Vermelho, Branco e Sangue Azul (Red, White and Royal Blue, 2023)
“History,
huh? Bet we could make some”
Alex
Claremont-Diaz e o Príncipe Henry, o filho da presidente dos Estados Unidos e o
príncipe queridinho da Inglaterra, realmente fizeram história. Faz mais ou menos três anos que eu li o livro
original de Casey McQuiston (se te interessar, você pode ler a review clicando
aqui), e não tem como não se encantar por essa história de amor
bonita, emocionante e sexy. Sinto que
a adaptação deixa passar algumas nuances e complexidades da obra original, mas,
como comumente acontece em adaptações, escolhas criativas precisam ser feitas
na transposição de uma mídia a outra e, principalmente, na redução do
material-base para o que cabe dentro de
um filme de aproximadamente duas horas… são, para mim, duas “versões”
igualmente apaixonantes dessa história!
A adaptação
de “Vermelho, Branco e Sangue Azul”
reduz personagens, transforma conflitos e deixa a parte política apenas como
pano de fundo para poder se dedicar ao
romance de Alex e Henry – e é uma divertida comédia romântica, com toques
de emoção e representatividade. Taylor Zakhar Perez e Nicholas Galitzine, que
curiosamente dividiram opiniões na época
em que foram anunciados, conquistaram o público nos papéis do
primeiro-filho e do príncipe, respectivamente, e por um motivo muito simples:
ELES ESTÃO INCRÍVEIS. Além de servirem um visual belíssimo (!), eles captaram a
essência de seus personagens e conseguiram nos conduzir com destreza pelas
emoções propostas pela obra: o amor, o tesão, o pesar… eles estão incríveis do
início ao fim.
Devo dizer
que eu talvez esteja um pouco mais
apaixonado por Alex Claremont-Diaz do que eu já era – embora eu já fosse
muito apaixonado por ele desde que li o livro. Mas Taylor Zakhar Perez (além de
ser um crush meu desde “A Barraca do Beijo”) conseguiu colocar
no personagem o quê de malandragem e deboche de que ele precisava, além de ser
muito divertido e absolutamente fofo quando ele está apaixonado e/ou sendo
romântico. Nicholas Galitzine, por sua vez, entrega um Príncipe Henry cheio de
camadas, mas arrasa ao representar essa dor
contínua que Henry tem dentro de si por sentir que ele nunca vai ser feliz
de verdade, porque nunca vai poder estar com alguém de quem ele goste. Mas o que eles constroem é grande demais
para deixar passar.
E eles precisam lutar.
A construção
do romance é muito bonitinha, embora rápida… todo o conflito que inicia a trama
(a cena do bolo ficou MARAVILHOSA!) acontece ainda antes dos créditos iniciais, e o filme parece “correr” em seu
primeiro ato. Tenho plena consciência de que essas são impressões derivadas do
fato de eu ter lido o livro, mas
sinto que tudo acontece bastante depressa, e cenas foram propositalmente fundidas para economizar tempo de tela,
então vemos Alex e Henry passar um primeiro fim de semana juntos em Londres,
visitar um hospital e, logo, passar meses trocando mensagens de celular em uma
única montagem rápida que nos conduz até o
que eu considero o primeiro grande momento do filme… o momento em que Henry
beija Alex pela primeira vez na festa de Ano Novo.
Poderia
passar horas acompanhando o romance de Alex e Henry, essa é a verdade.
Felizmente, ali o filme dá uma desacelerada (não no mal sentido), nos
permitindo curtir cada momento dos
dois, e é aí que ganhamos tantas cenas que aquecem nossos corações – e,
particularmente, me deixou sorrindo feito um bobo! Da “descoberta” de Alex, que
começa numa conversa com Nora (a fala dele sobre como Henry segurou o seu cabelo é sensacional!),
até o próximo beijo desesperado
deles, e tudo o que eles vivem depois… a maneira como, supostamente, aquilo
deveria ser “casual”, sem que eles de fato “se apaixonassem”, e eles tentam
fazer isso, com algumas cenas picantes (a do jogo de polo é um marco!), mas
eventualmente eles acabam se apaixonando…
E acho que eles nem perceberam que isso
estava acontecendo.
Mas, quando
acontece, como voltar atrás? E para quê?
Uma das
minhas CENAS FAVORITAS do filme, e que mostra toda a fofura de Alex e Henry (e
a incrível química que Taylor e Nicholas conseguiram colocar em tela!), vem
quando Zahra descobre o Henry escondido no armário (ah, a ironia disso!) no
quarto de Alex e, bem… quase tem um treco.
É impressionante como, aqui, “Vermelho,
Branco e Sangue Azul” entrega uma cena que é tanto hilária quanto
absurdamente fofa, porque a Zahra surtando, perguntando quem sabe, e o sorriso
do Henry dizendo para o Alex que “tinha contado para a irmã” é uma das melhores
coisas que eu já vi na vida. E foi bem ali que eu percebi o quanto me fazia feliz ver o Príncipe Henry sorrindo. Todo o
diálogo dessa cena funciona de maneira espetacular, ainda estou encantado!
Outra cena
incrível vem quando, com a descoberta de Zahra, Alex sabe que precisa conversar com a mãe… afinal de contas,
ele sabe que isso pode chegar até a prejudicar a sua candidatura à reeleição. A
conversa de Alex com Ellen Claremont é lindíssima, e eu adoro quando a ficção
traz à tona essas mães que acolhem e amam
seus filhos, porque já tivemos uma época em que todo filme com protagonismo LGBTQIA+ precisava terminar em tragédia,
e mães como a mãe de Alex Claremont-Diaz ou como a mãe de Nick Nelson
FELIZMENTE existem… mesmo que não sejam todas. Mas não é acolhedor ver uma cena
como a de Alex e Ellen?! Ele falando sobre a sua bissexualidade, ela dizendo
que o “B” não é uma letra muda, o abraço dos dois… COISA LINDA!
