Doctor Who (2ª Temporada, 1964) – Arco 010: The Dalek Invasion of Earth, Parte 2

“Goodbye, Susan. Goodbye, my dear”

Concluímos o segundo arco da segunda temporada de “Doctor Who” com a primeira grande despedida da série: é um momento bonito, triste e que quase nos pega de surpresa. Desde que as aventuras do Doctor começaram em novembro de 1963, o Doctor ganhou a companhia de Barbara e Ian, os professores de Susan, nas suas aventuras pelo espaço e tempo, mas Susan sempre esteve ao seu lado… neta do Doctor, Susan viaja com o avô há sabe-se lá quanto tempo, e ela é a primeira companion a se despedir quando ela encontra um lugar ao qual sente que pertence – algo com que ela sempre sonhou. “The Dalek Invasion of Earth” é uma história marcada, então, pela despedida de Susan, enquanto Barbara e Ian continuam ao lado do Doctor na TARDIS.

Afinal de contas, eles querem voltar à Londres do Século XX.

“The Dalek Invasion of Earth” é uma história excelente. Além de trazer de volta os vilões mais queridos da primeira temporada de “Doctor Who”, é uma história bem conduzida que se aproveita de cenas externas interessantes e muita ação, enquanto o Doctor, seus companions e toda a resistência humana tentam impedir os Daleks de completar um plano que é muito mais inusitado do que podíamos ter pensado: os Daleks estão escavando o mais fundo que conseguem rumo ao centro da Terra e têm um plano para torná-la pilotável (!), porque pretendem sair pilotando a Terra por todo o universo… os estragos que isso traria para o Planeta Terra são mínimos se pensamos em todo o caos que isso traria para o equilíbrio do universo como um todo!

Gosto de como os personagens têm histórias paralelas que se entrelaçam e fazem parte de uma trama maior, mas que podem ser acompanhadas com certa independência… vemos Ian se juntar a Larry em uma jornada até as minas dos Daleks, onde eles encontram vários humanos escravizados e um “bichinho de estimação”, o Slyther, que se alimenta de carne humana e protege as minas contra fugas e invasões – e, enquanto fogem do Slyther, Ian e Larry acabam em um elevador que os leva até o centro dos planos dos Daleks, onde Larry encontra Phil, seu irmão, inteiramente convertido em um Roboman. Uma vez lá embaixo, Ian é de extrema importância para tentar impedir o plano dos Daleks de funcionar, sabotando tudo de dentro da cápsula.

Enquanto isso, Barbara e Jenny estão tentando chegar às minas em busca de Ian e Larry, correndo perigos enquanto atravessam a cidade, e agindo de acordo com um plano elaborado de Barbara – que, convenhamos, é a melhor dos três companions que o Doctor tem nessa primeira era do programa. Barbara consegue se aproximar dos Daleks anunciando que “tem informações sobre uma rebelião iminente dos humanos contra os Daleks”: seu plano é conseguir conversar diretamente com o Black Dalek, o líder dos Daleks, e distraí-lo por tempo o suficiente para que Jenny possa sabotar o painel de controle… são ações simultâneas que vão, pouco a pouco, minando os esforços dos Daleks, e configuram avanços importantes, mesmo que Barbara e Jenny acabem descobertas.

O Doctor, Susan, David e Tyler, por sua vez, vagam pelos esgotos da cidade rumo ao centro de operações dos Daleks, com direito ao Doctor dando uma bengalada em um Roboman (!) e salvando Barbara, conforme o grupo começa a se reunir. Eu amo como “Doctor Who” consegue dividir o seu protagonismo, e como o Doctor está incrível tendo uma ideia de como imobilizar os Daleks, o que pode ser apenas temporário, mas os Daleks não têm a menor chance contra a nova ordem que eles dão aos Robomen: eles são ordenados a se voltar contra os Daleks. Então, tudo vira um caos divertido, com direito a um Dalek sendo carregado por Robomen como em um show de rock (!), e toda uma confusão que termina com o plano sabotado e a turma reunida…

Grande parte dessa história, no entanto, é também sobre Susan estar encontrando uma casa… nos primeiros episódios de “The Dalek Invasion of Earth”, Susan comentara com David sobre como nunca sentiu que pertencia a algum lugar, e ele dissera que um dia ele encontraria esse lugar e “pararia de sentir a necessidade de viajar”, e percebemos que ela está encontrando esse lugar ao seu lado. Além de ela estar se apaixonando por David (o que é bem rápido, é verdade, mas temos que relevar isso e confiar nesse romance através de cenas como aquela em que David a provoca com um peixe e eles se beijam pela primeira vez), ela sente que parece uma boa ideia isso de “reconstruir um planeta do zero”, quando David fala sobre recomeçar a Terra depois de vencerem os Daleks…

Passei uma boa parte dos episódios finais do arco acreditando que Susan decidiria ficar para trás, mas embora seja isso o que ela quer, ela não teria coragem de deixar o avô… afinal de contas, eles sempre viajaram juntos. Sabendo disso, e sabendo que a neta sempre ansiara por um lugar que pudesse chamar de “sua casa”, o Doctor resolve deixá-la em uma cena que eu achei bastante emocionante: o Doctor fecha as portas da TARDIS com a Susan para fora, para que ela não possa abrir mão do que verdadeiramente quer, e ele conversa com ela lá de dentro, falando sobre como sempre cuidou dela e, em troca, ela também sempre cuidou dele, mas agora é a hora de ela viver a sua vida… parece triste, mas é um ato altruísta do Doctor e a cena é lindíssima.

Assim, nos despedimos de nossa primeira companion.

Até mais, Susan!

 

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