Hoje é dia de Maria, Primeira Jornada – Episódio 6: O Reencontro
“É verdade
que o homem é um grão na imensidão da Terra. Mas é um grão que guarda em si a
vida, o amor e o verso”
A VIDA, O
AMOR E O VERSO. Maria passa os dias contando as horas até que o sol se ponha
para que possa voltar para os braços de seu Amado, quando a noite toma conta e
eles podem estar juntos antes que ele se transforme novamente em pássaro pelas
horas infindáveis do dia – “As hora da
noite são curta. As do dia tarda tanto a passar”. Esse amor interrompido é causa de muito sofrimento tanto para Maria
quanto para o seu Amado e, eventualmente, para Quirino também, o saltimbanco
com quem Maria seguiu viagem depois de encontrá-lo na estrada, em uma busca
interminável pelas franjas do mar… embora, agora, a narrativa de “Hoje é dia de Maria” tenha se voltado
para esse amor sensual, sincero, intenso e com suas próprias dificuldades.
Embora
pareça ter “se perdido” de sua missão original, Maria ainda pensa no pai, que
não vê há “anos”, e é bonito vê-la perguntar a respeito dele para Rosa, a irmã
de Quirino, que lhe diz, a partir da leitura das cartas, que seu pai ainda está
vivo… e, naquele momento, parece ser o suficiente para deixar Maria contente e
respirando aliviada. Quando o Pai esteve mais perto de encontrar a filha, na
festa de casamento do Príncipe, Asmodeu desviou seu caminho para que a busca
por Maria não chegasse ao fim, e agora o Pai pede a Deus por sinais, porque já
cansou de pegar as estradas erradas da vida, e sente que o seu tempo está
chegando ao fim… o “reencontro” sobre o qual fala o título do episódio, no
entanto, ainda não é o reencontro de pai e filha.
Várias cenas
de “O Reencontro” se dedicam às
descobertas de Maria e seu Amado, enquanto eles se apaixonam e se entregam ao
amor, em cenas sensuais, poéticas e, consequentemente, muito bonitas. Toda a
entrega e a paixão, no entanto, é manchada pela tristeza constante de saber que
aquelas horas felizes pouco durarão e, em breve, eles estarão separados
novamente – pelo menos até que o Amado encontre uma maneira de ser inteiramente humano, se é que existe uma
forma. Enquanto os saltimbancos se afeiçoam à Maria e não questionam os seus
constantes desaparecimentos noturnos, Quirino se torna cada vez mais apaixonado
por Maria e, naturalmente, cada vez mais triste,
porque é evidente que Maria já tem um amor em sua vida…
Defendo, no
entanto, o Quirino, porque existe mais tristeza, pesar e melancolia em seu ser
do que, de fato, maldade – pelo menos até que ele seja tentado. Mesmo
apaixonado por Maria, Quirino está inicialmente disposto a guardar o sentimento
para si, “atrás dos muros do seu coração”, até que ele desapareça, e o episódio
nos entrega uma cena lindíssima de Quirino em frente ao espelho, em um monólogo
inspirado no qual ele chega à conclusão de que “o amor não pode ser um peso”, e
decide lavar o rosto e tirar a maquiagem de palhaço, porque nem ele mesmo se
lembra de quem era por baixo dessa máscara. Ali, Quirino está aceitando o seu
sentimento e o fato de que ele nunca será correspondido, talvez no fundo feliz
que Maria também possa ser feliz.
E, então,
Asmodeu muda tudo. Esse é o tal “reencontro” que o título do episódio sugere,
porque Asmodeu está de volta à vida de Maria – pronto para estragá-la
novamente. Ali, Asmodeu instiga Quirino a lutar
pelo amor de Maria e, infelizmente, Quirino não é forte o suficiente para
resistir a essa tentação. Gosto muito de como “Hoje é dia de Maria” representa essa transição na personalidade e
nas atitudes de Quirino porque, uma vez tentado
por Asmodeu e se tornando uma pessoa com atitudes maldosas, tudo em Quirino nos
remete justamente ao próprio Asmodeu: a sua caracterização, a sua postura e
forma de andar, até mesmo a iluminação de suas cenas, que lhe dão um tom
avermelhado que associamos à cor da pele da forma principal do Asmodeu.
Então,
Quirino se torna um “fantoche” de Asmodeu, sendo o instrumento através do qual
ele vai trazer sofrimento para Maria (mas, sim, isso só é possível porque, em algum
lugar dentro dele, existe também essa vontade de separar Maria do Amado
pássaro) – a garota cuja infância já foi roubada e cujo amor parece impossível
de fazê-la plenamente feliz. Naquela noite, quando o sol se põe, Maria não
encontra seu Amado, porque ele foi aprisionado, ainda em sua forma de pássaro,
em uma gaiola imensa por Quirino… durante a noite, Maria e o Amado cantam
separadamente uma mesma canção, através da qual sentimos o anseio, a saudade e
a dor, em uma cena lindíssima de “Hoje é
dia de Maria”, com todo aquele tom de melancolia que a marca tanto.
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