Heartstopper 2x03 – Promise

O sofrimento de Nick.

Se assumir é um tema muito recorrente e muito importante, quando bem trabalhado, em histórias queer – e é uma realidade que jamais vai ser plenamente entendida por quem não é parte da comunidade LGBTQIA+. “Com amor, Simon” brinca com essa temática quando questiona o porquê de pessoas LGBTQIA+ terem que se assumir e quem é hétero não… por que, quando nada é dito, se assume a heterossexualidade e pronto? Em parte, a segunda temporada de “Heartstopper” é sobre o Nick se assumir, e como isso não é a coisa mais fácil do mundo, mesmo sendo algo que ele quer fazer, e eu gosto muito de como a série consegue tratar esse tema de maneira humana, e de uma forma que nós consigamos nos reconhecer através dos personagens.

Eu fico MUITO FELIZ por ver que, de certa maneira, “Promise” é um episódio muito mais pra cima que o seu antecessor, sem deixar de ser sério, realista e emocionante. Ver Nick e Charlie sendo namoradinhos fofos na escola é algo que sempre me deixa feliz, e ganhamos uma cena muito bonita quando a professora vê os dois se beijando no vestiário (!) e tem uma conversa bacana com Nick, porque ela o entende e o respeita… também é muito bom celebrar que os importantes exames de Nick chegaram ao fim e que Charlie terminou o seu trabalho de história, e agora eles vão simplesmente poder curtir um pouquinho a companhia um do outro sem precisar se preocupar com a escola ou com castigos… e em breve eles estarão sendo fofos em Paris.

Nick, no entanto, está se pressionando porque acredita que ele precisa se assumir – ele “prometeu” ao Charlie que faria isso naquele encontro na praia, e agora ele simplesmente não consegue colocar as palavras para fora para os amigos do rúgbi, por exemplo, que claramente são muito menos babacas que o Harry e, convenhamos, já sabem de tudo. Não é como se o Nick e o Charlie fizessem questão de esconder de verdade o que eles estão sentindo e vivendo, sabe? Mas toda vez que o Nick parece prestes a dizer alguma coisa, alguma coisa acontece, como aquele comentário de que eles sabem que “ele e o Charlie são bons amigos” (e realmente não foi por mal, o garoto estava tentando mostrar pro Nick que entendia!), ou o idiota do Harry aparecendo do nada.

Na festa em comemoração ao fim dos exames, no entanto, Nick está determinado a contar para os amigos… e eu realmente não acho que era mesmo o melhor momento, com toda aquela confusão de pessoas, de música, de gritos e tudo o mais. O clima, no entanto, colabora para intensificar a sensação de sufocamento que Nick está sentindo, e a cena em que ele tenta se forçar a contar aos amigos que é bissexual e não consegue é uma das mais tristes, intensas e reais de “Heartstopper”… a maneira como tanta coisa passa pela cabeça de Nick, coisas que aconteceram, coisas que ele aumenta, coisas que nunca aconteceram: Tori o cobrando; David perguntando por que ele não assume que é gay; Ben o fazendo pensar que eles são iguais; Charlie dizendo que ele prometera.

Mas Charlie jamais o pressionaria daquela maneira.

E essa é uma das belezas de “Heartstopper”, na minha opinião, porque o relacionamento de Charlie e Nick é muito bonito, saudável e eles estão sempre dispostos a dar força um para o outro. Aquela “fala” do Charlie é, na verdade, apenas a projeção de Nick, que teme decepcioná-lo toda vez que não assume o namoro deles, mas Charlie o entende… talvez Charlie o entenda melhor do que ninguém, na verdade, já que ele foi tirado do armário e sofreu horrores com um bullying pesado que deixou marcas. Ele não quer que o Nick passe pelo mesmo que ele, portanto ele abraça o Nick e diz que quer, sim, que todo mundo saiba que ele é seu namorado (!), mas que quer que ele se assuma quando e como ele quiser… como e quando ele estiver pronto para isso.

Portanto, “Promise” tem, sim, um quê de melancolia, mas também tem uma beleza latente na maneira como representa um pouco do que o Nick está sentindo, e como Charlie o entende e o acolhe da maneira mais perfeita possível… é como a mãe de Nick diz ao Charlie, em uma cena rápida, bonita e que Joe Locke queria muito ter com Olivia Colman: Nick tem sorte em ter o Charlie em sua vida. Assim como o Charlie tem sorte em ter o Nick. Toda a cena do Nick deitado no peito de Charlie, e o Charlie cuidando dele naquele abraço é a coisa mais linda do mundo… acho que não existe lugar no mundo para se estar. E em breve eles estarão andando pelas ruas ensolaradas de Paris, uma das cidades mais românticas do mundo, e ganharemos uma série de cenas fofas.

O episódio também traz bastante de Tao e Elle, que dão um passo à frente e dois para trás na relação deles. No fim do episódio passado, Tao entendera e confessara aos amigos que ele gosta da Elle, e então ele começou a planejar tudo para o encontro perfeito – inclusive procurando por dicas na internet que o fizeram cortar o cabelo (confesso que eu gostei bem mais do cabelo dele assim, apesar de que do outro jeito era meio que uma marca registrada do Tao, então fico dividido), colocar uma roupa totalmente diferente das que ele normalmente usa e levar um buquê de flores para a Elle na saída da escola, a chamando para um encontro. E aquele momento me deixou sorrindo feito um bobo, mas eles não sabem como fazer o encontro funcionar de verdade…

E, em parte, é porque o Tao está tentando demais.

Adolescentes são complicados, né? O encontro acaba sendo um verdadeiro desastre, porque nenhum dos dois sabe exatamente como se comportar, depois de terem sido amigos uma vida inteira, e Elle tem a sensação de que o Tao “é uma pessoa completamente diferente”, o que, de certa maneira, ele está sendo… mas eu defendo o Tao, e acho que ele só é inexperiente e queria que tudo fosse perfeito porque realmente gosta da Elle, e vê-lo chorando abraçado no Charlie, dizendo que estragou tudo e que “é impossível alguém gostar dele” me partiu o coração. Elle, por sua vez, também tem o coração partido com as acusações de Tao de que ela também está agindo como outra pessoa, e então ela encontra consolo nas suas novas amizades, que talvez entendam o esforço de Tao melhor que ela, vendo de fora…

Eles vão ter que tentar de novo em algum momento.

 

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