Percy Jackson e os Olimpianos, Livro Três – A Maldição do Titã (Rick Riordan)
“Um chamado do amigo Grover deixa Percy a postos para mais uma missão:
dois novos meio-sangues foram encontrados, e sua ascendência ainda é
desconhecida. Como sempre, Percy sabe que precisará contar com o poder de seus
aliados heróis, com sua leal espada Contracorrente… e com uma caroninha da mãe.
O que eles ainda não sabem é que os jovens descobertos não são os únicos
em perigo: Cronos, o Senhor dos Titãs, arquitetou um de seus planos mais
traiçoeiros, e nossos heróis serão presas fáceis. Um monstro ancestral foi
despertado – um ser com poder suficiente para destruir o Olimpo –, e Ártemis, a
única deusa capaz de encontrá-lo, desapareceu. Percy e seus amigos têm apenas
uma semana para resgatar a deusa sequestrada e solucionar o mistério que ronda
o monstro que ela caçava.”
Desde que eu
comecei a reler “Percy Jackson e os
Olimpianos” eu estava ANSIOSO para chegar a esse terceiro livro. “O Ladrão de Raios” é uma excelente
estreia para a série de Rick Riordan, mas “O
Mar de Monstros” é um livro do qual eu não gosto muito, embora reconheça a
sua importância para a saga e para a expansão desse universo. “A Maldição do Titã”, por outro lado,
era um dos meus favoritos quando li a série pela primeira vez, lá por 2010, e
podendo o reler agora, eu reforço o meu sentimento em relação a ele: É UM LIVRO
MUITO BOM! Sempre com a escrita envolvente, astuta e inspirada de Rick Riordan,
“A Maldição do Titã” brinca com novos
elementos da Mitologia Grega, uma nova combinação de protagonistas e avança o
plano de retorno de Cronos.
Tem algo
muito fascinante em “A Maldição do Titã”
para mim, e é quase difícil de dizer com clareza o que é. Ainda assim, posso listar alguns dos elementos desse
terceiro livro que me fazem gostar tanto dele, como a estreia dos irmãos Bianca
e Nico di Angelo, que são personagens de quem gosto muito, ou até mesmo a
primeira aparição de Rachel Elizabeth Dare. É possível perceber certo “padrão”
da saga “Percy Jackson e os Olimpianos”
se repetindo, conforme Percy e os amigos se metem em uma nova missão para
salvar o mundo e deter Luke e Cronos, com um prazo apertado, uma série de
desafios, monstros no meio do caminho e perdas… ainda assim, os cenários
explorados e os perigos enfrentados rendem uma trama eletrizante e cheia de
informações!
Gosto muito
da brincadeira que Rick Riordan faz
com seus personagens. Quando a saga começou, em “O Ladrão de Raios”, parecia que o trio formado por Percy, Annabeth
e Grover era inseparável. E, de fato, eles são três grandes protagonistas da
série, e se importam uns com os outros incondicionalmente, o que movimenta a
trama na direção pretendida pelo autor… mas se em “O Mar de Monstros” o Grover é preso por um ciclope e precisa ser
resgatado, alterando um pouco a “formação” do grupo original, em “A Maldição do Titã” temos Annabeth
sendo capturada depois de uma primeira batalha contra o Manticore, e mesmo que ela faça falta na narrativa, a sua
ausência permite que o protagonismo feminino seja dividido com personagens
incríveis como a Thalia e a Zoë.
E é
FASCINANTE como a narrativa funciona bem com esse grupo.
Certamente,
uma das minhas combinações favoritas da série toda!
Toda a
introdução de “A Maldição do Titã”,
já agitada, traz uma série de aparições importantes. Percy está em uma missão
com os amigos para resgatar dois meio-sangues que foram descobertos
recentemente, e eles acabam recebendo a ajuda das Caçadoras lideradas por
Ártemis (às quais Bianca di Angelo decide se juntar) e pegando uma carona com
Apolo até o Acampamento Meio-Sangue, com a Thalia dirigindo o Carro do Sol e
tudo! E, aos poucos, vai se construindo uma tensão
que será importantíssima para toda a dinâmica do grupo que, mais cedo ou mais
tarde, vai se formar em uma missão que envolve tanto resgatar Ártemis, que é
presa e acorrentada, quanto Annabeth, que Percy sabe que ainda está viva porque
sonhou com ela e com Luke.
