Os Fantasmas Se Divertem (Beetlejuice, 1988)
Beetlejuice. Beetlejuice. Beetlejuice.
Clássico da
Sessão da Tarde na década de 1990, “Os
Fantasmas Se Divertem” (e eu vou dizer uma coisa com a qual talvez nem
todos concordem: o título em português é
muito mais legal do que o simplório “Beetlejuice”,
que nem é o meu personagem favorito no filme nem nada) é um filme dirigido por
Tim Burton e lançado em 1988… divertido, irreverente e criativo, o filme marcou sua presença no imaginário popular e na
cultura pop desde o seu lançamento, ganhando um desenho animado entre 1989 e
1991, com quatro temporadas (!), diferentes jogos de videogame, uma adaptação
como musical da Broadway em 2019, e ainda está prestes a ganhar uma sequência
em setembro de 2024, com alguns nomes do elenco original retornando para os
seus papeis.
O filme é
uma delícia! É claro que eu sou suspeito para falar porque eu gosto muito dessa
atmosfera bizarra que é
característica de fácil reconhecimento nos filmes dirigidos por Tim Burton,
também responsável por sucessos como “Edward
Mãos-de-Tesoura”, de 1990, a segunda versão de “A Fantástica Fábrica de Chocolate”, em 2005 e “Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet”, de 2007, só para
citar três dos meus favoritos no currículo do diretor. “Os Fantasmas Se Divertem” tem a identidade de Tim Burton, essa
estranheza que se tornou familiar nos últimos mais de 30 anos, e que acaba
sendo uma experiência visual interessante e diferente… com um clima
surpreendentemente leve, “Beetlejuice”
mescla elementos do terror a um filme que é, primordialmente, uma comédia.
Adam e
Barbara Maitland são um casal que está contente em passar duas semanas de férias sozinhos em casa, podendo trabalhar na
redecoração de uma casa grande e aconchegante “no meio do nada”, ou em uma
elaborada maquete da cidade que deixaria o Doc Brown orgulhoso. Até que, bem… eles morrem. Eu preciso dizer que a primeira parte do filme é,
curiosamente, a minha favorita, porque eu realmente amo o Adam e a Barbara, e
amo acompanhar com eles os eventos que levam às suas mortes e, principalmente,
a construção da compreensão conforme eles
entendem que estão mortos… quer dizer, a aparição do “Manual para os
Recém-Falecidos” é um toque tão SENSACIONAL que sempre me coloca um sorriso
sincero no rosto. Que grande cena!
Presos à
casa na qual moravam enquanto estavam vivos e da qual não queriam se desfazer,
Adam e Barbara precisam encontrar uma maneira de conviver com os vivos que se mudam para lá, os Deetz,
ou então encontrar uma maneira de “colocá-los para correr” – afinal de contas,
eles são fantasmas, talvez eles
possam assustá-los… não? O filme constrói humor em cima de conceitos bacanas e
situações bizarras, conforme os recém-falecidos vão entendendo como é estar morto… e como ser um “bom”
fantasma que sabe assustar vivos. Tem toda a burocracia do além-vida (!), as
falhas constantes em conseguir provocar sustos, a surpresa de serem vistos por
Lydia Deetz, a filha estranha (e baseada na Wandinha?) do casal que se mudou
para a casa, e um bioexorcista…
Que pode ser
a solução dos seus problemas?
Betelgeuse,
o bioexorcista que supostamente pode se livrar dos vivos (!), acaba não sendo
lá de grande confiança… tampouco de grande ajuda, e Adam e Barbara acabam tendo
que lidar com mais uma coisa na vasta lista deles: a) os vivos que “invadiram”
a sua casa e se recusam a ir embora; b) a adolescente que consegue vê-los e que
parece bastante curiosa com todo esse lance de “fantasmas”, embora ela não
tenha medo deles; e, agora, c) um fantasma ilegal e traiçoeiro que quer ficar
solto no mundo para fazer sabe-se lá o quê, e que Barbara consegue “prender” no
cemitério da maquete da cidade construída pelo marido, ao dizer o nome de
“Betelgeuse” três vezes. Mas ele conseguiu convencer alguém a soltá-lo uma vez…
ele pode fazer de novo.
Mortos
gentis e muito carismáticos, uma adolescente “diferente”, mas de coração bom e
querendo atenção, um fantasma louco e um tanto tarado, mas com poderes
impressionantes e visuais interessantes e divertidos repletos de efeitos
práticos que envelheceram muito bem (as partes em CGI já nem tanto, mas isso
não atrapalha em nada a experiência do filme!) compõem “Os Fantasmas Se Divertem” e justificam seu sucesso. Assim como
outros clássicos da Sessão da Tarde com suas cenas icônicas (como Ferris Bueller
cantando “Twist and Shout” em “Curtindo a Vida Adoidado”), o filme
entrega sequências maravilhosas como Adam e Barbara assombrando Deetz e seus
convidados com uma “dancinha” (amo essa cena!) ou todas as loucuras finais de
Betelgeuse…
No fim, se
livrar de Betelgeuse acaba sendo o mais
importante que Adam e Barbara têm a fazer, antes que eles machuquem alguém…
conviver com os Deetz pode não ser a pior
coisa, até porque eles chegam a uma espécie de “acordo”, no fim das contas?
Posso ser um bobo emocionado, mas algo que me marca demais em “Os Fantasmas Se Divertem” é a relação
que Adam e Barbara estabelecem com Lydia: afinal de contas, ela sempre foi
infeliz e precisava de atenção, e eles são um casal que sempre sonharam em ter
filhos e que meio que “acolhem” Lydia Deetz… aquela cena da Lydia voltando da
escola com os dois fazendo perguntas sobre como ela foi nas provas para as
quais eles estudaram a semana inteira (!) e ela flutuando e dançando? Muito
fofa!
Mortos? Sim.
Infelizes? Jamais.
Acredito que
diferentes pessoas terão diferentes impressões em relação ao filme, o que, é
claro, é natural… mas o Betelgeuse não é, para mim, o grande destaque de “Os Fantasmas Se Divertem”, embora o
Michael Keaton arrase no papel e o personagem dê título ao filme na versão original
– eu não acho que ele tenha o mesmo apelo e o mesmo carisma das maravilhosas
irmãs Sanderson, de “Abracadabra”,
por exemplo. Ainda assim, “Os Fantasmas
Se Divertem” é um filme extremamente competente que entrega com maestria
aquilo que sua premissa propôs: fantasmas
descobrindo como ser “recém-falecidos” e lidar com vivos em “sua” casa. É
propositalmente estranho e irreverente, uma comédia “inesperada”, astuta e, certamente,
com personalidade!
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