Quando Alex
convida Henry para um fim de semana em uma casa de campo, ganhamos tanto cenas
que aquecem os nossos corações quanto cenas que o despedaçam totalmente. Amei aquela cena do Henry cantando no
karaokê (e a reação do Alex, aqueles olhinhos totalmente APAIXONADOS, que coisa
mais fofa!), mas logo percebemos que Henry não acha que aquilo possa durar… e
não porque ele não ame o Alex, mas porque as coisas não vão realmente mudar
para ele “depois das eleições”. O sonho, a esperança e a empolgação de Alex em
contraste à expressão cheia de dor de Henry, que se recusa a olhar para ele,
enquanto fala sobre o futuro e está prestes a dizer que o ama… aquilo me
destruiu muito mais do que a cena seguinte, quando Henry vai embora sem se
despedir.
E ignora as mensagens e ligações de Alex
pelos dias seguintes.
Sabe aquele
momento tradicional de comédias românticas que chamamos de “um grande gesto”?
Pois bem, Alex Claremont-Diaz está pronto para isso, porque ele não pensa
perder o homem que ama. Então, ele atravessa o oceano para encontrar Henry e
conversar com ele pessoalmente, se
ele não quer atender às suas ligações ou responder às suas mensagens, e
ganhamos uma cena repleta de sentimento e emoção, conforme Alex faz a
declaração de amor mais linda do mundo e tenta entender o que está acontecendo
e por que Henry está fugindo dele… e naquela noite, que começa no quarto de
Henry e termina em uma cena linda em um museu vazio, os dois decidem fazer história. Afinal de contas, eles
sabem que eles poderiam fazer história,
não?
De maneira
revoltante, os e-mails que Alex e Henry trocaram ao longo dos meses são todos vazados e, é claro, isso se torna um escândalo internacional – é absurdo
que eles sejam “tirados do armário” dessa vez, mas eles sabem que, agora,
chegou a hora de fazer história: não tem mais como recuar. Alex faz um discurso
inspirado, inteligente e revolucionário (que coisa mais perfeita!), e diz
abertamente sobre como ama o Príncipe
Henry, e Henry decide enfrentar a coroa da Inglaterra, porque não é mais
algo que ele queira esconder… sua felicidade não é algo de que ele queira abrir
mão. É muito tocante a força que Alex dá a Henry e, além disso, a força que a
população reunida em apoio a eles do lado de fora do Palácio de Buckingham
também dá aos dois.
Que cena
linda eles olhando pelo vidro o apoio do lado de fora.
Eu amo toda
a sequência final de “Vermelho, Branco e
Sangue Azul”, e como ela nos permite pensar na possibilidade de um mundo
melhor… eu não sei se é realista ou não, talvez não seja, mas sabe de uma
coisa? Não precisa ser. A ficção é, muitas vezes, onde representamos como as
coisas deveriam ser. E eu te garanto
que você pode encontrar uma série de
comédias românticas protagonizadas por casais hétero que dificilmente foram
acusadas de “não serem realistas” – se estamos falando de realezas, falemos de “O Diário da Princesa”, por exemplo.
Ainda assim, a mensagem é clara e lutar pelo que eles sentem vale a pena… Henry
tem o apoio de uma boa parte da população; Alex conseguiu fazer com que a mãe
vencesse no Texas, graças à sua campanha; e, agora, eles poderão de fato mudar vidas.
Fazer história.
A adaptação
de “Vermelho, Branco e Sangue Azul”
funciona muito bem como filme. É um romance bonito e bem atuado, que nos faz
torcer pelos personagens, ainda que seja uma versão simplificada da obra escrita, que consegue se aprofundar mais em
detalhes da política e relações internacionais, bem como explorar elementos
alheios ao romance em si, mas de alguma maneira motivados por ele. De todo modo, é uma comédia romântica deliciosa,
que se junta a outras adaptações de obras LGBTQIA+ que ganhamos agora em 2023,
junto à segunda temporada de “Heartstopper”
e, em breve, à também promissora adaptação de “Aristóteles e Dante Descobrem os Segredos do Universo”. Estamos em
um belo momento para obras voltadas para nós.
O filme é
bonito, envolvente, divertido, sexy e acolhedor… e nos dá esperanças. Nem toda
obra LGBTQIA+ precisa ser excessivamente dramática ou ter um final trágico,
porque foi o que nos habituamos a receber por muito tempo, e esse tipo de filme
ajudou a criar uma geração que não acreditava que os “finais felizes” eram para
eles. “Vermelho, Branco e Sangue Azul”
vem na direção oposta, mostrando que sim podemos ter um “felizes para sempre” e
mais do que isso: vale a pena lutar por
ele. No fim do dia, o que queremos não é poder amar e ser felizes como
somos e com quem escolhemos? Por que deveria ser diferente? Fico muito feliz
com o fato de que comédias românticas LGBTQIA+ com finais felizes estão
ganhando cada vez mais espaço, e que continuem vindo!
Tem muitos
livros que eu ainda quero ver adaptados…
“O Azul Daqui é Mais Azul”, por exemplo.
Para reviews de outros FILMES, clique aqui.
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