Preciso
dizer que o jogo de Captura da Bandeira de “A
Maldição do Titã” é MUITO MAIS TENSO do que aquele que acompanhamos em “O Ladrão de Raios”. Apesar de toda a
rivalidade com Clarisse, lá, existia um quê de amistoso no jogo, mas quando Campistas e Caçadoras se enfrentam,
não parece algo tão amistoso assim.
E, com os nervos à flor da pele, Percy e Thalia acabam discutindo
ferrenhamente, o que faz todo o sentido, sendo eles filhos de Poseidon e Zeus,
respectivamente… e preciso dizer que não importa que Percy Jackson seja o
protagonista que dá nome à série e tudo o mais, ele estava errado e de fato estragou tudo na Captura da Bandeira.
Não que isso seja importante, no fim das contas, porque o Oráculo sai do sótão
pela primeira vez em anos e anuncia a profecia do livro:
“A oeste,
cinco buscarão a deusa acorrentada,
Um se perderá na terra ressecada,
A desgraça do Olimpo aponta a trilha,
Campistas e Caçadoras, cada um, brilha,
A maldição do titã um deve sustentar,
E, pela mão do pai, um irá expirar.”
É, talvez, a
Profecia mais dramática até o momento
– a não ser pela Grande Profecia, é claro.
Inusitadamente,
Percy não é escolhido para fazer parte dessa missão… não dessa vez. Como o
principal objetivo é salvar Ártemis, Zoë quer mais Caçadoras que Campistas, e
sugere ela, Febe e Bianca, enquanto os Campistas da profecia são Grover e
Thalia – as Caçadoras não se sentem bem viajando com um garoto, e Percy e
Thalia acabaram de provar, na Captura da Bandeira, que são explosivos quando estão juntos… talvez fosse o melhor. De todo
modo, Percy acaba saindo para ajudar Blackjack a salvar um “monstro marinho”,
pouco depois de ter um sonho de Ártemis assumindo um peso para salvar Annabeth, o que é a prova de que
a busca que ele quer empreender em busca de Annabeth tem tudo a ver com a
missão liderada por Zoë saindo do Acampamento.
E,
eventualmente, ele se junta à missão escondido… com Febe impossibilitada de se
juntar à missão por causa de um problema com uma camiseta da lojinha de
presentes (!), Percy se torna mesmo o quinto integrante do grupo – mas sem que
o grupo tenha conhecimento disso, porque ele conta com o boné de invisibilidade
de Annabeth e a ajuda de Blackjack, e é ele quem encontra o Dr. Espinheiro, o
General e o Luke antes dos demais, tentando alertá-los sobre guerreiros-esqueletos que estão vindo por
ele, mas eles precisam lidar com o Leão de Nemeia antes. Como sempre, Rick
Riordan entrega sequências de ação INCRÍVEIS, com direito a uma ajuda de Apolo,
a aparição do Javali de Erimanto, a possível presença de Pã, e uma carona até
São Francisco…
O lugar mais perigoso em que um meio-sangue
pode estar.
Uma das
coisas que eu mais gosto em “A Maldição
do Titã” é explorar o passado de Bianca e Nico di Angelo – e, já tendo lido
a série uma vez e, portanto, sabendo o que está por vir, é ainda mais
divertido! É legal ficar prestando atenção em todas as dicas que o livro dá,
tanto de que os irmãos não são desse tempo
porque passaram anos hospedados no Cassino Lótus (como quando Bianca faz aquele
comentário sobre as estações de metrô, que não existiam em Washington quando
ela morava ali ou as “falhas” de memórias que tanto Bianca quanto Nico têm a
respeito do próprio passado), quanto de que são filhos de Hades (como quando
Bianca é capaz de incinerar um
guerreiro-esqueleto que mais ninguém no grupo é capaz de “matar”, e que é um
momento e tanto para ela!).
