Doctor Who (1ª Temporada, 1964) – Arco 006: The Aztecs

Não se pode reescrever a história.

MAIS UM EXCELENTE ARCO DA PRIMEIRA TEMPORADA DE “DOCTOR WHO”. Exibido entre 23 de maio e 13 de junho de 1964, “The Aztecs” é o sexto arco da série e é dividido em quatro partes, levando o Doctor, Susan, Barbara e Ian para o México do Século XV, na época dos Astecas. Escrito por John Lucarotti, o mesmo roteirista que trouxera o excelente “Marco Polo” anteriormente, “The Aztecs” também tem um tom histórico e aventuresco, bem como um vilão icônico – dessa vez, Tlotoxl. A história começa com Barbara sendo confundida com a reencarnação de Yetaxa e, portanto, tratada como uma deusa, e ela incorpora a personagem na esperança de fazer alguma diferença e, quem sabe, mudar a história, impedindo os constantes sacrifícios humanos que eram feitos.

A premissa, apresentada desde a primeira parte da história, “The Temple of Evil”, é algo que veremos bastante durante toda a história de “Doctor Who”: eles podem interferir na história? Com Barbara sendo tratada como Yetaxa, e o Doctor, Ian e Susan assumindo os papeis de seus servos, ela espera poder interferir, mesmo com os avisos veementes do Doctor sobre como ela não pode reescrever a história – e é algo que a própria Barbara vai perceber aos poucos, conforme suas tentativas acabam falhando… quando se organiza um sacrifício humano em busca de chuva (!), Susan grita antes da execução, e “Yetaxa” também manda pararem a cerimônia, mas o homem que seria sacrificado se sente ofendido e desonrado por essa interrupção e se mata.

E, assim, se perpetua a ideia de “a morte trazer bênçãos”, porque a chuva começa em seguida.

Toda a coisa de Barbara tentar impedir um sacrifício, que faz parte da cultura daquela civilização, faz com que algumas pessoas comecem a duvidar dela… Tlotoxl, que é responsável pelos sacrifícios, começa a se perguntar se ela é mesmo Yetaxa e, como acredita que se trata de uma falsa deusa, ele quer destruí-la. Durante “The Warriors of Death”, a identidade de Barbara como Yetaxa é formalmente desafiada, e eu preciso dizer que A BARBARA ESTAVA MARAVILHOSA. Faz algum tempo que Barbara vem crescendo como a melhor companion dessa fase de “Doctor Who”, e a maneira como ela se comporta como uma deusa é magnífica, e ela não sai do personagem em frente aos Astecas em nenhum momento… nem mesmo quando sua identidade é questionada.

Enquanto está sozinha ou só com os amigos, no entanto, ela é a velha Barbara de sempre, humana e com dúvidas, e isso dá tantas camadas à personagem que é incrível! Ela é uma mulher forte e determinada, o seu objetivo parece ser algo bom, e eu adoro a relação que ela e o Doctor estabeleceram: aqui, temos uma cena fortíssima na qual ele dá uma bronca nela e fala que ela não podia ter tentado mudar a história, mas logo em seguida percebe o quanto foi grosseiro e pede desculpas, o que também é excelente, porque mostra diferentes camadas do personagem do Doctor também. Enquanto isso, Ian está sendo desafiado por Ixta e não há nada que “Yetaxa” possa fazer para evitar o duelo, porque mesmo com os anos de treinamento de Ixta, Ian o venceu com um só golpe anteriormente

O duelo, que não deveria ser até a morte, quase acaba com a morte de Ian, e “Yetaxa” é desafiada a salvar a sua vida no início de “The Bride of Sacrifice”, a terceira parte da história – e ela se sai incrivelmente bem, salvando a vida de Ian, sim, e dizendo que não havia porque usar poderes divinos se recursos humanos eram o suficiente, o que parece muito sábio e convincente… afinal de contas, Barbara tem essa vibe mesmo. Barbara também age movida por sua inteligência notável quando Tlotoxl tenta enganá-la e fazê-la tomar veneno, como um teste para saber se ela é mesmo Yetaxa porque, se fosse, sobreviveria… com uma plenitude fascinante, Barbara joga bem, manda Tlotoxl tomar primeiro e age ultrajada por ele ter tentado envenená-la.

Ele ainda ameaça Tlotoxl porque, naquele momento, ela tem o poder.

E É INCRÍVEL.

Tlotoxl, então, precisa de outro plano para provar que sua desconfiança está correta e Barbara é uma impostora, e ele sabe que a fraqueza da falsa deusa são os seus companheiros de viagem… por isso, a vítima perfeita que está prestes a ser sacrificada durante um eclipse para “trazer o sol de volta” anuncia que quer Susan como sua esposa, e Susan se recusa, como ela já tinha dado a entender quando disse que jamais se casaria a não ser com alguém que ela mesma tivesse escolhido – então, Susan é tratada como uma criminosa por desrespeitar os costumes e, portanto, levada até Tlotoxl que organiza uma punição para ela, sabendo o quanto “Yetaxa” se importa com ela e que provavelmente não vai conseguir continuar fingindo que é uma deusa quando Susan estiver em perigo.

Enquanto isso, o Doctor faz de tudo para descobrir uma maneira alternativa de entrar na tumba onde a TARDIS ficou, para que eles possam fugir de lá – e, no meio disso tudo, ele conhece Cameca e, quando os dois compartilham uma bebida de cacau que ele faz, ela acredita que foi pedida em casamento… é muito interessante perceber como essa época de “Doctor Who” se preocupava em desenvolver personagens que faziam parte de apenas um arco, começando uma tendência que deixaria resquícios em “Doctor Who” até hoje: aqueles personagens que participam de apenas alguns episódios, mas que desejamos que fizessem parte da equipe da TARDIS, sabe? Passamos por alguns personagens assim durante todos esses 60 anos de “Doctor Who”.

O último episódio do arco, “The Day of Darkness”, traz Ian se salvando de algo que poderia tê-lo matado e, de quebra, descobrindo como abrir a passagem até a tumba de volta para a TARDIS. Antes de poderem partir, no entanto, Ian precisa resgatar Susan, que está sendo vigiada por Ixta e que ele derrota mais uma vez usando apenas o seu polegar, como fizera em uma demonstração em outro episódio – mas resgatar Susan acaba não sendo o suficiente. Tlotoxl arma um ataque a Autloc, o alto sacerdote, cuja culpa é colocada sobre Ian, como se ele o tivesse atacado enquanto tentava ajudar Susan a escapar, e então os dois estão em perigo de punição. Toda a reta final é eletrizante, traz um suspense interessante e uma boa luta até que o grupo consiga escapar antes do próximo sacrifício

Que acontece, sem a interferência deles.

No fim, não há muito que se tenha podido fazer, é verdade, e os sacrifícios humanos vão continuar acontecendo naquela civilização, como sempre aconteceram, mas Barbara e os demais conseguiram salvar uma vida, a de Autloc, o que já é alguma coisa… gosto muito da discussão levantada por “The Aztecs” e de como Barbara tem um momento melancólico de despedida no fim do episódio, se perguntando qual é o ponto de viajar pelo espaço e pelo tempo se não se pode mudar nada e, dessa vez, o Doctor é bastante bacana com ela, inclusive a ajudando a ver a diferença que ela fez na vida de Autloc. Estou muito contente pelo desenvolvimento da relação do Doctor com os seus companions, essa é e sempre será a alma de “Doctor Who”.

 

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