempo, eu fiquei esperando a entrada definitiva do personagem de Ke Huy Quan na série, e eu sabia, pelo fim do episódio anterior e pelo título desse, que isso estava por vir – e é completamente diferente do que eu podia imaginar, mas, curiosamente, talvez melhor do que eu esperava. Era muito fácil pensar que Jamie Yao teria alguma participação mística, se revelaria alguém do mundo de Wei-Chen também, ajudaria direta e ativamente na busca pelo Quarto Rolo ou qualquer coisa assim, mas é muito mais íntimo e impactante do que isso, na verdade… Jamie Yao é um símbolo, e quando ele é persuadido a aceitar um reencontro com o elenco da série “Beyond Repair”, da qual ele participou na década de 1990, ele tem a chance de falar algo que precisa ser dito…

E não é apenas para Jin. É para todo mundo que está assistindo.

A sequência de Jamie Yao é uma das mais fortes de “American Born Chinese”. É bizarro como a entrevista é conduzida sem qualquer cuidado, como se a fala do seu personagem eternizada em um meme que debocha dele fosse algo legal, e Jamie tem muita força ao dizer, de maneira sensata e inteligente, o que lhe incomodou durante todos esses anos: a maneira como foi ele que “abandonou” Hollywood porque só lhe ofereciam papéis que não eram o que ele queria fazer… ele queria ser o herói. E quando ele diz o herói, ele não quer dizer o Batman ou o Superman, necessariamente (mas também!), mas alguém que tenha uma jornada, e que não seja apenas o alívio cômico – papéis que foram negados a Jamie Yao durante toda a sua vida… assim como o foram a Ke Huy Quan.

Talvez exista ainda mais força no seu discurso porque sabemos do tempo que Ke Huy Quan passou afastado da atuação porque lhe diziam que “não tinham papéis para ele”, então quando ele está fazendo aquele discurso, inspirado e belíssimo, provavelmente existe muito do próprio Ke Huy Quan naquelas palavras – aquela intensidade no olhar e aquela dor sob a voz não é apenas do personagem, e isso torna tudo muito grandioso e muito forte. E, para a série, Jin Wang está ouvindo aquilo, e parece para ele que Jamie fala sobre como espera que “alguém esteja ouvindo e saiba que não precisa ser a piada, pode ser o herói”. A importância do personagem de Jamie está nesse símbolo que ele representa, nessa faísca que ele causa em alguém que nem conhece…

É muito poético!

Jin também tem cenas incríveis com a família, embora o protagonismo esteja em volta de Christine, Simon e a relação deles. Quando ele percebe que os pais podem estar prestes a se separar, Jin não consegue lidar bem com isso e está a ponto de explodir na escola – não ajuda o fato de ele se sentir um verdadeiro fracasso como “guia” de Wei-Chen, porque tudo deu errado nessa história também. Então, enquanto ele tenta conversar com Amelia, ele acaba se estressando com o mascote da escola e sendo levado para a diretoria depois de empurrá-lo contra os armários, na segunda demonstração de violência de Jin em questão de semanas… então, os seus pais são chamados para conversar – e, aqui, temos mais uma cena que é um soco no estômago.

É nauseante assistir à maneira como a diretora fala, e como ela tenta esconder um discurso claramente xenofóbico em sua fala. A postura, os olhares, a fuga… tudo é extremamente desconfortável, e esse é o momento em que vemos um Simon mais forte. Ele mantém a sua voz tão calma e tão estável, mas, ao mesmo tempo, existe tanta firmeza e muito sentimento quando ele diz tudo o que precisava ser dito à diretora: fala sobre como estão sempre pressionando para “serem melhores” porque eles precisam ser melhores, e fala sobre como Christine é a melhor mãe do mundo, e ela pressiona Jin porque sabe que ele aguenta, mas só até onde ele aguenta, porque também existe muito amor, atenção e cuidado. É lindo ouvir o Simon falar, e aquilo lava a nossa alma.

Embora para a maioria dos espectadores de “American Born Chinese” só importe toda a narrativa em torno do Quarto Rolo, e mesmo que eu AME o Wei-Chen e ele seja o meu personagem favorito, nesse episódio foi impossível competir com a dramaticidade e com a emoção de falas como a de Jamie Yao e Simon Wang que, para mim, elevaram a série a um outro patamar. Ainda assim, tivemos boas cenas protagonizadas por Wei-Chen (que cena dele não é excelente?), com destaque novamente para uma sequência de ação impecável (coreografias fantásticas nessa série!), e uma conclusão triste que dá a entender que o pai de Wei-Chen morreu… ainda vou assistir ao último episódio para ter certeza, não quero acreditar que isso aconteceu.

 

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