Um dos
momentos mais dramáticos do livro acontece, como a profecia sugere, na terra ressecada – “Um se perderá na terra ressecada”. Com
a profecia do Oráculo dessa vez, todos sabiam que haveria perdas. Ainda assim, quando Bianca tenta pegar uma estátua
de um deus que é a única que faltava para
o irmão completar a coleção do jogo que ele tanto ama e isso desperta a ira
do gigante Talo, que os persegue por um ferro-velho no deserto, ficamos de
coração apertado. Bianca se sacrifica para permitir que os demais sigam viagem,
e embora seja uma sequência profundamente triste, todos sabem que precisam
seguir em frente porque não têm muito tempo, e nada podem fazer, se a profecia
já os tinha avisado de que um se perderia
na terra ressecada.
Outra parte
importantíssima de “A Maldição do Titã”
e que eu adoro é a Zoë: quem ela é no presente e toda a sua história. É
interessante como a Zoë é uma personagem intensa
e não necessariamente fácil de gostar
em um primeiro momento… mas, assim como acontece com o Percy, aprendemos a
gostar tanto dela e nos importar com ela, e queremos explorar mais do seu
passado, que é pincelado em duas cenas importantes: uma que é um sonho de Percy
com Zoë dando a Anaklusmos, naquela época não uma caneta, mas um grampo de
cabelo, ao seu amado; e outra quando Zoë e Percy conversam sobre a espada, o
passado dela como uma das Hespérides e como foi banida por “ajudar um herói”,
que não é difícil de entender que se trata de Héracles.
Inclusive, gosto muito de como Rick Riordan
introduz elementos da história de Héracles no livro.
Também gosto
muito da inusitada mortal que enxergar
através da Névoa, Rachel Elizabeth Dare, que faz sua única aparição no
livro na Barragem de Hoover, ajudando o Percy quando ele mais precisa de ajuda, porque está encurralado pelos
guerreiros-esqueleto que estão tentando matá-lo. Sempre gostei muito da Rachel,
acho que ela transborda um carisma que é impossível deixar passar mesmo que ela só esteja em um capítulo de “A Maldição
do Titã”. É GOSTOSO ler enquanto ela fala sem parar, até porque ela não
fala o que esperamos que uma mortal fale naquela situação, o que pega o Percy
totalmente desprevenido. Rachel é divertida, metida, muito perceptiva e de uma
ajuda inegável na Barragem – assim como as ajudas de Atena, no elevador, e de
Zeus, com os anjos de bronze.
Inclusive, ADORO a sequência dos anjos de
bronze.
A trama de “A Maldição do Titã”, que é o que acabou
fazendo com que Ártemis ficasse presa, é a busca por um perigoso monstro da
antiguidade, a “desgraça do Olimpo”, que não é perigoso pelos motivos que eles acreditavam inicialmente… não se trata de um
monstro como o Minotauro ou o Leão de Nemeia, mas “Bessie”, a vaca-serpente que
Percy salvou antes de sair do Acampamento, e que ele descobre que se trata do
Ofiotauro, uma criatura mitológica que, quando sacrificada, dá o poder de acabar com os deuses a quem jogar as
suas entranhas no jogo… é o que Luke, o Manticore e o General esperam que a
Thalia faça, porque ela vai completar 16 anos em dois dias e pode ser a
“protagonista” da profecia dos Três Grandes. E por um momento parece que ela hesita.
É angustiante… e faz todo o sentido.
