A Fantástica Fábrica de Chocolate (Willy Wonka and the Chocolate Factory, 1971)
“Come with
me and you’ll be in a world of pure imagination”
Eu devo ter
assistido à versão de 1971 de “A
Fantástica Fábrica de Chocolate” umas duas ou três vezes na vida… pouco, em
comparação à versão de 2005, que eu devo ter assistido algumas dezenas de
vezes. Ambas adaptações do livro de 1964 de Roald Dahl (que também foi adaptado
em forma de musical para os palcos em 2013, e em breve ganhará uma prequel mostrando a juventude do
excêntrico Willy Wonka), os filmes são visões diferentes de uma mesma história,
que brinca com os elementos fantásticos, divertidos e sombrios do livro
original. O filme de 1971, marcado para sempre na mente e no coração de toda
uma geração, é um verdadeiro clássico do
cinema que, como primeira adaptação do livro, ajudou a popularizar a
história de Charlie Bucket.
Gosto muito
da história de Charlie Bucket, e Peter Ostrum entrega um protagonista
carismático e com uma vida sofrida… Charlie é um garoto pobre que trabalha
entregando jornal para ajudar a família (formada pela mãe e os quatro avós, que
dividem uma cama da qual não se levantam há 20 anos), e que sonha com a
possibilidade de visitar a fantástica fábrica de chocolate do Willy Wonka, o
maior chocolateiro do mundo, quando este anuncia que cinco cupons dourados foram espalhados em barras de chocolate em
qualquer lugar do mundo… a maneira como Charlie Bucket sonha com esse cupom dourado, e como sofre quando descobre, por
exemplo, que o último cupom foi supostamente encontrado (!) é dolorosa, e o
drama do filme é intensificado por cenas na escola e pela música da mãe…
A versão de
1971 de “A Fantástica Fábrica de
Chocolate” traz certa ênfase na maneira como essa campanha do Willy Wonka
foi uma excelente jogada de mercado,
e como o mundo fica ensandecido em
busca dos famosos e raros cupons dourados, em cenas muito boas que nos são apresentadas através de matérias no jornal e
na televisão (a cena do leilão e a cena do sequestro: icônicas!), conforme
vamos conhecendo as crianças que encontraram seus cupons dourados: Augustus
Gloop, um garoto guloso que não faz nada além de comer; Veruca Salt, uma garota
competitiva apaixonada por chiclete; Violet Beauregarde, provavelmente a mais mimada de todas as crianças; e
Mike Teevee, um garoto que não sai de frente da televisão, se veste como caubói
e tem uma arma de brinquedo…
Todas crianças bem desprezíveis… a não ser
por Charlie Bucket, o detentor do último cupom.
Confesso que
o título dado ao filme em inglês, “Willy
Wonka and the Chocolate Factory”, me incomoda por tirar de Charlie um
protagonismo que também é seu, como
foi intencionado por Roald Dahl no título original do livro: “Charlie and the Chocolate Factory”.
Ainda assim, é inegável que Gene Wilder rouba
o filme para si a partir do momento em que ele entra em cena e é fascinante
assisti-lo! Depois de uma introdução importante e emotiva, finalmente
conhecemos o famoso Willy Wonka, e ele é um homem esperto e criativo, exótico,
mas também com toques de sarcasmo e sadismo que eu não consigo não achar incrível. E quando ele leva o grupo
ainda completo de visitantes à sala mais importante da fábrica, ao som de “Pure Imagination”… bem, aquilo é
CINEMA!
E Gene
Wilder entende as sutilezas e a complexidade do personagem de forma incrível.
Conforme as
crianças vão caindo uma a uma nas armadilhas pensadas com antecedência pelo
chocolateiro, eu dou boas risadas com as “tentativas” nada empenhadas de Willy
Wonka de impedi-los, dizendo “Don’t!
Stop!” da maneira mais hilária possível, apenas por obrigação e sem
qualquer ênfase real. E os famosíssimos Oompa Loompas têm uma musiquinha a
cantar para cada criança que se despede do grupo… Augustus Gloop, que quase se
afoga no rio de chocolate, que não deveria ser tocado por mãos humanas; Veruca
Salt, que come um chiclete que equivale a uma refeição, mas que ainda não
estava pronto; Violet Beauregarde, que quer um ganso gigante que bota ovos de
ouro e acaba pesada como “um ovo ruim”; e Mike Teevee, que é encolhido ao ser
“transmitido” pela TV.
Há alguma
influência de “Alice no País das
Maravilhas” em algumas sequências do filme, como quando o grupo caminha por
um corredor que parece ficar menor a cada passo, e mesmo, talvez, na cena de
que eu menos gosto no filme, quando
Charlie e o Avô Joe bebem, sem autorização, uma bebida que os faz flutuar até o
teto… eu realmente não gosto dessa
cena. Sinto que Violet Beauregarde e Mike Teevee eram crianças bem ruins mesmo, mas Augustus Gloop, por
exemplo, não fez nada muito pior do que o Charlie fez pegando aquela bebida que
Willy Wonka expressamente dissera que
não era para ser tocada, e mais do que “humanizar” o personagem para mostrar
que ele também não é perfeito, eu
acho que a cena estraga um pouco a imagem de Charlie Bucket, e isso me
incomoda.
Ainda que
seja um teste de Willy Wonka, no qual ele passa no final.
Afinal de
contas, aqui, Charlie Bucket quase perde o “grande prêmio” do Willy Wonka,
porque o fato de ele ter tomado aquele refrigerante sem autorização o torna quase tão ruim quanto as demais crianças,
mas quando Willy Wonka expulsa ele e o avô da fábrica, irritado com “um dia
inteiro perdido”, Charlie volta e entrega para ele o doce que um suposto rival
tinha pedido que ele conseguisse, em troca de dinheiro, provando que, no fim
das contas, ele faz as escolhas certas e
tem bom-caráter. Talvez seja isso o que o filme queira dizer, no fim?
Talvez o Charlie tenha errado, sim, mas um erro não precisa condená-lo para
sempre, e a cada escolha que fazemos, temos a oportunidade de fazer a escolha certa.
Surpreendentemente, Charlie e Willy Wonka compartilham momentos bonitos no
Wonkavador.
É… ele não o
chama de “O Grande Elevador de Vidro”. Fazer
o quê?
Preciso ser
honesto comigo mesmo, e expressar minha opinião que talvez seja polêmica:
embora eu goste muito do filme de 1971 e ele seja muito importante para a história, eu gosto mais da versão de 2005
de “A Fantástica Fábrica de Chocolate”.
Além de ser uma adaptação muito próxima do livro original de Roald Dahl, a
versão do Tim Burton explora com maestria o
lado mais descaradamente sombrio, que é evidente em várias passagens do
livro, e eu também gosto muitíssimo do visual do filme de 2005 (embora prefira
os Oompa Loompas de 1971), do excesso de cores e da grandiosidade da fábrica…
além disso, eu AMO o primeiro ato do filme, que explora tão bem a relação de
Charlie com a família e a condição em que eles vivem, e não existe uma vez que
eu veja o filme que eu não chore…
É bonito, é
emocionante, é forte. Que contagem de história fabulosa!
Mas são dois
grandes filmes, duas visões dessa incrível história de Roald Dahl!
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