Estranha Forma de Vida (Strange Way of Life, 2023)
Romance LGBTQIA+ no Velho-Oeste.
Protagonizado
por Ethan Hawke e Pedro Pascal (com Jason Fernández e José Condessa
interpretando seus personagens na juventude), “Estranha Forma de Vida” é um curta-metragem de quase 30 minutos,
escrito e dirigido por Pedro Almodóvar e lançado em 17 de maio de 2023, no
Festival de Cinema de Cannes. Rápido, intenso e reflexivo, o curta chamou a
atenção por ser uma história LGBTQIA+ ambientada em um cenário que nos remete
ao Velho-Oeste, brincando com elementos e um gênero que são estereotipadamente
colocados como “símbolos da masculinidade” para contar a história de amor
dramática e quase trágica entre dois homens, que viveram dois meses intensos há
25 anos – e que, desde então, jamais conseguiram esquecê-los.
Gosto muito
de como a história de “Estranha Forma de
Vida” é rica – e poderia facilmente ter sido a premissa de um
longa-metragem. Silva retorna em busca de Jake, agora um xerife, 25 anos tarde demais, e tenta reviver aquilo que eles compartilharam
naqueles dois meses no México. Depois de bastante bebida e tesão, eles
compartilham uma nova noite de amor e sexo, mas que não parece o (re)início de
uma história de amor. Afinal de contas,
muito tempo se passou, muita coisa mudou… o personagem de Jake é bastante
complexo, a meu ver, porque inicialmente ele parece “resistir” ao Silva, mas
eventualmente percebemos que, por mais que ele esteja tentando negar o que sente, ele o faz porque ele
não quer permitir machucar-se mais uma vez…
Ele queria
que Silva tivesse voltado antes.
Além disso,
Jake não pode deixar de pensar que Silva só retornou por um motivo: para impedi-lo de condenar o seu filho…
e, bem, ele não estava inteiramente errado. Afinal de contas, o filho de Silva
está sendo acusado de assassinar a esposa do irmão de Jake, e Silva acredita
que pode convencê-lo a não prendê-lo, mas não pode – e, ao perceber isso, ele
cruza o deserto novamente para ajudar o filho a escapar, resultando em uma
sequência dramática (e que tem tudo a ver com o que vemos na ficção de
Velho-Oeste), na qual Jake, Silva e Joe, o filho de Silva, estão com as armas
apontadas uns para os outros, e nos perguntamos quem vai atirar primeiro, quem
vai conseguir fugir, quem vai sobreviver… e
Silva precisa atirar em Jake para salvar a vida do próprio filho.
Mas ele
atira de uma maneira que não vá matá-lo.
Curioso como
as relações humanas têm camadas às vezes incompreensíveis. Talvez a motivação
de Silva para buscar Jake novamente depois de tanto tempo tenha sido egoísta,
mas isso quer dizer que ele não sentia nada por ele? A maneira como Jake e
Silva revivem, em pensamento, tanto a noite anterior quanto o começo da
história deles há 25 anos (que quente
e que gostosa toda aquela cena dos
primeiros beijos de Jake e Silva, na adega!) mostra que os sentimentos estão ali… será que tempo demais se passou para que
eles possam resgatar isso? Será que
Silva cruzou uma linha séria demais ao atirar em Jake? Ou será que ele
finalmente vai conseguir mostrar a Jake o que dois homens podem fazer vivendo
sozinhos em um rancho? É o que ele espera, ao menos.
“Estranha Forma de Vida” é emocional,
íntimo e sincero. Não tem um final redondo e conclusivo, por exemplo, e eu
adoro essa “imperfeição” da última cena, que deixa o futuro em aberto, porque
cada espectador fará uma leitura diferente da relação de Jake e Silva e da
situação que os reuniu 25 anos depois… não é trágico e infeliz como vimos em
produções LGBTQIA+ por tanto tempo, tampouco é colorido e divertido como
estamos vendo em comédias românticas LGBTQIA+ recentes (e que são muito
bem-vindas!). É algo mais cru, com o tom certo de melancolia e esperança que,
por conseguinte, gera sua própria beleza singular – e, quem sabe, deixa o
espectador pensativo quando os créditos
aparecem em tela… foi uma experiência interessante!
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