Felizmente,
Thalia não faz isso, e os heróis recebem ajudas inesperadas, como a do Sr. D
contra o Dr. Espinheiro (!), e do Dr. Chase, o pai de Annabeth, e partem para o Monte do Desespero, onde o General
das forças de Cronos, seu braço direito, foi preso logo depois do Jardim das Hespérides, e onde Annabeth e Ártemis
estão presas agora… o que quer dizer que Zoë precisa reencontrar as irmãs que
não a reconhecem mais como uma delas, enfrentar o dragão que já a protegeu um
dia, e eles ainda encontram o temível Monte Otris se reconstruindo, o que não é um bom sinal. E ali, no Monte
Otris, a última parte da profecia ganha forma quando descobrimos que o General
é o Atlas, que o peso que Ártemis está segurando é o do Céu e que Atlas é o pai de Zoë.
“E, pela mão do pai, um irá expirar”.
É facilmente
o meu clímax favorito de “Percy Jackson e os Olimpianos” até o
momento, porque tem um pouco de tudo. Tem ação garantida pelo Percy sustentando
o peso do céu por um tempo curto para ajudar Ártemis e os dois trabalhando
juntos para enganar o titã Atlas e colocá-lo de volta ali (“A maldição do titã um deve sustentar”), e pela partida do Monte
com a ajuda do Dr. Chase, o “trenó” e um avião de guerra; e tem muita emoção,
garantida pela intensidade do confronto entre Thalia e Luke, e a inevitável
despedida de Zoë, que é uma das partes mais
emocionantes do livro… a morte de Zoë é triste, mas também é emocionante e
bela, uma linda despedida com Ártemis a transformando em uma nova constelação,
e Zoë ganhando o descanso pelo qual aparentemente ansiava.
Só é forte e
emocionante porque nos importamos com
ela. Lindíssimo!
O pós-clímax
do livro também traz alguns momentos marcantes – sempre é interessante poder
visitar o Olimpo, não? Mal posso esperar para poder ver cenas como essas na
série futura! No solstício de inverno, o prazo final para a completude da
missão, os meio-sangues são “julgados” no Conselho dos Deuses, em uma sequência
sincera e amedrontadora. O momento mais lindo
vem com o convite de Ártemis e a decisão de Thalia de se juntar à irmã na
Caçada, o que significa que ela nunca
completará 16 anos, e o herói da Grande Profecia fica sendo mesmo Percy
Jackson. Por isso, os deuses discutem se devem matá-lo, porque ele é perigoso,
mas embora Ares e Atena (!) estivessem dispostos a fazê-lo, Poseidon não
permitiria que esse fosse o fim do seu filho…
E, portanto, ele dá a sua palavra em defesa
de Percy.
Três
conversas marcam os últimos capítulos de “A
Maldição do Titã”: 1) a conversa de Percy com Poseidon, muito bonita, na
qual o pai mostra estar orgulhoso dele e de quem ele é; 2) a conversa de Percy
com Atena, que é dura com ele, mas também sincera, e entendemos a sua forma excessivamente racional de pensar; e 3)
a conversa de Percy com Nico di Angelo, de volta no Acampamento Meio-Sangue,
quando ele tem que contar ao garoto que Bianca morreu e Nico se volta contra
ele, porque ele “tinha prometido protegê-la”. Nico é apenas um garoto de 10
anos, mas ele é filho de Hades, está furioso com Percy e acaba desaparecendo
depois da conversa… ele é justamente o tipo de meio-sangue que Luke estará
recrutando para as forças de Cronos!
Lembro de
ter ficado encantado por “A Batalha do Labirinto” também quando
li “Percy Jackson” pela primeira vez,
e estou curioso para saber minhas opiniões agora, mais de dez anos depois, mas
sempre disse que “A Maldição do Titã”
é o meu favorito, e talvez ele continue sendo, PORQUE É UM LIVRO EXCELENTE.
Rick Riordan se supera ao aprofundar a trama, desenvolver personagens, inovar
no protagonismo, e ainda equilibra a sua narrativa tensa e bem-humorada com um
toque de dramaticidade que está na medida para a proposta infanto-juvenil da
saga. Toda a jornada de Zoë é lindíssima, a construção da história para a
decisão final de Thalia, a conexão de Percy com os seus melhores amigos, a
fragilidade de Luke metido em algo maior que ele…
Simplesmente
sensacional!
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